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Estresse – De quem é a culpa?

por Érika Mourão Trindade Dutra

Recebi o convite para escrever este texto três dias antes de entregar meu trabalho de conclusão de curso (TCC) na área de administração de empresas. A sensação foi dúbia: um misto de satisfação e de pânico por temer não dar conta do recado, pelo curto prazo. O fato é que fiquei ainda mais estressada do que já estava. Se em variadas situações flagrava a mim mesma repetindo a frase que insistentemente ecoava em meus pensamentos: “Preciso terminar o TCC”, “preciso terminar o TCC”; depois do convite ela passou a ser: “Preciso terminar o TCC... e escrever o texto”, “preciso terminar o TCC... e escrever o texto”. Tudo isso, é claro, somado aos diversos “precisos” ligados à vida pessoal, à família e ao trabalho.

Como forma de acalmar a mim mesma pensava que estar em estado de alerta, uma das fases do estresse, sob pressão do tempo e com a adrenalina “a mil” era uma maneira de estar no clima para escrever com mais propriedade. Mas a verdade é que, assim como muitos dos que lêem estas linhas, em dias de “apenas” 24 horas e anos com míseros 365 dias, vivia a complexa e ilusória missão de exercer (bem!), ou ao menos tentar, inúmeros papéis simultâneos: mãe atenta e carinhosa, esposa amorosa, mulher moderna e vaidosa, filha exemplar, irmã presente, profissional competente, amiga dos amigos, leitora atualizada, cidadã atuante... Possível não se estressar? Qualquer um que tentasse, já estaria na segunda fase do estresse, a da resistência.

Embora não seja especialista em estresse, sei que ele é necessário à vida. Geralmente o associamos a algo maléfico, mas o estresse que nos ajuda a enfrentar desafios, realizar coisas boas, que nos coloca de prontidão para reagir em situações de perigo, competição ou necessidade de superação, é positivo. Ele é negativo quando, por motivos físicos, emocionais ou sociais, ocorre de forma persistente desencadeando problemas de saúde, diminuindo a qualidade de vida e, conseqüentemente, reduzindo sentimentos de prazer e realização. Esta terceira fase, a mais grave, é a da exaustão.

Passamos o ano todo administrando nosso estresse e, nesta época, começamos a fazer balanços. Só não fechamos para balanço porque não podemos perder tempo. Ah, o tempo! Este ingrato, este culpado... Afinal, “alguém” tem que levar a culpa. Por que não pára? Por que corre tão veloz? Nem no melhor de nossa forma física conseguiríamos alcançá-lo. Adiando os planos de início daquela caminhada no parque ou de qualquer programa de atividade física (pois estamos cansados de saber de sua importância) aí é que não tem jeito... Esqueça! Em nossos balanços, geralmente, avaliamos o que fizemos ou não e, exaustos, renovamos intenções para o ano seguinte certos de que daremos conta. Sem deixar os planos de lado, o que proponho é mais cuidado com nosso estilo de vida. Um olhar ou escuta mais atentos para os sinais de nosso sábio corpo, que sempre sinaliza quando extrapolamos os limites de sua resistência física ou emocional.

Boa parte do que se recomenda para evitar ou aliviar o estresse negativo pode ser encontrado nas unidades Sesc: alimentação saudável, atividades físicas, contato com a natureza, opções diversificadas de lazer, viagens, apresentações artísticas, ambientes agradáveis propícios ao convívio, fruição, diversão e descanso. Esta diversidade favorece a escolha, o que significa respeito às diferentes pessoas e reconhecimento de seus diferentes interesses. Geralmente gostamos das opções, mas dizemos que o vilão do tempo não nos permite desfrutá-las.

Na administração diária de nosso estilo de vida é preciso ter discernimento nas escolhas. Dizer que estamos sem tempo ou “numa correria” virou lugar comum. Então, ao menos por originalidade, esqueça o calendário e reveja suas escolhas hoje. Com uma pitada de bom humor, ficará ainda melhor.

Adeus ano velho... e que venha 2009!

P.S. Entreguei o TCC e já marquei minhas férias. Ufa!!!

 

Érika Mourão Trindade Dutra, professora de educação física, é gerente do Sesc São Caetano.