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Literatura
A Coleção E
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Ensaios Brasil |
Ao longo dos seus oito anos de existência, a Revista E vem se destacando pelo conteúdo que muito ultrapassa o convencional em publicações institucionais. Com a preocupação de dialogar com toda a sociedade sobre os assuntos que permeiam a vida artística e intelectual não só de São Paulo, mas de todo o País, a E busca em colaboradores oriundos das mais diversas áreas de atuação a parceria necessária para figurar entre as mais respeitadas e pertinentes publicações de cultura, lazer e comportamento. Agora todo esse material ganhará novo fôlego com a publicação da Coleção E. "Essa coleção vem potencializar a difusão cultural que a própria revista realiza", esclarece Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc de São Paulo. "Isso permite que um maior número de pessoas possa ler as entrevistas que foram ali publicadas originalmente, os seus contos inéditos e os debates sobre temas da atualidade." Para Danilo, a coleção tem ainda um outro mérito, que é o de ajudar a preencher uma lacuna do mercado editorial. "Boa parte dos entrevistados da Revista E é de pessoas do meio cultural, artístico, político, econômico e social, que nunca escreveram um livro nem vão escrever, porque seu talento está fundado em outros suportes. É o caso dos atores e atrizes de teatro e cinema, bailarinos, diretores, artistas plásticos, militantes, dirigentes de organizações, líderes de causas sociais e outros. São personalidades importantes, mas o que fazem e pensam raramente tem registro escrito no formato de livros, ou seja, raramente dispõem de um suporte mais duradouro e de fácil acesso do público", completa. "A publicação desses livros é relevante porque reúne, de modo sinótico, formas diferentes de pensamento e de inserção no mundo espiritual", complementa o professor e filósofo Roberto Romano, da Unicamp. "A diferença afia os intelectos, enquanto a mesmice o reduz à cegueira. Uma coletânea, por outro lado, serve como instrumento da memória coletiva. Nela, os leitores podem obter uma visão sincrônica dos fatos e das idéias, o que lhes ajuda na tarefa de passar adiante no exame da cultura, com maior prudência, em termos diacrônicos", atesta.
Os livros, publicados em co-edição com a Lazuli Editora, estarão à venda nas principais redes de livrarias e em todas as unidades do Sesc São Paulo. A periodicidade de lançamento será mensal, alternando-se Entrevista, Em Pauta e Ficções Inéditas. Cada volume está agregado sob um nome comum, para levar ao leitor uma identificação mais imediata. Assim, o primeiro volume de Entrevistas chama-se Processos - por trazer depoimentos de artistas sobre seus processos de criação; o de Ficções será Urbanas, contendo histórias ambientadas nessa geografia; e Em Pauta, rebatizado como Ensaios, para ser localizado editorialmente com maior facilidade, tem como título geral Brasil, contendo artigos sobre políticas culturais, futuro, saúde pública e educação política, entre outros temas. Erivelto Busto Garcia, coordenador da Assessoria Técnica e de Planejamento do Sesc - e também coordenador da Revista E e da nova coleção - salienta que esse lançamento "vai reunir quase dez anos de material de primeira qualidade, de opiniões e idéias que tenderiam à dispersão e ao esquecimento". "Um registro significativo do que se fez e pensou no Brasil na última década", afirma.
Ensaios: Brasil
A professora Walnice Nogueira Galvão, que, nesta edição da E, colabora no Em Pauta pela segunda vez, atenta para a pertinência dos temas abordados na seção. "Os assuntos são de interesse comum, entregues a especialistas, e cobrem ampla gama", afirma. "E por isso é bom que sejam preservados em livro". Sobre a experiência de colaborar com a publicação, Walnice menciona a importância da instituição por trás da revista e a prestação de serviços que ambas oferecem à sociedade. "Sou fã e freguesa do Sesc, que a meu ver presta um serviço inestimável na área da cultura, oferecendo bons programas nacionais e internacionais, selecionados com critério, e democratizando-os mediante preços baixos. Afora isso, fornece coisas de importância para a comunidade do bairro - para crianças, para a terceira idade, esportes, ginástica, oficinas, etc. Como não participar com prazer?"
