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Compromisso social
por Alberto Carlos Almeida
Doutor em Ciências Sociais pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Alberto Carlos Almeida é cientista político e diretor do Instituto Análise, especializado em pesquisas e análises de dados sobre informações sociais, políticas, econômicas e culturais. Colunista do jornal Valor Econômico, é também autor de livros como A Cabeça do Brasileiro (Ed. Record, 2007), A Cabeça do Eleitor (Ed. Record, 2008) e Os Erros nas Pesquisas Eleitorais (Ed. Record, 2009), entre outras obras que tratam dos valores e comportamentos dos brasileiros. A seguir, os melhores trechos do depoimento de Alberto, no qual ele fala sobre política, opinião pública e pesquisas em campos como cultura e sociedade.
Alberto Carlos Almeida esteve presente na reunião do Conselho Editorial da Revista E no dia 12 de novembro.
Pesquisas
Uma coisa é você procurar gerar resultado e outra é você ter um compromisso científico com a melhor medição. A resposta politicamente correta é tida como aquela que tem aceitação social. Se tem aceitação social dizer que não é racista, por exemplo, as pessoas vão buscar responder isso. Diante disso, você tem que ter um compromisso de buscar a melhor medição para o que você quer pesquisar. Às vezes, é preciso buscar outras estratégias de medição, fazendo perguntas que evitem ter um viés de aceitação social.
No caso do racismo, a nossa estratégia de pesquisa foi fazer um cartão de fotos de pessoas fotografadas com o mesmo fundo e a mesma cor de camisa, e diferentes cores de pele. Primeiramente, perguntamos aos entrevistados que cor eles viam ali, segundo a classificação do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] entre brancos, pardos e pretos. Depois perguntávamos, entre aqueles, qual parecia ser um ladrão, qual parecia ser o mais inteligente, com qual pessoa gostaria que a filha casasse etc. Só cerca de 10% escolheram nenhuma das opções.
Crise de representação
Do ponto de vista do sistema político, observando em todo o mundo, não se encontrou até hoje uma maneira de tocar o sistema político que não seja por meio de representação partidária. Todos os países têm partidos. A política é assim porque há grupos que atuam juntos por um período, têm maneiras de pensar diferentes, criam relações de negociação.
Um bom negociador em Brasília é aquele que consegue encontrar ponto de consenso na bancada dele, e leva essa negociação a outra bancada, que precisa também ter uma figura desse tipo. Assim vão se criando grupos, por conta de relacionamentos. Como você faz a política se não for assim? Até hoje, não se tem uma maneira de representar que não seja por meio de partidos políticos.
Reforma política
Eu considero a afirmação de que a reforma política é a mãe de todas as reformas uma espécie de pensamento mágico, que fosse capaz de fazer isso acontecer. As pessoas acham que fazer isso vai ter uma grande consequência, e não é assim.
Por exemplo, nós temos partidos demais. Em nenhum lugar do mundo é assim, afinal não há uma oferta tão grande de ideias, do ponto de vista nacional. Isso é um defeito do nosso sistema, e tem consequências muito ruins. Todo mundo tem um partido para chamar de seu, você funda, tem acesso a recurso público, a tempo de TV. Cada um é dono do seu partido no Brasil, os partidos são estruturas muito ossificadas, não democráticas. O sistema é muito mais democrático que o funcionamento dos partidos. Isso não é um tema debatido, já que é conveniente aos políticos que cada um tenha o seu partido.
Descrença
Nós, brasileiros, ou pelo menos segmentos importantes dos brasileiros, temos dificuldade em reconhecer os avanços do país. Imagino que isso não seja um problema só nosso, mas isso é muito agudo aqui. Então apesar de ser muito divulgado que há uma descrença geral na política, você tem presidentes e governadores recentes que têm sido reeleitos e de repente se divulga que não há mais líder nenhum. Tem alguma coisa estranha aí.
O Brasil é um país muito grande, com muitos interesses, uma economia muito complexa, então não é possível melhorar ou piorar muito rápido. Os líderes estão aí, os escândalos de corrupção existem em todo lugar do mundo, mas a gente não vai atrás da informação, então acaba achando que só no Brasil isso acontece, quando não é assim. E, se o líder não existir, ele vai surgir, porque tem alguém que vai ocupar aquele espaço, e a democracia assegura que isso vá acontecer.