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Fruição e educação musical não formal abrem portas para diferentes possibilidades e encontros no meio digital

 

"Tudo está ligado à música”, já disse o multi-instrumentista Hermeto Pascoal. “Música não é só tocar um instrumento, é poder conversar com você, é ver as pessoas exercendo seus ofícios, trabalhando, vivendo. Ela está em todos os contextos”, respondeu o Bruxo dos Sons, em entrevista à Revista do SescTV (leia aqui). De fato, entre tantas expressões artísticas, a música pode nascer da simples emissão de um som pela boca ou do movimento do corpo. Ela está no canto de um passarinho que pousa à janela e até no apito da panela de pressão. A música habita diferentes espaços e culturas, mas, durante a pandemia, foi além. Artistas dos quatro cantos do mundo começaram a se apresentar para milhões de pessoas, simultaneamente, em plataformas digitais, e educadores adaptaram cursos e vivências para o ambiente online. Nessa partitura, novas possibilidades de ensino não formal e de fruição derrubaram fronteiras geográficas.

O maestro e professor Inaldo Spok Cavalcante de Albuquerque, o Maestro Spok, da SpokFrevo Orquestra (PE), observa de maneira positiva o ensino da música no meio digital. “A música, inclusive, por várias ocasiões fez com que surgissem diferentes softwares. As tecnologias digitais têm sido uma grande realidade, por exemplo, no ensino, não só nas artes em si, mas também no desenvolvimento social. Elas podem ser uma ferramenta muito importante na aproximação, no caso, do aluno e do professor”, nota.

Tendo em vista esse cenário, o músico e professor Kaique Falabella pensou em como se adaptar ao ensino remoto. “A música vem muito da troca do olhar, de estar com os instrumentos, mas, como o encontro presencial ainda não é possível, adaptamos muita coisa, inclusive o corpo como suporte para as aulas. Podemos usar tanto o corpo quanto instrumentos musicais não convencionais, ferramentas online e aplicativos”, conta.

 

Imagem: Pixabay

 

Pensando no público infantil, e numa forma de associar a música à brincadeira e a uma experiência para ser compartilhada entre pais, cuidadores e filhos, Kaique conduz a websérie Sons da Casa (leia mais em Rede ampliada), disponível no canal do YouTube do Sesc São Paulo. E, para as crianças, a musicalização, desde os primeiros anos de vida, estimula a imaginação, a sensibilidade, o desenvolvimento da memória, da afetividade e do respeito pelos outros.

Em vídeos curtos, o educador convida quem está do outro lado da tela a buscar objetos na cozinha, na sala ou no quarto e descobrir que eles também são fazedores de melodia. “Ao encontrar a musicalidade dentro de si, você não precisa de um instrumento musical, porque todos os objetos podem se tornar musicais dependendo da função que se dá para eles. Uma caneta, por exemplo, pode ter a função de escrever ou ser uma baqueta”, diz.

Apesar de o programa ser voltado para as crianças, Kaique nota que os adultos também entram na roda, ainda que com certa timidez. Sobre esse impasse, “música para criança” e “música para adulto”, o professor gosta de responder parafraseando o maestro Hélio Ziskind: “A música é como o mar: enquanto o adulto fica na beirinha, a criança se joga, mergulha. É que, com o passar do tempo, as pessoas vão deixando essa música elemental de lado, conforme aparecem as responsabilidades, mas eu penso que esse momento em família traz o adulto para a fruição musical. Por isso, Sons da Casa é um convite para toda a família brincar junta”, reforça.

 

Navegar com atenção

Para o músico e educador do Centro de Música do Sesc Vila Mariana Valdir Maia, é importante frisar que as aulas na rede não substituem a aula presencial e coletiva. “Não há tecnologia que nos permita ouvir a todos de maneira síncrona, por exemplo. O máximo que posso fazer como professor (na sala de aula online) é pedir aos alunos que fechem os microfones e toquem a melodia que estou tocando na casa deles”, explica. Mesmo assim, ele destaca, “o virtual está presente neste momento e creio que ele seguirá presente como mais uma ferramenta”.

Além de concordar com a relevância do encontro presencial, o Maestro Spok faz outras ressalvas ao ambiente digital. “Só acho que temos que ter muito cuidado com nossa direção, para que não nos percamos com a quantidade de informações. Devemos nos preocupar e estarmos atentos em sermos uma espécie de ponte, de conexão, e provocarmos reflexões, pois existem vários benefícios em tudo isso, porém perigos também”, alerta. Por isso, para escolher a escola ou o professor que irá ministrar um curso de música à distância, seja para realizar o sonho de tocar um instrumento ou para aprender teoria da música, é imprescindível analisar criteriosamente as opções na internet.

 

Cuidado e companhia

Para além do ensino não formal e da prática, a fruição musical ocupa esse lugar de companhia e de alento, principalmente, nesse momento de restrição social. Acordar, ligar o rádio e trabalhar, cozinhar enquanto escuta um disco na vitrola, caminhar no parque ao som de uma playlist do aplicativo de música. Lá estão: letra e canção estimulando, acalmando ou simplesmente fazendo companhia em ações rotineiras.

