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A vida em equilíbrio

Conectar-se com a própria respiração e manter
o pensamento no momento presente trazem inúmeros
benefícios à saúde e promovem o bem-estar

 

Foto: Pixabay.

São 11 horas da manhã e um grupo de 30 funcionários de uma grande empresa de tecnologia do Vale do Silício, em São Francisco (EUA), desliga os celulares e computadores simplesmente para sentar em silêncio. A todos é feito um inusitado convite: respirar conscientemente e deixar que os problemas do trabalho e de casa passem como flashes pela cabeça, permitindo-lhes um estado de concentração no momento presente, nem que seja por poucos minutos. A cena, até poucas décadas atrás, pareceria surreal, mas se tornou comum com o avanço de pesquisas científicas sobre meditação.

Prática desenvolvida há milhares de anos no Oriente, ela foi se popularizar no Ocidente na mesma época em que os Beatles viajaram para a Índia, experimentaram a meditação transcendental e por lá compuseram boa parte das canções do lendário Álbum Branco.

“A popularização da meditação talvez tenha acontecido juntamente com o início dos primeiros trabalhos científicos de maior relevância sobre o tema, por volta da década de 1960. A partir daí, a ciência tem mostrado muito interesse nessas práticas”, observa Rui Ferreira Afonso, pesquisador desta e de outras práticas em prol de um bom envelhecimento cerebral, no Instituto do Cérebro do Hospital Albert Einstein. “Acredito que quanto maior o conhecimento sobre a meditação e seus efeitos sobre a saúde, maior o número de praticantes. Ou seja, à medida que a ciência a valida como prática benéfica à saúde, as pessoas se interessam mais.”

Já foram comprovadas inúmeras vantagens para aqueles que incorporaram a meditação na rotina. O pesquisador destaca algumas delas: redução da pressão arterial e de sintomas de estresse; melhora do sono; equilíbrio do sistema nervoso simpático e parassimpático; melhora da qualidade de vida e da eficiência cerebral. “A meditação é uma habilidade cognitiva e portanto exige treinamento”, explica. “Um exercício bem simples é sentar-se confortavelmente em um local tranquilo e respirar profundamente, observando cada sensação relacionada à respiração.”

 

Foto: Divulgação.

 

De dentro para fora

Entre outras práticas meditativas (leia em Vamos meditar), a técnica da Atenção Plena, ou Mindfulness, também se vale de programas baseados em evidências científicas, visando ao bem-estar, e é empregada como tratamento complementar de patologias como ansiedade, depressão e dor crônica. “Sobretudo a partir de 2015 a produção científica [sobre o Mindfulness] se intensificou e, como é comum acontecer, hoje temos um elevado uso e divulgação da prática em todo o mundo, incluindo em universidades, ambientes de trabalho, sistemas de saúde e na mídia em geral. Podemos também relacionar a sobrecarga do dia a dia como um dos principais fatores do crescente interesse atualmente”, observa o médico Marcelo Demarzo, professor de Mindfulness para Saúde, docente do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador-geral do Centro Mente Aberta, em São Paulo.

Tanto a prática da Atenção Plena quanto outras formas de meditação compõem o que a pesquisadora Monica Jurado divide em duas grandes famílias: “As meditações em imobilidade, como certas práticas budistas e taoístas e os mantras yoga; e aquelas em movimento, como é o caso das danças, artes marciais, cerimônias do chá e ikebana, por exemplo”.

Arquiteta, atriz e locutora, Monica conheceu a meditação em 1981, e desde então a pratica diariamente, tendo frequentado e estudado diferentes abordagens a respeito. “Há vários anos busco pelas experiências em que meditação e arte tangenciam resultados. O momento em que um espetáculo, uma escultura, uma dança provocam estados internos de extrema felicidade, união e silêncio”, conta.

A soma desses interesses a conduziu por uma pesquisa sobre tambores, danças e cantos das mais diversas origens, o que resultou na Meditação Flow. A proposta, segundo a pesquisadora, é tornar a meditação simples, eficiente e divertida a partir de sessões dinâmicas conduzidas por ela e por músicos. “Utilizo os tambores em aulas há cerca de 16 anos e observo que os resultados são incrivelmente rápidos, além de tornar o meditar mais prazeroso e lúdico.”

Os resultados são os mesmos de outros tipos de meditação. A diferença é que os tambores e a música tornam a prática mais simples e acessível para qualquer idade, escolaridade, cultura ou restrições físicas, segundo Monica. “Entre os anos 2008 e 2013, apliquei esse formato de meditação em um projeto voluntário na Penitenciária Feminina da Capital para reeducandas de muitas nacionalidades e etnias e constatei nos tambores uma linguagem universal e além das palavras”, acrescenta.

 

Sintonize no agora

Movido também pela música, o francês Pierre Stocker trabalha com a técnica chamada Jornada Sonora Terapêutica, em que guia um grupo de ouvintes por uma experiência que combina 12 instrumentos vibracionais sob um fundo musical de sons de natureza. “De olhos fechados, sentado ou deitado, o participante é convidado a se entregar ao universo dos sons, e a abrir o corpo e a escuta interna em um estado de presença no aqui, agora”, explica.

