Postado em
Dossiê

De 5 a 12 de agosto ocorreu, no CineSesc e em outras salas de exibição, o sexto Festival de Cinema Judaico de São Paulo. Apresentado desde 1996, o festival trouxe uma amostra significativa da produção recente de cineastas de origem judaica. Além das sessões de documentários e longas em competição, foram apresentados ainda uma seleção de curtas, uma retrospectiva da obra do premiado cineasta israelense Amos Gitai e dois filmes hors-concours. Um deles, exibido em duas sessões no CineSesc, é o vencedor do Oscar 2001 na categoria de documentários. Trata-se de Nos braços de estranhos, de Jonathan Harris, sobre o Kindertransport, o trem que, por volta de 1938, durante a Segunda Guerra, levou à Inglaterra cerca de 10 mil crianças alemãs separadas de seus pais.
"O
filme Herói Acidental é minha reflexão sobre a força
da dignidade humana. Ele mostra que mesmo uma pequena prova de decência
pode expressar uma grande dose de heroísmo."
Do diretor Jan Hrebejck sobre seu filme, apresentado no CineSesc
durante o 6o Festival de Cinema Judaico de São Paulo
Fragmentos
de Adélia
A poeta mineira Adélia Prado é a homenageada da mais recente edição
do projeto Janelas do Cotidiano, que fica em cartaz até o dia 16 de setembro
no Sesc Carmo. Com exposições, espetáculos e ambientação,
o evento, intitulado Fragmentos de Adélia, apresenta a sensibilidade
de uma das mais importantes poetas e escritoras brasileiras. Adélia nasceu
em 1935 em Divinópolis, no interior de Minas. Em 1978, ganhou o Prêmio
Jabuti pelo seu segundo livro, O coração disparado. "O transe
poético é o experimento de uma realidade anterior a você.
Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu
próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar
dizê-la é o labor do poeta", afirma.
Pop stars
O grupo Música Ligeira interpretando Beatles. Carlos Careqa, Tom Waits.
Dadá Cyrino, Janis Joplin. Tudo isso ocorreu na série de shows
Uma Noite de Popstar, em agosto, no Sesc Consolação. A idéia
do projeto foi trazer diversos músicos cantando seus ídolos. "Quando
era criança, infernizava minha progenitora para assistir às gravações
do programa Jovem Guarda. Desta vez me rendi e homenageei escancaradamente meu
ídolo", conta Laert Sarrumor, que participou do projeto com músicas
de Roberto Carlos. Para Jica, que ao lado de Turcão interpretou músicas
dos Rolling Stones, seus ídolos concretizaram seu sonho de ser diferente.
"O cantor se mexia, os caras eram meio mal encarados, tudo ao extremo.
A casa vai cair, pensei. A casa não caiu, na verdade tudo ficou exatamente
igual, menos eu", explica.
180
anos de samba
Se estivessem vivos, Noel Rosa e Adoniran Barbosa completariam 90 anos. Para
resgatar a imensa contribuição que esses sambistas deram à
música popular brasileira, o Sesc Vila Mariana promoveu o espetáculo
180 Anos de Samba, com a participação de Luiz Tatit, MPB 4, Vésper
e Roberto Silva (foto). Muitos fatos ligam Noel e Adoniran, além do ano
de nascimento. Para o sociólogo e pesquisador Dilmar Miranda, que participou
do projeto com comentários durante as apresentações, "o
grande encontro dos dois se dá no samba urbano, arte que escolheram para
cantar sua época e suas cidades, seus lugares e tipos populares, e falar
de si próprios", afirma.
"Mais
que uma simples coincidência de datas, Adoniran e Noel, irmanados num
destino comum, podem ser representados por um lugar imaginário de boemia
que freqüentavam, em cidades e momentos distintos."
Dilmar Miranda,
sociólogo e pesquisador, participante do espetáculo 180 Anos de
Samba
A
mangueira chegou
A diva da nova geração do soul-funk-samba, Paula Lima, se juntou
aos ilustres componentes da Velha Guarda da Mangueira em show inédito,
no Sesc Belenzinho, no início de agosto. Paula apresentou canções
de seu recém-lançado disco É isso aí, enquanto a
Velha Guarda apresentou clássicos de Carlos Cachaça, Cartola e
Nelson Cavaquinho, além de composições dos novos valores
da comunidade mangueirense.