“A música está presente em nossa vida desde que a gente nasce. Numa canção de ninar, que  traz um sentimento bom, num Parabéns para Você numa festa de aniversário, num momento de comemoração com amigos. Ela está relacionada a algo que nos traz prazer e relaxamento, e na pandemia está ajudando muito até no momento de focar ou de relaxar”, observa o educador musical Valdir Maia. “Ela está ali para você sair da zona de pensamentos nos quais você está amarrado e o leva para outro lugar.”

Por isso, a doutora em Educação e musicoterapeuta Ilza Zenker defende que “todas as experiências musicais são muito importantes”. No debate Educação Musical, Diversidade, Inclusão e Autonomia, parte da série #MúsicaBrasileiraEmPauta, realizada pelo Centro de Música do Sesc São Paulo, ela disse que “essas experiências musicais são importantes para uma rotina, para sua memória afetiva e para sua longevidade: como você a constrói e a resgata na idade mais velha, porque é esse o alimento espiritual que nos faz pessoas mais sensíveis”.

Considerada por muitos um tipo de “remédio” para a alma, a música tem ajudado milhares de pessoas a passar por momentos de solidão e perda. “Ao apreciarmos uma música, por exemplo, acabamos nos envolvendo com muitas coisas, com muitos outros ao redor, mesmo estando sozinhos. Ela nos ajuda nesses momentos. É o sentido de agrupamento, de coletividade, criação, produção, expressão, terapia, e isso é arte, é cultura. E como já escreveu Friedrich Nietzsche: a arte existe para que a realidade não nos destrua”, arremata o Maestro Spok.

 

 

Rede ampliada

Alunos e educadores fazem encontros online para compartilhar outras experiências

Desde sua criação, em 1978, o Centro de Música do Sesc São Paulo se expandiu e está presente no Sesc Consolação (1989), Sesc Vila Mariana (1997) e Sesc Guarulhos (2019). A cada etapa, o CM foi ganhando novos instrumentos, temáticas e um novo olhar sobre o ensino da música, sempre voltado ao coletivo e à abrangência de público.

Com a pandemia, no entanto, as unidades não puderam mais receber presencialmente os alunos, o que acelerou o processo de instalação do Centro de Música também no ambiente virtual.

Para isso, as equipes das três unidades do Sesc São Paulo fizeram uma programação em conjunto para atender todas as idades, todos os graus de relação com a música, professores, família e apreciadores, da melhor maneira possível. Na programação realizada nas redes sociais, plataformas de videochamadas e canal do YouTube do Centro de Música, cursos, webséries, debates e outras atividades estão disponíveis ao público para além do estado de São Paulo.

“Com mais de 40 anos de atividade presencial de ensino coletivo e colaborativo, o campo virtual foi um desafio para a equipe dos Centros de Música, ainda mais em meio à pandemia. Apesar disso, trouxe muitos aprendizados e apropriações para todos e ampliou a possibilidade de trocas com alunos e professores de outros lugares do país”, explica Sonoe Juliana Ono Fonseca, assistente técnica da área de Música na Gerência de Ação Cultural do Sesc São Paulo. “É uma construção coletiva diferente, mas que também propicia encontros e compartilhamentos possíveis no momento presente.”

Confira alguns destaques da programação de dezembro:

Cursos

Workshop de Frevo com o Maestro Spok

Neste workshop ministrado por Inaldo Spok Cavalcante de Albuquerque, o Maestro Spok, da SpokFrevo Orquestra (PE), serão abordados os principais aspectos que caracterizam o frevo como identidade cultural pernambucana e Patrimônio Imaterial da Humanidade. História, compositores, peculiaridades musicais, o frevo nos festivais de jazz internacionais e perspectivas para o futuro. (Dias 1º, 3 e 8/12, das 19h às 20h30).

Foto: Flora Negri

 

 

Gêneros Musicais com Márcio Guedes

O que está por trás de conceitos como samba, choro, baião, jazz, pop ou rock? Quando e por que uma prática musical pode ser classificada como um gênero? O que é gênero musical? Buscando refletir sobre essas e outras questões quanto ao conceito de gênero em música, o doutor em Música, co-organizador e coautor do livro Protagonistas do Ensino Musical e Suas Trajetórias (Cartago, 2018), Márcio Guedes faz uma abordagem interdisciplinar sobre as práticas musicais nos âmbitos da música popular e erudita. (Dia 11/12).

Foto: Osmar Moura

 

 

Conversas

#MúsicaBrasileiraEmPauta

Série de bate-papos com educadores musicais do Sesc São Paulo e professores convidados que apresentam reflexões e interpretações sobre a música brasileira. Participaram do primeiro encontro — Educação Musical, Diversidade, Inclusão e Autonomia — a educadora do Sesc Sheila Ferreira e a doutora em Educação e especialista em musicoterapia Ilza Zenker. (Assista no canal do Centro de Música do Sesc no YouTube).

