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O país sente falta de empreendedores
ABRAM SZAJMAN
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac)
Ao longo da história recente, a economia brasileira teve seus momentos de sucesso, marcados por certo desenvolvimentismo que apresentou resultados significativos e elevou sensivelmente a auto-estima nacional. Foram tempos áureos, tidos como milagrosos, como ocorreu no período de industrialização dos anos 1950 e, mais tarde, em plena era do autoritarismo que dominou o país por duas décadas.
As bases utilizadas para esses surtos de crescimento, entretanto, eram instáveis e não tinham a solidez necessária para projetos de longa duração. O resultado a médio prazo foi um alto custo social e a cruel divisão do país entre um mercado rico e minoritário, e uma maioria praticamente abandonada na pobreza e miséria.
A falta de oportunidades para essa grande parcela da população apresentou em pouco tempo reflexos diretos no recrudescimento da violência, hoje praticamente incontrolável nas cidades maiores.
Falta de oportunidades refere-se, basicamente, à ausência de emprego, fruto de uma economia estagnada que, por sua vez, é vítima, entre outros males, da voracidade tributária do Estado, do excesso de leis e de uma inominável burocracia. Recentemente, diga-se de passagem, os jornais anunciaram que no primeiro trimestre deste ano a relação entre carga tributária e Produto Interno Bruto atingiu a marca histórica de 40%.
Oferecer empregos, evidentemente, é tarefa que cabe aos empresários, mas, no Brasil, o simples ato de empreender, em vez de receber incentivo ou pelo menos alguma facilidade, é dificultado por barreiras sem fim. As empresas, que deveriam cumprir o papel de desenvolver a economia, fazendo girar o dinheiro, na prática são obrigadas a sustentar um Estado falido, deficitário, autoritário e burocrático. O empresário, mais do que um homem de negócios, deve ser igualmente despachante, tributarista, assistente social e economista. E enfrentar diariamente as pressões do juro alto, câmbio incerto, crédito restrito, custo pesado da mão-de-obra, e obrigações trabalhistas atulhadas de infinitos encargos sociais. Como resultado, milhares de empreendedores são levados à informalidade, que entre nós funciona a pleno vapor, sem gerar impostos ou postos regulares de trabalho.
Com efeito, o mercado informal é o que mais cresce no Brasil. Trata-se de uma ilegalidade, sem dúvida, mas que nos mostra que existe, por trás de cada barraquinha na calçada, um grande potencial de desenvolvimento. Essas pessoas, na verdade, são empreendedores, desbravadores mesmo, com habilidade e alto senso de oportunidade e rapidez na tomada de decisões estratégicas.
Infelizmente, estão ainda na marginalidade, mas imagine-se quantas pequenas e médias empresas surgiriam, legalizadas, com empregados contratados, gerando negócios e recolhendo impostos, se lhes fossem dados apoio e condições de instalação e crescimento.
A criação de empregos, todos sabemos, deve partir não das grandes corporações, cada vez mais automatizadas e globalizadas, mas das menores unidades, dos empreendedores que arriscam seu futuro em pequenos negócios. E não naquela parte rica do Brasil, mas na outra, aquela que precisa ainda ser explorada. Onde será possível formar empreendedores que se instalem em cidades modestas, em que a concentração de pessoas e de problemas sociais é mais reduzida.
Existem experiências comunitárias de produção em regiões periféricas, que também têm servido como válvula de escape para o desemprego. São iniciativas patrocinadas por entidades diversas, na maioria dos casos independentes do governo, que revelam igualmente um alto senso de empreendedorismo de muitos brasileiros. Quantos outros não existirão, latentes, prontos a produzir frutos assim que receberem o mínimo de atenção e suporte?
Em resumo, o empreendedorismo deve ser tratado como um foco gerador de oportunidades. Cabe-lhe a responsabilidade de abrir mercados, através de pequenas iniciativas, pulverizadas por toda a sociedade – desde que sejam eliminadas as velhas barreiras que lhe cerceiam o caminho, a começar pelas relações com o Estado intensamente regulador, passando pelas dificuldades de crédito e por uma legislação trabalhista que, ao pretender proteger o empregado, acaba por prejudicar o próprio emprego.
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