Glauber Rocha
Há vinte anos, morria Glauber Rocha, apontado por muitos críticos
como o maior cineasta brasileiro de todos os tempos. Para relembrar a importância
de sua obra, a última edição do projeto Cinema 16, do Sesc
Ipiranga, o homenageou. Ao longo do mês de agosto, foram apresentados
quatro dos principais filmes do cineasta baiano, além de um bate-papo
com a presença de sua mãe, Lucia Rocha, e do professor de cinema
da USP, Carlos Augusto Calil.
Humanenochum
Prestes a completar 80 anos, o compositor Riachão lançou, no Sesc
Pompéia, seu primeiro CD solo, Humanenochum. Riachão começou
a cantar em programas de rádio em Salvador nos anos 40, tornando-se figura
popular. Criador de canções curtas e originais, foi gravado por
grandes nomes da música brasileira, como Cássia Eller e Jackson
do Pandeiro. Mas foi nas vozes de Caetano e de Gil que o maior representante
vivo do samba baiano tradicional emplacou seu grande sucesso, "Cada Macaco
no seu Galho".
Calendário de
Pedra
De 16 a 19 de agosto, Denise Stoklos apresentou seu mais recente trabalho, Calendário
de Pedra, no teatro do Sesc Vila Mariana . O espetáculo da atriz paranaense,
que estreou recentemente no Rio, é dedicado à memória de
Milton Santos. Segundo Denise, a peça é uma "homenagem ao
ser, livre em sua gratuidade e legítimo quanto ao direito de resistência".
A estrutura do texto é originária do poema A Birthday Book, de
Gertrude Stein.
Arte contemporânea
De agosto a dezembro, uma série de oficinas e debates no Sesc Ipiranga
traz à tona questões pertinentes à função
do espaço físico na arte contemporânea. As renomadas artistas
Carmela Gross, Regina Johas e Geórgia Kyriakakis promoveram oficinas
para um público já familiarizado com o fazer artístico,
enquanto o professor Agnaldo Farias e o crítico de arte Alberto Tassinari
deram palestras, dirigidas a todos os interessados, sobre os diferentes aspectos
da arte contemporânea.
Crianças especiais
Desenvolver a criatividade, a confiança e facilitar a inclusão
social dos portadores de deficiências é o que pretendeu o evento
"A Arte Inclui Você", promovido pelo Sesc e pela APAE de São
Caetano do Sul. A programação apresentou uma exposição
de quadros dos alunos da APAE, oficinas de arte e espetáculos. "Queremos
despertar o interesse das pessoas e desmistificar a visão sobre os portadores
de deficiências", diz a coordenadora da exposição,
Raquel Guedes.
Das
estantes para o palco
Freud, Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Karl Marx. As obras desses
e de outros grandes nomes são as inspiradoras das músicas que
Paulo Freire e Wandi Doratiotto apresentaram no show A Música que Vem
dos Livros, em agosto, no Sesc Araraquara. Os dois eram integrantes do grupo
Irmãos Karamazov, que apresentava canções baseadas em temas
de livros e em seus escritores. "O grupo era uma grande farra. A gente
compunha em cima de tudo que vinha à cabeça. Às vezes eram
coisas sérias, às vezes eram grandes ironias", diz Wandi.
Como exemplo, ele cita a música de "um papagaio que já leu
Paulo Coelho, é fascinado por Lair Ribeiro e considera Guimarães
Rosa apenas regionalista".
"Se
Dostoievski viveu lá na Sibéria e não se congelou, entre
facínoras, dementes, assassinos e gigolôs. (...) Por que eu, vivendo
livre em Ipanema, nada consegui? Será que o sol em demasia em minha testa
foi queimando meu Q.I.? É muito chato, gente, me sinto um empecilho.
Eu não plantei uma árvore, não escrevi um livro."
Letra do samba
"Dostoievski", de Wandi Doratiotto, apresentado no espetáculo
A Música que Vem dos Livros, no Sesc Araraquara.
Mesa
São Paulo
Criado em outubro de 1994, o Programa Mesa São Paulo, do Sesc São
Paulo, tem como objetivo contribuir para que parcelas carentes da comunidade
tenham acesso a uma alimentação adequada todos os dias. Para isso,
concentra suas forças na parceria com profissionais voluntários,
empresas doadoras de alimentos, e numa ação educativa permanente
com as instituições sociais. Em agosto, o programa teve seu encontro
anual. Foram homenageados os voluntários e empresas que contribuíram
para combater a fome e o desperdício na cidade. O tema do encontro foi
Solidariedade Social - A Força do Voluntariado, com a presença
de Milú Villela, presidente do Centro de Voluntariado de São Paulo;
Oded Grajew, diretor-presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade
Social; Danilo Santos de Miranda, Diretor Regional do Sesc São Paulo;
e Nelson Proença, secretário de Assistência e Desenvolvimento
Social de São Paulo.