 

Reprodução

 

 

Papo Pop

Nessa websérie que teve início no dia 7/11 e se encerra em dezembro, os músicos Bozzo Barretti e Murilo Lima debatem as transformações da música popular brasileira ao longo das décadas baseando-se em canções icônicas de cada período. Em seis episódios, a série traça um percurso (dos anos 1960 até os anos 2000) do que se convencionou chamar de música pop. (Confira todos os episódios e o encerramento no dia 12/12, às 18h, no canal do Centro de Música do Sesc no YouTube).

 

Reprodução

 

Os Anos da Virada

Na websérie de quatro episódios, o jornalista Ricardo Alexandre destaca as principais transformações no cenário musical brasileiro nas viradas das décadas de 1970, 1980, 1990 e 2000. Em cada episódio, o jornalista recebe um convidado — Sérgio Dias (Os Mutantes), Guilherme Arantes, Sérgio Britto (Titãs) e Fernanda Takai (Pato Fu) — para falar sobre  o contexto político, histórico, social e cultural de cada período. (Assista no canal do Centro de Música do Sesc no YouTube).

Reprodução

 

 

Experimente

Sons de Casa

O músico e arte-educador Kaique Falabella e os educadores do Centro de Música oferecem sugestões de exploração sonora utilizando objetos comuns encontrados em casa. Chaves, colheres, latas, potes, panelas e até mesmo folhas de papel orquestram a diversão de descobrir que a música está em toda parte. (Assista no canal do Centro de Música do Sesc no YouTube).

Acompanhe outras ações do Centro de Música do Sesc no canal do YouTube e nas redes sociais instagram.com/cmsesc, facebook.com/cmsesc e twitter.com/cmsesc

Foto: Mauricio Conti

 

*Conheça o livro Uma árvore da música brasileira, de Elisa Mori e Guga Stroeter (orgs.) lançado pelas Edições Sesc São Paulo.

 

 

Vem de lá

Intérpretes, bandas e orquestras sinfônicas transformam lares em palco

Músicos reconhecidos do país e de fora abriram a porta de casa para transmitir apresentações ao vivo em lives do Instagram ou no YouTube. Repertórios próprios e composições de outros artistas pelos quais tinham afeto e boas recordações entram no setlist acompanhado por milhões de lares do Brasil e do mundo. Orquestras e oficinas também subiram nesse palco virtual que reuniu um público saudoso da fila do gargarejo.

Conheça algumas dessas iniciativas:

Choro em pauta

O bandolinista Hamilton de Holanda encontrou no ambiente online uma forma de se aproximar do público com apresentações e troca de conhecimento. Além de realizar uma live pelo Música #EmCasaComSesc com o acordeonista Mestrinho, em abril, o músico criou, com o produtor Marcos Portinari, o NOSSOBANDO – Festival de Ideias Colaborativas, evento que reuniu músicos, pesquisadores e apreciadores para discutir ideias sobre o bandolim de dez cordas e o choro. Saiba mais: www.sescsp.org.br/online/artigo/14570_NAS+CORDAS+DA+CRIACAO.

 

Foto: Dani Gurge

 

Sala São Paulo

Do começo da pandemia até o dia 16 de outubro, quando reabriu as portas, a Sala São Paulo Digital levou ao público apresentações da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), além de disponibilizar outros concertos do acervo pelas redes sociais e pelo canal no YouTube. Assista: salasaopaulo.art.br.

 

Foto: Mariana Garcia

 

Rainha das Lives

A cantora Teresa Cristina arrebatou uma legião de fãs e seguidores do seu perfil no Instagram ao interpretar à capela composições de artistas brasileiros de diversos gêneros musicais de 26 de março a 15 de outubro. Ela recebeu o título de “Rainha das Lives” pela incansável missão de levar música diariamente aos lares de milhares de pessoas. Pelo Música #EmCasaComSesc, Teresa Cristina também cantou e encantou, só no gogó, internautas que a acompanharam pelas redes sociais e pelo canal do YouTube do Sesc São Paulo. Conheça: www.instagram.com/teresacristinaoficial/.

 

Shows em casa

Desde o dia 19 de abril, a programação do Sesc Ao Vivo vem atraindo milhões de espectadores da série Música #EmCasaComSesc. Gravadas diretamente da casa de artistas brasileiros e, desde outubro, em palcos das unidades do Sesc São Paulo, as lives aproximaram cantores, cantoras, grupos e instrumentistas de diversos gêneros musicais do público. Até o mês de dezembro já foram transmitidas mais de 200 lives, visualizadas por mais de 5 milhões de pessoas. Acompanhe a programação nas redes sociais e no canal do YouTube do Sesc São Paulo.

 

Música #EmCasaComSesc

+ de 200 lives

+ de 5 milhões de visualizações

Fonte: Sesc São Paulo/De 19 de abril a dezembro de 2020

 

 

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