Postado em
Lou Albergaria
LAPIDARIUM
Página branca
Que o risco de liberdade
Nos lapide!
O ANIMAL QUE SOLETRA
A porção de Deus
que trago em mim – Dentes
de leite, os olhos arregalados
por um girassol
arrematando
a ponta das tranças – este olhar
de espanto
dos que precisam
transitar em areia movediça
e ser a ponte
entre o sagrado
e,
o relógio de ponto.
ROSA ESTÁ VIVA!
Nietzsche escreveu – “Da
escola de guerra da vida:
o que não me mata, torna-me mais forte.”
Eu não sei, Senhor, para que
tanta força tanta força – onde raios mais
vou enfiar tanta força?
Chega! Definitivamente,
mulher não precisa de mais força
– mulher precisa é de flores!
EU SEGUREI UM MANUSCRITO DE WILLER
Poucas coisas queimam
mais que fogo: – uma pétala,
a corrente de prata do turíbulo
balança feito o pêndulo do relógio
e a pólvora dentro – extraída
do diamante triturado
na poeira cósmica
daquela estrada, lembra-se?
– Era março de ... ! – Era o belo
horizonte: seus olhos
embalsamados
nas curvas hiperbólicas
do lugar – e
o manuscrito em minhas mãos
ainda queima! tal o incenso
nascido para purificar.
ANSEIO
Anseio ao estado de poesia
que é o mais puro néctar
dentro das pedras:
Magma!
Ou,
é só a voz da minha mãe
chamando:
“Venha comer, filha...”
FLUXO
Um certo complexo de delicadeza
construído em argamassa
e madeira de lei – o fluxo das moradias
sobre as águas:
casas flutuantes
presas somente pelo códon
e pelo riso que vem de dentro:
ecos nos corpos – acústica perfeita,
quase livre sonha a lua
em órbita:
fio de luz – cordão umbilical.
No fluxo, as perdas se autodevoram:
e no fim – sobressai
o cheiro forte de líquido amniótico.
Lou Albergaria é autora dos livros O Cogumelo que Nasce na Bosta da Vaca Profana (Editora Vidráguas, 2011)
e Dentro do Sol Vermelho (Editora Pautá, 2014).