"Todos
são chamados ao desafio do novo milênio, que é incluir os
excluídos. Eles não querem caridade, e sim oportunidade."
Milú Villela, presidente do Centro de Voluntariado de São Paulo,
no Encontro Anual do Mesa São Paulo.
Um
trem
O premiado Grupo Galpão apresenta até o dia dois de setembro,
no Teatro Sesc Anchieta, o espetáculo Um Trem Chamado Desejo, com dramaturgia
de Luis Alberto Abreu e direção de Chico Pelúcio. "A
peça é uma comédia musical. Nela, a gente trata da dificuldade
de sobrevivência de uma companhia de teatro fora do eixo Rio-São
Paulo, na década de 20", explica o diretor. Para ele, o espetáculo
é "autoral coletivo", e isso garante maior consciência
do trabalho artístico e das possibilidades do grupo. "Sempre saímos
mais inteiros das montagens. O processo propicia uma sensação
de integridade do ator, do grupo e, conseqüentemente, do espetáculo",
conclui.
Imagens
do Japão
Em agosto, esteve em cartaz no Sesc Campinas o evento Formas e Imagens do Japão.
Danças típicas, oficinas e uma amostra da produção
cinematográfica japonesa fizeram parte do evento, que teve como destaque
a exposição Bonecos do Japão. Desde a Antigüidade,
os bonecos fazem parte da vida cotidiana do país. Eles refletem os costumes
e as aspirações de seu povo por meio das diferentes características
regionais. Segundo Cecília Suzuki, assessora cultural da Fundação
Japão, que, em parceria com o Sesc, organizou o evento, as técnicas
dos bonecos vêm sendo aprimoradas através dos tempos. "Ao
longo da história, os bonecos passaram a não ser somente um brinquedo
do cotidiano, mas também, por sua técnica e características,
a ser comparados a obras de arte", conclui.
Canções
do Brasil
Um gravador portátil e um par de microfones foram os instrumentos de
trabalho de Paulo Tatit e Sandra Peres durante os últimos três
anos. Com eles, a dupla percorreu todo o país registrando a música
criada ou executada por crianças. O resultado do trabalho está
no CD-livro Canções do Brasil, que teve seu lançamento
em agosto no Sesc Pompéia. Em uma maratona de cinco shows em dois dias,
a dupla, com participação especial de crianças de vários
lugares do país, apresentou seu retrato sonoro dos ritmos, melodias e
letras produzidos pela garotada do Brasil: do fandango gaúcho à
cantiga de roda do Amapá, da toada do Pará ao rap paulista, do
maracatu de Pernambuco ao congo do Espírito Santo.
Frases
"Enquanto houver movimento e sensibilidade artística,
há dança."
Luis Ferron, coreógrafo e bailarino da Cia. de Danças de Diadema,
que ministrou a oficina Dança para Portadores de Necessidades Especiais,
no Sesc Vila Mariana.
"Tudo
aquilo que a gente conhece melhor, a gente respeita. Todo intercâmbio
cultural é importante."
Gloria Manzon, curadora do VI Festival de Cinema Judaico de São Paulo,
sobre o evento, que esteve em cartaz no CineSesc e em outras salas de exibição.
"Queria
dizer que vou acabar com vocês."
Do cartunista Paulo Caruso, brincando com os colegas na abertura do debate no
evento Humor & Tecnologia do Sesc Pinheiros, no qual defendeu o uso das
técnicas de desenho à mão.
"O
homem faz a máquina e a máquina transforma o homem."
Carvall, ilustrador, no debate Computador versus Técnicas de Desenho
à Mão, no Sesc Pinheiros.
"Somos
ou não somos capazes de viver juntos e nos apoiar mutuamente? A única
via é a solidariedade."
Danilo Santos de Miranda, Diretor Regional do Sesc São Paulo, no encontro
anual do Programa Mesa São Paulo.
"Quando
Glauber foi embora, e depois de muito sofrimento, resolvi não deixar
que ele desaparecesse. Minha utopia foi reunir toda a sua obra e divulgá-la,
porque ele sempre me dizia que ela era dedicada aos jovens brasileiros."
Lúcia Rocha, no evento Cinema 16, em homenagem à obra de seu filho,
Glauber Rocha, no Sesc Ipiranga.