Postado em
Música
O Centro Experimental de Música recebe novos estudantes
Os professores responsáveis pelas aulas são os músicos Gérson Frutuoso e Leonel Gonçalves Dias. Eles fazem questão de deixar bem claro o diferencial do método de ensino do CEM. "Trata-se de um curso, acima de tudo, de música, e não é restrito ao ensino de um instrumento somente", explica Gérson, enquanto Leonel aponta para o fato de que, no CEM, o aluno não precisa gastar uma fortuna na compra de equipamentos. "Tudo é fornecido pelo Sesc", garante o professor.
A avaliação não exige nenhum tipo de conhecimento prévio sobre música. As entrevistas individuais servem simplesmente para descobrir o perfil dos candidatos e oferecer uma amostra dos métodos de ensino. "Nosso critério de avaliação baseia-se principalmente na disponibilidade de tempo do candidato e procuramos selecionar uma turma que tenha o mesmo nível de contato com a música", explica Leonel. Essa seleção prévia visa avaliar o que os professores chamam de predisposição musical, ou seja, o candidato precisa ter uma inclinação natural para lidar com instrumentos musicais. "A pessoa pode ter inerência musical e talento mesmo sem nunca ter pego em um violoncelo", avisa Gérson.
Os candidatos, porém, não fazem a menor idéia do que lhes será exigido nessas entrevistas, por isso torna-se impossível conter o nervosismo. Jaqueline Gomes de Oliveira, de 19 anos, pretende fazer faculdade de Jornalismo, mas a admiração pela jovem violinista Vanessa May a fez querer se aprofundar no universo desse sofisticado instrumento. "Eu procurei o curso porque queria fazer algo novo", explica a jovem estudante. "Mas me interesso por violino e tenho vontade de tocar as músicas que gosto com ele." Jaqueline, que nunca havia tido contato com o instrumento, não sabe se um dia trocará a sonhada carreira de jornalista pela música, porém afirma que tudo vai depender do talento.
Já o aposentado Antônio Vegas, 77 anos, não se intimida em começar a aprender música em uma idade pouco convencional para isso. Ele confessa gostar tanto de violinos que até construiu um. "Não tem o acabamento que os daqui têm, mas é bem afinadinho", diz. Antônio conta que já conhece as notas musicais e pretende construir outro violino, só que desta vez melhor acabado. "Agora que tive essa oportunidade, quero me aprimorar."
Soltando a Voz
Embora pareça haver um certo fascínio pelos instrumentos de corda, a avaliação para os cursos de voz é a mais procurada. Cecília Valentim, uma das professoras, garante ser mais fácil aprender a cantar do que a tocar um instrumento. "No curso de canto, nós trabalhamos com uma coisa que a pessoa já tem, que é a voz. Nós simplesmente classificamos o timbre do aluno e, a partir daí, introduzimos a técnica", explica. Ao contrário do curso de cordas, a avaliação das vozes é coletiva, mais divertida e tem duas fases. Na primeira, as vozes graves e agudas são estrategicamente divididas em sala e os candidatos integrados através de exercícios de relaxamento. Na segunda fase, continuam as dinâmicas de grupo com o intuito de descontrair os alunos, porém é introduzida a parte de técnica vocal, quando são explicados os compassos e os ritmos de uma música. "As aulas não têm um clima tão descontraído quanto o da avaliação", conta a professora Gisele Cruz, responsável pela introdução técnica. "Mas nós fazemos questão de deixar os alunos à vontade para que eles consigam mostrar o melhor deles."
Descontração foi o que não faltou na avaliação para o curso de canto. Os candidatos que, no início estavam tensos e envergonhados, terminaram cantando, acompanhados pelo teclado da professora Gisele e fazendo questão de ensaiar a divertida coreografia ensinada por elas. O critério de seleção é o mesmo para todos os cursos: formar uma turma homogênea. "Nós é que acabamos criando o perfil dos futuros alunos do CEM", confessa Cecília. "Procuramos formar um pessoal que tenha o mesmo nível de experiência com o canto e equilibrar o número de vozes graves e agudas, masculinas e femininas."
Há frequentadores de todos os tipos, desde comerciários a médicos. Algumas pessoas desejam somente relaxar, outras se envolvem com música desde a infância e almeijam uma carreira profissional. Jane Rocha, de 29 anos, estuda estética e pretende encontrar uma possibilidade de conquistar o que ela chama de desenvoltura vocal. "Eu quero saber o que posso fazer com minha voz, e espero que isso me ajude a me comunicar melhor, com menos limitações", diz ela. Já Fábio Góes de Castro, de 18 anos, explica que vem de uma família de músicos e espera honrar a tradição. "Eu já me apresento com uma banda de rock, mas quero aprender um pouco de técnica para impor minha voz no palco e parar de enganar o povo", brinca Fábio, esperando que o curso lhe ofereça as bases necessárias para uma melhor expressão vocal.
O CEM é classificado pelos próprios professores como sendo uma pré-escola para os amantes da música, onde os alunos têm a chance de tomar contato com notas e ritmos sem o comprometimento de cursos técnicos, tornando-se artistas informais.