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O Centro Experimental de Música recebe novos estudantes

Longe de ter um clima de nervosismo e ansiedade, característico de uma prova vestibular, o dia de entrevistas com os candidadtos que procuram as vagas para os cursos de música e canto do CEM mostra-se como uma ocasião para descobertas. O que interessa aos professores é o talento nato e informal dos candidatos, pois o teste não chega a ser uma prova, mas um primeiro contato com o mundo da música. "O objetivo do CEM não é o de formar músicos, mas sim público", explica Sérgio Pinto, coordenador do curso. "É um trabalho sólido de iniciação." Idealizado em função do sucesso da Osquestra de Cordas do Sesc, fundada em 1976 pelo violinista Alberto Jaffé, o Centro Experimental de Música, criado anos depois, não se preocupa em formar cantores ou instrumentistas profissionais, mas ter a consciência de que contribui para formação do ouvido musical dos participantes. Desde seu surgimento, inicialmente com cursos de cordas, a escola foi abrindo espaço para o ensino de outros instrumentos. Hoje, oferece aulas de percussão, voz e ainda conta com um estúdio e uma oficina de repertório, onde os alunos colocam em prática o que aprenderam nas aulas teóricas.

Os professores responsáveis pelas aulas são os músicos Gérson Frutuoso e Leonel Gonçalves Dias. Eles fazem questão de deixar bem claro o diferencial do método de ensino do CEM. "Trata-se de um curso, acima de tudo, de música, e não é restrito ao ensino de um instrumento somente", explica Gérson, enquanto Leonel aponta para o fato de que, no CEM, o aluno não precisa gastar uma fortuna na compra de equipamentos. "Tudo é fornecido pelo Sesc", garante o professor.

A avaliação não exige nenhum tipo de conhecimento prévio sobre música. As entrevistas individuais servem simplesmente para descobrir o perfil dos candidatos e oferecer uma amostra dos métodos de ensino. "Nosso critério de avaliação baseia-se principalmente na disponibilidade de tempo do candidato e procuramos selecionar uma turma que tenha o mesmo nível de contato com a música", explica Leonel. Essa seleção prévia visa avaliar o que os professores chamam de predisposição musical, ou seja, o candidato precisa ter uma inclinação natural para lidar com instrumentos musicais. "A pessoa pode ter inerência musical e talento mesmo sem nunca ter pego em um violoncelo", avisa Gérson.

Os candidatos, porém, não fazem a menor idéia do que lhes será exigido nessas entrevistas, por isso torna-se impossível conter o nervosismo. Jaqueline Gomes de Oliveira, de 19 anos, pretende fazer faculdade de Jornalismo, mas a admiração pela jovem violinista Vanessa May a fez querer se aprofundar no universo desse sofisticado instrumento. "Eu procurei o curso porque queria fazer algo novo", explica a jovem estudante. "Mas me interesso por violino e tenho vontade de tocar as músicas que gosto com ele." Jaqueline, que nunca havia tido contato com o instrumento, não sabe se um dia trocará a sonhada carreira de jornalista pela música, porém afirma que tudo vai depender do talento.

Já o aposentado Antônio Vegas, 77 anos, não se intimida em começar a aprender música em uma idade pouco convencional para isso. Ele confessa gostar tanto de violinos que até construiu um. "Não tem o acabamento que os daqui têm, mas é bem afinadinho", diz. Antônio conta que já conhece as notas musicais e pretende construir outro violino, só que desta vez melhor acabado. "Agora que tive essa oportunidade, quero me aprimorar."

Soltando a Voz

Embora pareça haver um certo fascínio pelos instrumentos de corda, a avaliação para os cursos de voz é a mais procurada. Cecília Valentim, uma das professoras, garante ser mais fácil aprender a cantar do que a tocar um instrumento. "No curso de canto, nós trabalhamos com uma coisa que a pessoa já tem, que é a voz. Nós simplesmente classificamos o timbre do aluno e, a partir daí, introduzimos a técnica", explica. Ao contrário do curso de cordas, a avaliação das vozes é coletiva, mais divertida e tem duas fases. Na primeira, as vozes graves e agudas são estrategicamente divididas em sala e os candidatos integrados através de exercícios de relaxamento. Na segunda fase, continuam as dinâmicas de grupo com o intuito de descontrair os alunos, porém é introduzida a parte de técnica vocal, quando são explicados os compassos e os ritmos de uma música. "As aulas não têm um clima tão descontraído quanto o da avaliação", conta a professora Gisele Cruz, responsável pela introdução técnica. "Mas nós fazemos questão de deixar os alunos à vontade para que eles consigam mostrar o melhor deles."

Descontração foi o que não faltou na avaliação para o curso de canto. Os candidatos que, no início estavam tensos e envergonhados, terminaram cantando, acompanhados pelo teclado da professora Gisele e fazendo questão de ensaiar a divertida coreografia ensinada por elas. O critério de seleção é o mesmo para todos os cursos: formar uma turma homogênea. "Nós é que acabamos criando o perfil dos futuros alunos do CEM", confessa Cecília. "Procuramos formar um pessoal que tenha o mesmo nível de experiência com o canto e equilibrar o número de vozes graves e agudas, masculinas e femininas."

Há frequentadores de todos os tipos, desde comerciários a médicos. Algumas pessoas desejam somente relaxar, outras se envolvem com música desde a infância e almeijam uma carreira profissional. Jane Rocha, de 29 anos, estuda estética e pretende encontrar uma possibilidade de conquistar o que ela chama de desenvoltura vocal. "Eu quero saber o que posso fazer com minha voz, e espero que isso me ajude a me comunicar melhor, com menos limitações", diz ela. Já Fábio Góes de Castro, de 18 anos, explica que vem de uma família de músicos e espera honrar a tradição. "Eu já me apresento com uma banda de rock, mas quero aprender um pouco de técnica para impor minha voz no palco e parar de enganar o povo", brinca Fábio, esperando que o curso lhe ofereça as bases necessárias para uma melhor expressão vocal.

O CEM é classificado pelos próprios professores como sendo uma pré-escola para os amantes da música, onde os alunos têm a chance de tomar contato com notas e ritmos sem o comprometimento de cursos técnicos, tornando-se artistas informais.