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REVISTA E - fev 2006

 

 

A música brasileira agradece

por Juliano de Souza


Ilustrações: Marcos Garuti



Meu fascínio pela música brasileira começou bem tarde na vida. Não tive muitas chances de conhecer os estilos e sons genuinamente brasileiros, pois minha irmã – na época uma autêntica adolescente rebelde – adorava escutar em nosso “três-em-um” somente artistas ligados à música pop internacional, abusando do seu autoritarismo de irmã mais velha e me obrigando a escutar incessantemente os grandes astros que despontavam no cenário pop mundial. MPB nem pensar!

Anos mais tarde, em pleno 3° colegial, no auge da minha efervescência juvenil, uma amiga me presenteou com uma fita cassete em que selecionara um repertório com a grande nata da MPB – do tradicional à modernidade no cenário musical brasileiro. De Tom Jobim a Chico Science, passando por Cartola, Clara Nunes e Marisa Monte, pude escutar com bastante cautela as canções contidas na fita e perceber que a música brasileira não era restrita, como eu havia imaginado. Havia consistência, conteúdo sobre a diversidade de artistas e estilos que desfilavam por aquele repertório. Atento ao crescente leque de opções musicais do país, comecei a pesquisar sobre os principais gêneros e movimentos mais significativos, não me esquecendo de sempre registrar – em vídeo ou áudio – as performances desses artistas em momentos tanto criativos quanto tensos. Com essa bagagem de informações que aos poucos eu adquiria, me vinha uma inquietação de contribuir para que as pessoas compreendessem que a música tocada nas rádios e TVs brasileiras estava longe de refletir a imensa diversidade sonora do país. Essa minha vontade (e curiosidade também, diga-se de passagem) de mostrar o caráter de uma produção artística brasileira nas mais variadas linguagens tornou-se real tempos depois, quando passei a integrar a equipe de programação do Sesc, que se pauta por uma política de criar ações integradas no campo da arte e da cultura de forma a encorajar talentos emergentes ou dar espaço a artistas consagrados, tudo com o propósito de elevar o nível da discussão sobre as artes, a música, o teatro, a dança e as artes plásticas dentro da comunidade. Esse trabalho diário proporciona ao profissional o aprimoramento pessoal, ao tentar mapear e colaborar para a difusão dessa produção.

Um exemplo prático e recente foi trabalhar, junto com a equipe de técnicos da programação do Sesc, na concepção e elaboração do evento Na Cadência Paulista do Samba, um panorama musical que abordou, através de shows, exposição e bate-papo, a obra de grandes compositores que contribuíram para a divulgação e evolução desse gênero, como Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini, Jorge Costa, entre outros. A proposta para a composição desse evento foi promover um encontro entre artistas de gerações distintas, no teatro e em diversos espaços da unidade, como forma de mostrar o enriquecimento da produção contemporânea do samba de São Paulo. Nosso objetivo foi mostrar que o samba paulista não somente existe, como tem marca própria, contrariando Vinicius de Moraes, que dizia que “São Paulo é o túmulo do samba”. Mais uma vez, o público prestigia essa iniciativa. E a música popular brasileira agradece!

 

Juliano de Souza, jornalista, é técnico de programação do Sesc Vila Mariana

 

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