A
música brasileira agradece
por Juliano
de Souza
Ilustrações:
Marcos Garuti
Meu fascínio
pela música brasileira começou bem tarde na vida. Não
tive muitas chances de conhecer os estilos e sons genuinamente brasileiros,
pois minha irmã na época uma autêntica adolescente
rebelde adorava escutar em nosso três-em-um somente
artistas ligados à música pop internacional, abusando do
seu autoritarismo de irmã mais velha e me obrigando a escutar incessantemente
os grandes astros que despontavam no cenário pop mundial. MPB nem
pensar!
Anos mais tarde, em pleno 3° colegial, no auge da minha efervescência
juvenil, uma amiga me presenteou com uma fita cassete em que selecionara
um repertório com a grande nata da MPB do tradicional à
modernidade no cenário musical brasileiro. De Tom Jobim a Chico
Science, passando por Cartola, Clara Nunes e Marisa Monte, pude escutar
com bastante cautela as canções contidas na fita e perceber
que a música brasileira não era restrita, como eu havia
imaginado. Havia consistência, conteúdo sobre a diversidade
de artistas e estilos que desfilavam por aquele repertório. Atento
ao crescente leque de opções musicais do país, comecei
a pesquisar sobre os principais gêneros e movimentos mais significativos,
não me esquecendo de sempre registrar em vídeo ou
áudio as performances desses artistas em momentos tanto
criativos quanto tensos. Com essa bagagem de informações
que aos poucos eu adquiria, me vinha uma inquietação de
contribuir para que as pessoas compreendessem que a música tocada
nas rádios e TVs brasileiras estava longe de refletir a imensa
diversidade sonora do país. Essa minha vontade (e curiosidade também,
diga-se de passagem) de mostrar o caráter de uma produção
artística brasileira nas mais variadas linguagens tornou-se real
tempos depois, quando passei a integrar a equipe de programação
do Sesc, que se pauta por uma política de criar ações
integradas no campo da arte e da cultura de forma a encorajar talentos
emergentes ou dar espaço a artistas consagrados, tudo com o propósito
de elevar o nível da discussão sobre as artes, a música,
o teatro, a dança e as artes plásticas dentro da comunidade.
Esse trabalho diário proporciona ao profissional o aprimoramento
pessoal, ao tentar mapear e colaborar para a difusão dessa produção.
Um exemplo prático e recente foi trabalhar, junto com a equipe
de técnicos da programação do Sesc, na concepção
e elaboração do evento Na Cadência Paulista do Samba,
um panorama musical que abordou, através de shows, exposição
e bate-papo, a obra de grandes compositores que contribuíram para
a divulgação e evolução desse gênero,
como Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini, Jorge Costa, entre outros. A proposta
para a composição desse evento foi promover um encontro
entre artistas de gerações distintas, no teatro e em diversos
espaços da unidade, como forma de mostrar o enriquecimento da produção
contemporânea do samba de São Paulo. Nosso objetivo foi mostrar
que o samba paulista não somente existe, como tem marca própria,
contrariando Vinicius de Moraes, que dizia que São Paulo
é o túmulo do samba. Mais uma vez, o público
prestigia essa iniciativa. E a música popular brasileira agradece!
Juliano de Souza,
jornalista, é técnico de programação do Sesc
Vila Mariana
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