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Estímulo à literatura
A partir do século XIX, com a invenção da nova imprensa, que favoreceu a circulação de jornais, revistas literárias, folhetins, publicações populares e outras, numa fase em que a mulher passa a ter acesso à educação, nota-se um aumento crescente de leitoras e também de escritoras que se dedicam à poesia, à crônica, aos romances-folhetins e até mesmo aos textos polêmicos, como por exemplo os direitos da mulher à educação, ao trabalho remunerado, ao exercício da cidadania pelo voto e outros, sob o olhar masculino complacente.
Hoje, em pleno século XXI, podemos afirmar que as mulheres conquistaram seu espaço no mercado editorial brasileiro e mundial.
Segundo Nelly Novaes Coelho, que está entre os melhores ensaístas e críticos literários brasileiros, "... a produção literária das mulheres, vista como um fenômeno específico no movimento cultural em geral, vem exigindo da crítica uma atenção especial."
Para que a produção literária apresente um crescimento com qualidade, faz-se necessária uma política de estímulo à criação de textos, bem como a oferta de um bom acervo que possa contribuir com o enriquecimento de vocabulário, de idéias e de valores.
O Sesc Ribeirão aposta nessa idéia; por isso, reformou e modernizou sua Biblioteca, resultando num ambiente agradável, bonito, atraente e informatizado, onde seus freqüentadores têm acesso a informações locais, nacionais e internacionais, navegando na Internet, ou através de jornais, revistas e livros atualizados, tornando-se um importante espaço social, educativo e difusor de informação na cidade.
Porém, o aspecto que a diferencia de outras bibliotecas é o seu caráter de construção da cidadania: é através da aquisição do conhecimento que se conscientiza as pessoas, e isto é possível por meio do desenvolvimento de atividades cuidadosamente programadas.
Os concursos literários, realizados com a participação de várias escolas da cidade e região, privilegiam temas que permitem aos professores um trabalho processual e transdisciplinar, dos quais surgem criações de textos de grande densidade crítica, elaborados pelos alunos.
Por outro lado, os "Saraus em Prosa" permitem um contato direto com o autor, em ambiente descontraído, que proporcionava o diálogo entre as várias linguagens artísticas e do conhecimento em geral, desmitificando a figura do escritor, escancarando aos participantes os bastidores do ato de escrever.
"Poesia da Gente", "Ateliê de Poesia" e "Laboratório de Redação" são projetos que, além de propiciar um aprendizado, estimulam a criação de textos, revelando em cada participante um potencial para escrever, melhorando ainda sua auto-estima.
"Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé". Se o indivíduo não busca a poesia, a poesia se impõe ao seu olhar: banners expostos em diversos pontos da unidade apresentam poesias de autores consagrados e desconhecidos, sempre relacionados a um tema mensal, mostrando que brincar de fazer poesia não é tão difícil assim... É o projeto "Arte com Palavras".
A "Ciranda do Livro" oferece diversas obras infantis às escolas da periferia, cujos professores estejam engajados com o compromisso de estimular o gosto pela leitura e a criticidade, além de instigar a criação de textos e promover o encontro entre alunos e escritores das obras analisadas em sala de aula.
É importante frisar que nas atividades de estímulo à criação de textos, a participação masculina tem oscilado entre 10 a 20 por cento, contra 80 a 90 por cento da participação feminina, favorecendo a sua auto-afirmação e valorização, aproximando-a ainda mais deste universo maravilhoso que é o mundo das letras.
Infelizmente, para uma grande parcela da sociedade brasileira - os menos privilegiados - o hábito da leitura é inexistente em sua cultura; desta forma, estes indivíduos são condenados a engrossar ainda mais a faixa de maior proporção da pirâmide social: a da pobreza.
Nesse sentido, o Sesc procura não só facilitar o acesso ao livro, mas também fomentar o prazer da leitura que possibilite ao indivíduo a retirada gradativa de véus da ignorância que dificultam um entendimento sobre o seu "eu" e sua inserção no contexto social.
Goreti Maria da Costa Dias é pedagoga e técnica
do Sesc Ribeirão Preto