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Brincar Não Tem Idade
O verbo brincar nos acompanha diariamente. E é com sua ajuda que nos permitimos exercer um pouco de nossa liberdade.
Brincar é uma atividade voluntária e muito prazerosa, acessível a todo ser humano, de qualquer idade, classe social ou condição econômica.
Quem de nós não se recupera de um estafante dia de trabalho ao brincar com uma criança, ao participar de uma roda de piadas ou, secretamente, ao fazer caretas no espelho para imitar situações do dia pelas quais passou?
Mesmo sabendo de tudo isso, não conseguimos investir muito nessa atividade e, por vezes, policiamo-nos dizendo que brincar é coisa de criança.
Certamente as crianças têm muito a nos ensinar, pois se entregam ao mundo das brincadeiras, apesar de terem muito clara a realidade, permitindo-se entrar no tema do faz-de-conta e lá permanecer o tempo que acharem necessário, elaborando suas emoções. Nesses lugares, livres de regras e limites, a criança entra e sai quando achar necessário, estabelecendo um código e uma ordem própria e pessoal.
Mas é sempre mais fácil observarmos e teorizarmos sobre as brincadeiras infantis do que nos envolvermos com elas.
Afinal, nós, adultos, necessitamos formatar alguns conceitos para que possamos entendê-los e introjetá-los. Portanto, sentimo-nos mais responsáveis quando negamos o brincar e o substituímos pelo jogar.
A simples troca do verbo alivia nosso descompromisso e limita a infinita liberdade do brincar.
E, agora, mais uma vez, retorno às minhas impressões sobre as crianças que, ao se envolverem em uma fascinante atividade lúdica, não têm a diferença teórica do que estão realizando pois o jogo, diferentemente da brincadeira, é constituído de regras fixas e por ser extremamente sedutor aprisiona seu jogador, impondo uma ordem incontestável e cativando seus participantes por meio da harmonia e do ritmo que o compõem.
O jogo está presente em vários momentos de nossas vidas, podendo em seu aspecto mais romântico ser uma atividade de reunião e aproximação de diferentes grupos de pessoas, apresentando-se em forma de jogos de tabuleiro, de enormes quebra-cabeças que exigem muita concentração e tempo para serem montados, de jogos de salão e de representações, em que a tarefa é transformar e entreter a platéia.
Eu, pessoalmente, trago em minhas recordações lembranças dos dias em que minha família se reunia e jogávamos todos juntos. Esses momentos maravilhosos aconteciam depois do jantar, na sala de minha casa, e eram adocicados pelo aroma de bolo e pipoca.
Mas, infelizmente, tenho de substituir a bucólica cena familiar pela dura realidade cotidiana e reconhecer que esses momentos só aconteciam quando faltava luz, quando, por motivo de força maior, o Jornal Nacional e a novela das oito não nos invadiam com sua histórica sutileza e parcial importância.
A cena mencionada acima traz consigo valores culturais e familiares construídos pelo nosso modo de vida, mas esse mesmo movimento não deixa de aparecer de outras formas em diferentes culturas.
Seria interessante, portanto, refletir um pouco e considerar que uma das diferenças entre os jogos é a intensidade da tensão que impõem aos seus participantes. Com certeza um jogo eventual de bola não pode ser comparado a uma decisão de Copa do Mundo, que monopoliza o país inteiro. Muito menos aos jogos de azar, em que os participantes, em nome de uma possível vitória, apostam fortunas. Ou mesmo à recente cena de um jogo de boxe, em que um dos jogadores morde o outro, esquecendo as regras e a ética do esporte.
Caberia, portanto, localizar a raiz dessa questão e o importante papel do lúdico. Permito-me arriscar um palpite e propor um jogo, convidando todos a virarmos as cartas, distribuindo a política de educação, o ás de ouro e, a cada família, o CORINGA, que, ao mesmo tempo em que tudo pode, está sempre presente comprometendo e decidindo o jogo.
Que tal, vale a pena tentar?
Denise Lacroix Rosenkjar é educadora e técnica do Sesc