Músico e pesquisador, ele diz que a prática meditativa feita nessa jornada sonora é capaz de estimular a memória celular saudável do corpo. Ou seja, as vibrações emitidas pelos instrumentos se propagam através das moléculas de água, que compõe 70% de nossos corpos, chegando aos ossos, órgãos e tecidos pelo fenômeno de ressonância. Isso acontece porque, de acordo com Stocker, os harmônicos relaxam o cérebro e aliviam o sistema nervoso central.

Mas seja qual for a proposta adotada, para o pesquisador francês, meditar é simplesmente viver o que se apresenta no presente. “Relacionar-se com o momento como se fosse a primeira vez, com a pureza e a leveza da criança, que tem os olhos limpos de julgamento e se entrega com o coração verdadeiramente aberto para cada nova experiência que venha a cruzar seu caminho”, completa.

 

Questão de saúde

Contrariando modismos e preconceitos, essa prática, que já foi vista como pertencente apenas a manifestações religiosas ou, como brinca Monica Jurado, “uma esquisitice dos ‘alternativos’”, apresenta-se cada vez mais como uma ferramenta aliada da saúde. Tanto que, no ano passado, o Ministério da Saúde aprovou a inclusão da meditação e outros procedimentos, como musicoterapia, às terapias integrativas voltadas para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A estimativa do Ministério da Saúde é a de que cerca de 5 milhões de pessoas por ano participem dessas práticas no SUS.

Ou seja, se ainda restam dúvidas e preconceitos quanto à eficácia da meditação, é bom saber que muito em breve ela pode fazer parte do cotidiano de milhares de idosos, adultos, jovens e crianças.
“A meditação caminha a passos rápidos como uma resposta alternativa e inspiradora para uma vida mais saudável, responsável e feliz”,complementa Monica.

 

Vamos meditar?

 

Práticas que não estão atreladas a religiões propõem diferentes
formas de estar em contato consigo e com o tempo presente

 


Seja durante uma caminhada até o supermercado ou mesmo no carro enquanto o trânsito está congestionado, a meditação pode ser exercitada. Sem necessidade de roupas ou ferramentas específicas, nem outros pré-requisitos, basta escolher um tipo que combine com seu pensamento e estilo de vida. Tomada a decisão, que tal parar por um minuto, ou meia hora, e se permitir viver o momento presente?


Taissô

Meditação ativa de origem japonesa, inspirada na natureza e nos animais, ela traz elementos do Tai Chi, do Chi Kung e do Yoga, e trabalha força, alongamento, respiração e imaginação.

Chi Kung

Prática chinesa antiga, essa é uma experiência mental, física e espiritual para pessoas de todas as idades, em que movimentos são feitos de forma lenta, fluida
e ritmada.

Yoga

Ao realizar os asanas (as posturas) e os pranayamas (as respirações), o praticante eleva seu grau de consciência do momento presente.

Caminhada Meditativa

Durante uma caminhada ao ar livre, é possível se propor uma auto-observação, uma respiração consciente e uma vivência do momento presente.

Meditação Transcendental

Técnica de meditação introduzida em 1958 por Maharishi Mahesh Yogi, ela envolve o uso mental de sons específicos chamados mantras.

 

Foto: Mayara Tutumi.
 

5 passos para atingir a atenção plena na respiração

 

Foto: Juliana Hilal.

 

Passo 1
>> Adotando uma posição confortável, sentado ou deitado, deixar o corpo se estabilizar na posição. Pode-se fazer uma ou duas respirações mais profundas para se trazer a atenção para o corpo, como também começar lentamente a observar as sensações no corpo naquele momento (contato do corpo com o chão ou cadeira, temperatura da pele, possíveis desconfortos etc.).

Passo 2
>> Gradualmente começar a trazer a atenção e a observação para os movimentos do corpo durante a respiração, como os movimentos do tórax e do abdome na inspiração e expiração; ou ainda, a sensação do ar entrando e saindo pelas narinas durante a respiração. É importante seguir o fluxo natural da respiração, sem tentar alterá-lo, apenas observando-o.

Passo 3
>> Eventualmente, se alguma distração, pensamento, sensação ou preocupação vier à tona, gentil e simplesmente apenas perceba, e deixe passar, sem se prender ou julgar, voltando novamente a observação para a respiração.

Passo 4
>> Mantenha então a observação da respiração como âncora da atenção e da mente no momento presente, momento a momento, a cada respiração.

Passo 5
>> Antes de encerrar a sessão, traga novamente a atenção e a observação para as sensações em todo o corpo naquele momento e lenta e gradualmente termine a prática.

Fonte: www.mindfulnessbrasil.com

 

Pausa consciente

Um novo olhar sobre a promoção de saúde e de bem-estar foi foco do projeto Inspira – Ações para uma Vida Saudável, em abril de 2018, nas unidades do Sesc São Paulo. Dando continuidade à proposta, neste mês outras atividades somaram-se ao mesmo objetivo e apresentaram diferentes formas de desenvolvimento da consciência e de atuação no momento presente. “A meditação tem sido bastante utilizada como uma estratégia exitosa para o autoconhecimento e uma forma de dirigir a atenção para o momento que estamos vivendo, o presente, possibilitando, assim, melhores condições para a resolução de conflitos, bem como uma melhor qualidade de vida”, esclarece o assistente da Gerência de Saúde e Alimentação Jair de Souza Moreira Júnior. “Dessa forma, entendendo a importância da meditação para a saúde, oferecemos em nossa programação, oportunidades em que o público possa vivenciar essa prática e buscar alternativas para o bem-estar.”

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