Postado em
Habitar Palavras: Vinny Ferreira
CURA
No mundo doente que estamos
Sem rumo, sem saber para onde vamos
Nações e nações buscam soluções
Inimigos mortais dão as mãos
Buscam desesperados um remédio
Enquanto esperamos, mortos de tédio
No fim de tudo, sabemos que amor e ternura
Segue sendo a cura
Pessoas agora distantes fisicamente
Mas que no dia-a-dia mal se falavam esporadicamente.
E cada um de nós lidando com sua loucura
A espera de uma cura
A humanidade realmente está doente
Seja mais, menos, espiritual ou fisicamente
Não é só agora, nunca foi
Perceberam foi, que o mundo se auto destrói
Buscam sem cessar pela cura
E junto a isso lidamos com a realidade obscura.
MÁSCARA
Vivemos num tempo estranho, tempo de agonia
E coincidentemente, de nossa maior dicotomia
Até outro dia, reclamávamos das máscaras
Hoje, sinônimo de consciência, é esconder nossa cara
Pessoas que fingem ser o que não são
Reclamam da frieza, que recebem pouco perto do que dão
Hoje, são obrigadas a se comunicar com o olhar
Anseiam ver sorrisos, rostos inteiros, se aproximar
Ironia, precisar de uma pandemia
Pra nos mostrar o óbvio, o que qualquer um via
Éramos, somos pessoas cheias de máscaras
E de falsas personalidades, duas ou mais caras...
Salvar uma vida, um amigo, ou um parente querido
Use-a, use sem moderação, para ser inserido
Num mundo que preserva vida, e esta pandemia se encara
De um único jeito: cada um com a sua, sua máscara
ABRAÇO
Era pra ser um ano festivo
Mas quis o destino
Que fosse diferente
Pra quem sabe sermos diferentes.
Hoje é proibido abraçar
É proibido também tocar
Amigos, familiares e quem nós amamos
Um dos outros longe estamos.
A internet veio para conectar
Na forma moderna aproximar
Dá pra ver, dá pra falar, dá até pra “estar”
Mas com tudo, tudo isso, não é permitido abraçar.
Um gesto universal
Uma cultura mundial
Diz tanto, sem usar uma única palavra, apenas um gesto
E atualmente é quase um ato funesto.
O mundo passou e passa por tanta transformação
Mas nem a mais louca das mentes iria chegar a essa conclusão
Que um abraço poderia matar, poderia machucar
Hoje amar, é não tocar.
Quero dizer, mas como faço
Tenho mil meios, mas troco todos por um abraço!
Sobre o Autor
Ainda recém-nascido, Vinny Ferreira foi diagnosticado com paralisia cerebral, o que comprometeu levemente sua mobilidade e seus movimentos do braço esquerdo. Com as possibilidades de interação social limitada, Vinny se aproximou dos livros e despertou seu gosto pelas palavras. Residindo em Promissão, se formou em Licenciatura em História e na leitura que encontra força para lutar e superar suas dificuldades. Em seu primeiro livro publicado, de poesias, ele fala sobre quem é e o que sente.
Habitar Palavras - Biblioteca Sesc Birigui
Que sensações - palavras têm habitado em ti nestes tempos de isolamento social?
Por meio de diferentes propostas literárias, apresentamos as contribuições de atores sociais locais quanto a essas leituras sensoriais do momento que vivemos. Compartilhe seus textos, poemas e pensamentos em nosso grupo no Facebook.