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O Canto Sagrado dos Orixás

"Água é Orixá! Vento é Orixá! União do Orí, com alma, Terra, Céu e Mar!" (Trecho da música Orixá)

Escrevendo sobre o que acredita, sente e vive, a cantora Savannah Lima fala em suas músicas sobre questões raciais e a Cultura Afro-brasileira. Pela segunda vez em São Paulo, é a primeira vez que a artista apresentou o show “Oferendas” na cidade. Como parte do Projeto Entre Nós, que aconteceu em novembro no Sesc Campo Limpo, seu show contou com canções baseadas nas músicas sagradas dos Orixás, traz em sua estrutura vocal, a suavidade do estilo ijexá e, segundo a cantora, faz um agradecimento ao “dom de cantar”.

Em entrevista para a E-Online, Savannah conta um pouco sobre sua carreira que iniciou bem cedo, aos 12 anos, e como foi sua impressão dessa apresentação que, para ela, despertou um nervosismo que não costuma ter em Salvador, mas depois sentiu que a energia da natureza acompanhou seus cantos aos orixás. Confira:

E-Online - O que a estimulou a, tão cedo, perceber sua vocação para o canto?
Savannah Lima - Na verdade perceberam por mim. (Risos)
Sempre gostei de "brincar de ser artista", cantava, desfilava e atuava. Numa dessas brincadeiras, o síndico do prédio onde eu morava percebeu que havia algo diferente. Daí eu despertei de fato para o dom.

E-Online - Desde seus 12 anos, quando começou a criar composições, você aborda o tema da cultura afro-brasileira em suas canções?
Savannah Lima - Comecei a escrever coisas que eu sentia, gostava e vivia. Inicialmente eram poemas e poesias, depois comecei a cantarolar essas criações, e com o tempo as letras já brotavam em forma de canções. Somente quando comecei a estudar na Pracatum (escola de música fundada por Carlinhos Brown), aos 15 anos, saíram as primeiras composições voltadas à cultura afro-brasileira.

E-Online - Qual a recordação de sua infância que foi mais marcante a respeito da música tocada nos terreiros de Candomblé?
Savannah Lima - É muito fácil na Bahia, ter um contato natural com o candomblé, e esse contato se acentua ou não com o passar do tempo. No meu caso foi inevitável e a música baiana tem grande responsabilidade nisso. Mas acredito que a paixão pelo samba foi me conduzindo aos ritmos e toques mais próximos do que se toca nos terreiros. Lembro-me também que artistas que eu admirava, como Brown, Margareth, Daniela, etc. já me traziam referências de toques ijexás, afoxés, alujás. O contato foi surgindo naturalmente.

 
E-Online - Por que desenvolveu esse trabalho voltado para a música sagrada dos Orixás?
Savannah Lima - Assim como o contato com as batidas de terreiros foi surgindo naturalmente, também a aproximação e interesse com a religião foi se acentuando. A música e a religiosidade caminham juntas, os Orixás vêm nos terreiros e dançam ao toque dos atabaques, e eu costumo cantar e escrever o que vivo e o que acredito. Esse trabalho surgiu de músicas inspiradas no sagrado, o trabalho "Oferendas" é um agradecimento a essas inspirações e ao dom de cantar.

E-Online - Com o tempo notou quais mudanças em suas composições?
Savannah Lima - Notei que algumas se tornaram mais fortes em relação às coisas que eu queria gritar ao mundo, coisas que eu defendo e acredito, outras se tornaram mais sentimentais, realistas ou complexas de acordo com o que eu vivo e sinto.

E-Online - Acredita que seu trabalho contribui com a conscientização da questão racial?
Savannah Lima - Acredito que sim, só não sei em qual proporção. Mas a principal contribuição foi a mim mesma, fico feliz em afirmar isso, pois a cada trabalho me vejo mais madura e mais fortalecida quanto às questões raciais, de gênero e religiosa.

E-Online - Para você, o que representa estar no Sesc Campo Limpo em um período de celebração à cultura negra?
Savannah Lima - Uma conquista maravilhosa! Estou muito feliz de poder levar a minha música, em especial o projeto "Oferendas" para o público de São Paulo, por significar tanto pra mim e por ser uma ferramenta de afirmação da cultura afro-baiana, que se depender de mim, continuará encantando o Brasil e o mundo.

E-Online - Qual foi a impressão que teve com o público durante a apresentação?
Savannah Lima - A melhor possível. O público foi muito carinhoso, receptivo e curioso. Percebi a satisfação nos olhares e nos aplausos. Sem falar que alguns gritavam: "Linda!", "Maravilhosa!" (Risos). Isso tudo é muito gratificante.

E-Online - Como foi estar pela segunda vez em São Paulo e pela primeira vez com o show "Oferendas"?
Savannah Lima - São Paulo tem me conquistado naturalmente, mas a cada ida, eu percebo um abraço de Sampa e desse povo lindo à minha arte. Levar o "Oferendas" foi uma experiência linda e incrível. Foi emocionante cantar minhas músicas e músicas com nova roupagem, com toques percussivos da cultura afro, para um público que se apaixonou pelo trabalho e nos recebeu tão bem.

E-Online - Existe alguma situação ou sensação específica que teve nesta apresentação?
Savannah Lima - Inicialmente eu fiquei nervosa, geralmente não acontece isso em Salvador, mas depois eu relaxei (Risos). O que sempre me chama a atenção, é que quando canto pra determinados Orixás, acontece alguma manifestação da natureza. Desta vez, cantando para Oxum começou a chover, e quando em seguida cantei para Oyá começou a relampejar. Para muitos pode ser apenas coincidência, mas para mim: "Água é Orixá! Vento é Orixá! União do Orí, com alma, Terra, Céu e Mar!" (Trecho da música Orixá, de minha autoria, que faz parte de Oferendas). Outra sensação forte é a certeza que estaremos de volta, muito em breve.
Que Olódùmarè nos permita. Asè!