Postado em
Treinamento de Força
Surgida na Europa, no século 19, como forma de hipertrofiar os músculos de “cavalheiros” que quisessem deixar o corpo com uma aparência digna de exibição, a musculação foi, durante muito tempo, relegada a imagem de atividade física mais preocupada com a estética do que com a saúde. Em sua versão mais “radical”, o halterofilismo, a prática transformou-se em treinamento para os Jogos Olímpicos a partir de 1896, quando o levantamento de peso foi incluído na lista dos esportes do evento – mas somente para homens, o que só foi mudar muito recentemente, em 2000. “Foi a partir de 1900 que o treinamento com pesos progrediu, com a invenção das barras e anilhas, que permitiram ajustes mais rápidos de pesos nos equipamentos”, afirma a mestre em biodinâmica do movimento pela Universidade de São Paulo (USP) Maria Claudia Vanícola.
Segundo a especialista, a conquista de adeptos – atletas e não atletas – ocorreu quando treinadores esportivos perceberam a importância do levantamento de pesos no treinamento de equipes esportivas e também na própria educação física. “No Brasil, uma grande divulgação da musculação para o público voltado à qualidade de vida ocorreu com o advento das academias, nos idos de 1980”, diz Maria Claudia. “Naquela época estavam no auge os programas de condicionamento físico voltados à melhoria da resistência aeróbia, reflexo da divulgação dos trabalhos do médico americano Kenneth Cooper e do desenvolvimento de programas que surgiram nos Estados Unidos, como a ginástica aeróbia e os workouts [palavra em inglês equivalente à nossa “malhação”].”
Está Liberado
Depois da fama conseguida entre os freqüentadores de academias, a musculação começou a ter suas propriedades estudadas cientificamente, o que ajudou na difusão da prática entre aquelas pessoas cuja atividade física é sinônimo de saúde e não de competição ou estética. A chancela de saudável, no entanto, só foi definitivamente conquistada quando um público em especial foi “liberado” pelos médicos e profissionais de educação física a praticar a musculação: a terceira idade. “Durante um bom tempo, por conta de preconceitos dos pesquisadores, acreditava-se que os efeitos do treinamento de força para idosos seria inefetivo”, explica Maria Claudia. “Entretanto, isso vem mudando, pois os trabalhos científicos publicados mais recentemente têm mostrado que o treinamento de força muscular com maior intensidade pode trazer benefícios aos idosos.”
De acordo com a especialista, um programa para a essa população deve basear-se no desenvolvimento dos grupos musculares que fazem a manutenção da postura ereta, os chamados músculos antigravitacionais, como o quadríceps (músculo anterior na coxa) e os abdominais, por exemplo. “Mas deve ser dada ênfase no desenvolvimento da resistência de músculos que apresentarão maiores defasagens de força ao longo da vida”, recomenda a profissional. “Como é o caso dos músculos dos membros inferiores (pernas), pois ao longo do tempo, as pessoas ficarão mais na posição sentada.” O treinamento conhecido como potência – força versus velocidade – também deve ser valorizado. “Obviamente que isso somente após um período de adaptação aos exercícios”, alerta Maria Claudia. “Pois como há perdas na condução do sinal nervoso para a musculatura [por conta da idade], os movimentos tornam-se mais lentos.”
Mas não se Esqueça...
Mesmo estando comprovados os benefícios da musculação na terceira idade (veja boxe Músculos em dia), é preciso levar em consideração que a idade, muitas vezes, traz alguns problemas que não combinam com tais exercícios. Diante de um estado de saúde mais delicado, convém pegar mais leve na malhação ou até mesmo deixar um pouco os pesos de lado. “Quando há lesões músculo-esqueléticas e doenças articulares como a osteoartrite, as cargas do treinamento de musculação e a amplitude em que os exercícios são realizados devem ser limitadas pelas sensações dolorosas”, ensina a pesquisadora. “Deve-se observar também fatores relacionados à segurança cardiovascular, portanto o treinamento, principalmente no início, deve ser realizado com cargas menores, num maior número de repetições, o que caracteriza um treinamento de resistência e não de hipertrofia.”
E, claro, vale sempre lembrar que é preciso que o futuro praticante – não somente os idosos, isso vale para todos – se submeta a uma avaliação médica antes de começar a prática de qualquer atividade física. “Isso é importante para que a pessoa saiba quais são suas reais condições de saúde, se é hipertensa, se tem artrite, osteoporose, fibromialgia etc.” Em seguida, a dica de Maria Claudia é que a pessoa procure um profissional de educação física para se encarregar das avaliações físicas e funcionais necessárias a fim de que se possa realizar um plano de treinamento adequado à capacidade e as limitações do praticante. “Dessa forma se evitam comprometimentos”, conclui a especialista.
• Aumenta a força muscular
• Melhora a postura
• Melhora o sono e o bem-estar
• Melhora a capacidade funcional, ou seja, fica mais fácil realizar tarefas cotidianas, como carregar pesos, levantar e abaixar etc.
• Melhora a mobilidade e estabilidade articular
• Desacelera o processo de perdas de fibras (no idoso)
• Aumenta a densidade óssea (ou seja, ajuda a combater a osteoporose)
• Diminui a pressão arterial
• Aumenta o metabolismo de carboidratos (o que é importante nos casos de diabetes, por exemplo)
• Aumenta a coordenação motora
• Fortalece o sistema músculo-esquelético
