Novas percepções
Projeto do Sesc Consolação propõe
reflexão acerca dos sentidos do ser humano
Em
Neuromancer, obra escrita há mais de 20 anos pelo norte-americano
William Gibson (a Editora Aleph tem uma edição traduzida
de 2003), Case, um hacker de uma cidade norte-americana destruída
pela Terceira Guerra Mundial, após roubar códigos importantes,
recebe como punição uma toxina implantada em seu sistema
nervoso que passa a impedi-lo de "freqüentar a euforia incorpórea
do ciberespaço". Em outras palavras, a condenação
do personagem era limitá-lo aos sentidos da carne - visão,
audição, olfato, tato e paladar - e privá-lo das
demais sensações que a realidade desse mundo virtual poderia
oferecer. Foi com base nesse universo, de exploração das
benesses e dos perigos da era digital, e da reflexão sobre os limites
da percepção humana (ou a falta deles), que o Sesc Consolação
criou o projeto Percepções e Sentidos. Uma programação
multidisciplinar (consulte aqui
a programação) de fevereiro a julho, abordará
os modos perceptivos e a sensorialidade humana nos dias de hoje. A metodologia
envolve exposições, shows musicais, intervenções
na arquitetura da unidade, oficinas e palestras. "Inicialmente o
foco era 'os cinco sentidos'", explica Sérgio Luís,
técnico da coordenação de programação
da unidade. "Nós queríamos um conceito que pudesse
permear a programação toda, seus vários núcleos
- musical, esportivo, criança, idoso, artístico, alimentação,
expressão corporal - e envolver toda a unidade, tanto no conceito
do projeto quanto na discussão da programação, tendo
em perspectiva o primeiro semestre de 2006, de fevereiro a julho".
O projeto vai mudar
o foco a cada mês (Leia
mais: Próximos sentidos). Em fevereiro, o tema será
Corpo, Comunicação e Relações Midiáticas,
e entre as atividades o destaque vai para o ciclo de palestras que tratará
das relações com a tecnologia. "Discutirei a respeito
do nosso cotidiano cíbrido [resultante do cruzamento, ou hibridação,
do real com o ciberespaço], isto é, da realidade misturada
que permeia vários dos nossos atos", explica Lucia Leão,
professora do curso de Multimeios da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP), no qual ministra aulas da disciplina Narratividade,
Roteirização e Processos Digitais. "Quando realizamos
uma compra, por exemplo, nosso gesto também repercute no banco
de dados dos sistemas bancários, no sistema da loja etc. Somos
mapeados constantemente por satélites e códigos de barras.
Assim, vivemos uma realidade misturada, que envolve tanto o mundo material,
físico, como os dados digitais."
É, o assunto é complexo, mas a saída encontrada pelos
técnicos da unidade privilegiou ações concretas,
que vão mexer com as percepções, sim, mas de maneira
lúdica e interativa. "Na parte esportiva, por exemplo, os
instrutores pensarão em atividades e aulas diferentes chamando
a atenção para novas formas de percepção,
de sensações", comenta Sérgio Luís. "Como
uma aula de ginástica aeróbica sem sair do lugar, ou uma
aula de step com uma base gelatinosa. Assim, poderemos discutir as sensações
musculares diferentes que surgirem e reavaliar nossos procedimentos."
Já o setor de alimentação está preparando
um cardápio diferente, que vai destacar novos aromas, cores e sabores.
"Serão convidados profissionais da área de alimentação
para bate-papos, orientações e degustações",
avisa Sérgio. A professora Lucia Leão conclui dizendo que
o evento do Sesc tem grande importância, pois "vai favorecer
um despertar da consciência entre os participantes". Segundo
ela, toda vez que um homem comum é convidado a participar de trabalhos
interativos e colaborativos, observa-se que muitos dos mais complicados
conceitos teóricos se tornam claros. "Nada se compara a uma
vivência", afirma.

Próximos
sentidos
Projeto
segue durante todo o semestre propondo novas experiências
O
projeto Percepções e Sentidos falará, em
março, sobre a sensorialidade nos processos educativos;
vai criar, em abril, uma brinquedoteca na unidade; e terá
o corpo como tema, em maio. Será quando poderemos
ter uma série de atividades focando práticas corporais
alternativas, como ioga, RPG e diversas técnicas de massagens
para vários tipos de público, adianta Sérgio
Luís, técnico da coordenação de programação
da unidade.
Na
parte de música, a cada mês uma programação
especial será preparada pelo Centro Experimental de Música
(CEM), da unidade. Podemos pensar em uma atividade musical
que envolva deficientes auditivos, por exemplo. Ou ainda a percepção
da música por meio de materiais alternativos, diz
o técnico. Entre as oficinas, haverá o pessoal do
estúdio Brazil Toonz ensinando técnicas de animação
na sala de Internet Livre, e o artista multimídia Roger
Tavares falando sobre o mundo dos games e mostrando como
ele funciona. É só ficar ligado, com todos os sentidos,
na programação da unidade.
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