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Rogério de Campos

Crédito: Leila Fugíí
Crédito: Leila Fugíí



Rogério de Campos é escritor, jornalista e tradutor. Nascido em São Paulo, colaborou com publicações como a Folha de S.Paulo e a revista SET. Fundador da Editora Veneta, Campos lançou, em 2012, seu Livro dos Santos, com selo próprio. Antes disso, esteve entre os criadores da Conrad Editora e publicou o romance Revanchismo (2009, Editora Amok). Aos 52 anos, o escritor acredita que o caminho para um voo mais alto no mundo das letras é mostrar uma visão crítica da sociedade e publicar o que gosta. Com isso em mente, a Veneta publicou livros do inglês Alan Moore. Neste Encontros, Rogério de Campos fala sobre sua experiência no universo editorial.


Início nas revistas

Comecei no ramo editorial com a ambição de ser quadrinista. Na época, eu desenhava. Aí veio a ideia de fazer uma revista de quadrinhos brasileira, porque as bancas eram dominadas pelos quadrinhos de super-heróis e tinha muita coisa acontecendo fora disso na Europa, que eu vinha acompanhando.

A revista se chamava Animal, e foi nesse momento que eu me profissionalizei. Publiquei algumas tirinhas no primeiro volume e depois nunca mais. Quando comecei a olhar o trabalho dos outros, vi que não valia a pena gastar papel com o meu. Depois disso, trabalhei no Estado de S. Paulo e na Folha de S.Paulo, escrevendo sobre cultura pop e quadrinhos.


Criação da Conrad

Até que chegou o momento de montar uma editora própria, e lançamos a revista General, que era de música e cultura pop de modo geral. Era uma revista à frente de seu tempo. Para se ter uma ideia, demos uma capa com o Chico Science, só que foi três meses antes de sair seu primeiro disco – o que não ajudou. Quando a gente começa, tem o ego muito grande e acha que vai ficar rico, que vai ter a maior editora do país.

Não foi nada disso. A gente já estava com a corda no pescoço, cheio de dívidas, quando lançamos a Herói, uma revista simples e absolutamente sem pretensão. E vendeu barbaridades. A revista começou bimestral, passou para mensal, depois quinzenal, semanal e chegamos a fazer duas por semana. Vendíamos um milhão de exemplares por semana. Foi a revista mais vendida do Brasil durante um tempo.
 

Progressão para os livros

Meus sócios notaram que eu estava cansado de fazer só revistas e me deixaram fazer livros. Começou uma coisa pequena, sem grandes ambições. Foi crescendo e crescendo, até que chegou uma hora em que a editora eram os livros. Livros de quadrinhos e outras coisas malucas que fiquei fazendo. Naquela época, anos 1990, as grandes editoras estavam fechando suas seções de quadrinhos.

As pessoas acham que consigo as coisas porque tenho bom gosto e faro para ir atrás dos melhores quadrinhos. Mas, na verdade, foi como um daqueles concursos em que você ganha para fazer compras no supermercado sem pagar nada. Eu conseguia comprar tudo quanto era título porque nenhuma outra editora estava interessada. Imagine que comprei o Sandman por 700 dólares. Hoje em dia, não se compra um livro do Neil Gaiman por menos de 20 mil. Eu dei sorte nessa coisa de ser empresário.

Então a Conrad cresceu, ficou uma coisa imensa. Para muita gente, é a editora dos quadrinhos. Para muita gente, é a editora dos mangás. Para outro tanto, a editora das revistas de videogame. E tinha gente que via como a editora dos livros de fantasia. Ficou uma coisa maluca, que não tinha como controlar.


A Veneta

Por essa mistura toda da Conrad, minha ideia na Veneta é fazer o que me dá na telha. Saímos em dezembro de 2012 e, em menos de um ano de criação, fomos indicados ao Prêmio de Melhor Editora da HQMix, em 2013. A ideia é publicar quadrinhos e livros que não chegam no Brasil. O Arte de Voar (2009) foi o quadrinho que detonou o nascimento da editora. Ao longo dos anos, fui fazendo amigos nesse ramo, pessoas com as quais tive a sorte de conviver, e Arte de Voar chegou à minha mão. Na época, a Conrad tinha sido vendida e não era interessante publicar lá, então esqueci o livro. Um dia, estava lendo-o em casa e pensei: “Preciso publicar esse negócio”.


Escolhas editoriais

Não sei exatamente por que eu escolho tal ou tal livro. Há uma expectativa de não fazer o que os outros já estão fazendo. Parece muito tedioso publicar coisas na mesma linha das outras editoras. Consigo falar por que cada um dos livros que publico merece estar no Brasil, mas explicar por que publiquei este livro e não aquele não está muito claro para mim. Por isso o nome da editora, pois é uma coisa que vem de “veneta”.



“Não sei exatamente por que eu escolho tal ou tal livro. Há uma expectativa de não fazer o que os outros já estão fazendo. Parece muito tedioso publicar coisas na mesma linha das outras editoras”

O jornalista, tradutor e editor Rogério de Campos esteve presente na reunião do 
Conselho Editorial da Revista E no dia 15 de maio de 2014