O Em Pauta é visto pelos colaboradores como um importante meio de diálogo entre a produção intelectual, geralmente restrita às universidades, e a comunidade, que em sua maioria possui pouco acesso a ela. Uma relação que encontra a cada edição um novo laço unindo esses dois setores da sociedade. "Para uma pesquisadora, escrever matérias sobre temas de atualidade para um público amplo constitui uma experiência ímpar", conta a professora Fúlvia Rosemberg. "A gente sofre um pouco para corresponder à expectativa, mas o esforço vale a pena." Como leitora da Revista E, a professora também se manifesta e confessa-se assídua. "De modo rápido, mas não superficial, apreendo o que se está pensando, discutindo e escrevendo sobre temas que, de outro modo, não entrariam em meu cotidiano. Amplia meus arquivos de cidadã", revela.
Urbanas
As ficções inéditas da Revista E são outro elemento que a diferencia das demais revistas. Talvez nenhuma outra traga tantas novidades da literatura - novos nomes e novas obras de nomes consagrados - com a qualidade que a cada edição se renova. "Essas coletâneas vão permitir reunir em algumas antologias mais de uma centena de contos inéditos dos mais talentosos e promissores escritores contemporâneos, publicados originalmente em nossa revista", retoma Erivelto. O crítico literário Fábio Lucas completa: "Geralmente, revistas e jornais que têm suplementos culturais se tornam documentos paradidáticos", analisa. "Porém, eles mais falam sobre o que acontece no campo da literatura, do que a apresentam. A idéia de acolher contos é uma particularidade benéfica porque traz ao leitor a condição de ler bons textos de criação. Isso, reunido em volume, traz mais perenidade a esses textos, confere a chance - ao encerrá-los em livros - de eles serem apropriados por um novo público e de serem acolhidos por bibliotecas e leitores que gostam desse gênero. Eu acho esse lançamento muito oportuno, é fundamental que se faça isso." Fábio Lucas comenta também que não são somente os leitores a ganhar com a publicação mensal desse material e a sua reunião em volumes. Os próprios escritores, a seu ver, encontram nessa oportunidade um meio de ampliar seu público. Falar para camadas da população que, por problemas de diversas naturezas, se encontra tão afastada de obras de qualidade. "A literatura anda muito dispersa. Os grandes veículos de comunicação de massa, especialmente dentro do espírito da indústria cultural, têm afastado a literatura das mãos dos consumidores. A literatura entrou na área de indústria cultural. Ela só tem vigência nos grandes meios de comunicação de massa na medida em que seja notícia, e ainda assim é uma notícia descartável, perecível, rapidamente substituível por outra. Ao passo que no caso da Revista E ocorre que, em primeiro lugar, ela seleciona bem os seus textos. Os autores que comparecem geralmente são pessoas que têm certa notoriedade no gênero que cultivam." Ele acrescenta dizendo que a reunião dessa produção num livro dará uma "amostra especial de como anda o conto na literatura brasileira". Gênero que ele aponta ser o grande cartão de visitas da nossa produção literária.
O diretor Antunes Filho, cujo ofício o aproxima do universo das letras, também se entusiasma com o lançamento. "Sempre encontro alguns amigos escrevendo lá. Eu acho muito importante, principalmente porque são ficções inéditas. Quando você reúne essas coisas num livro, você coloca pessoas interessantíssimas lado a lado. Você acaba atraindo um público diferente", afirma.
Processos
As entrevistas concedidas à Revista E também são um capítulo à parte. Cobrindo de cultura a esportes, passando por política, sociologia e comportamento, as conversas trazem um pensamento fresco a cada mês e revelam o processo de trabalho de personalidades que se destacam por sua atuação na sociedade. Ao longo das edições, a coreógrafa Marika Gidali, do Balé Stagium, já contou a saga de seus bailarinos dançando no Xingu; a professora de literatura Marlyse Meyer desvendou os meandros da produção das telenovelas brasileiras; a escritora Nélida Piñon versou sobre seu ímpeto criativo; e o poeta e compositor Aldir Blanc revelou a verdade sobre os bastidores da produção musical. E tudo isso poderá ser visto de novo com o lançamento do volume Processos, parte da Coleção E. É a oportunidade que faltava para que essas pessoas e suas idéias não se congelem no tempo, mas se cristalizem no desenvolvimento intelectual da nação.