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Turismo através do tempo

José de Paula Barbosa

Ao pensarmos no turismo como forma de deslocamento humano, temos, inicialmente, que diferenciar migração de viagem. A migração existe desde a época do Homo erectus, quando ele vivia em busca de caça e extrativismo ou mesmo de novas cavernas para seu sustento, portanto, isso não caracterizava uma viagem. Viajar implica, automaticamente, deslocamento com retorno, e nosso homem da caverna só ficava estacionado em um lugar desde que este pudesse lhe garantir o sustento - quando em busca de sua subsistência, não pensava em voltar ao seu lugar de origem.

Em nossa história, encontramos diversos povos que, para sua sobrevivência, deslocaram-se durante muito tempo de um ponto a outro de forma nômade, o que também não representa uma viagem de turismo.
Até os dias de hoje restam dúvidas quanto ao início do turismo propriamente dito. Alguns autores acreditam que as primeiras viagens de turismo teriam se iniciado por volta do século 8 a. C., na Grécia, quando as pessoas viajavam para ver os jogos olímpicos a cada quatro anos. Outros autores acreditam que os fenícios, por terem sido os inventores da moeda e do comércio, foram os primeiros viajantes. Porém, é certo que a viagem sempre foi uma ação que se originava de um contexto dentro do qual a sociedade estava inserida em determinado momento histórico. Representou um dos componentes da vida econômica e social dos homens no decorrer de cada época e para cada civilização.

Mas, ao olharmos para o passado de nossa história, não podemos esquecer os romanos que, por sua sagacidade para a conquista, foram ao largo dessas epopéias, construindo estradas - fator determinante para que o povo romano fosse considerado um dos primeiros a viajar por prazer.

Todavia, já na Idade Média - dada a composição da sociedade (nobreza, clero e servos), que pelo feudalismo baseava-se na fixação do homem na terra, ou seja, uma sociedade totalmente agrícola sem necessidade de deslocamento -, as antigas estradas feitas pelos romanos foram aos poucos sendo destruídas e caíram em desuso. Assim, viajar, só mesmo em situações imprescindíveis, pois além do perigo existia o desconforto pela falta ou precariedade das estradas e as grandes distâncias a serem percorridas.

O Renascimento promoveu o retorno à curiosidade e à procura pelo conhecimento. Expandiram-se, igualmente, as viagens da aristocracia, motivadas pela demonstração do novo status e poder econômico. Essas viagens foram consideradas manifestações nas quais se estabeleceram as bases do turismo moderno. Com o advento da Revolução Industrial houve, também, uma revolução cultural, artística e uma modificação nas relações sociais, quando surgiram importantes alterações no sistema econômico e, assim, todo esse ambiente de efervescência contribuiu também para o aparecimento de uma nova estrutura urbana. O local de residência foi separado do de trabalho e os interesses comerciais tornaram-se foco de curiosidade e de atrativos turísticos para as cidades, desenvolvendo as formas de hospedagem e dando origem a uma classe operária que nelas trabalhava. Nesta nova sociedade o que passou a prevalecer foi a diplomacia.

A partir de 1600 os serviços começaram a ser aperfeiçoados. Foram organizados os primeiros transportes coletivos com horários e itinerários fixos e novas estradas foram abertas. A circulação fluvial também acompanhou esse progresso. Mas os preços elevados das tarifas fizeram com que os viajantes se agrupassem, de forma a reduzir os custos de cada viagem.

Fator marcante de expansão surgiu no século 20, determinando definitivamente as atividades turísticas. No período compreendido entre as duas grandes guerras, o automóvel veio revolucionar ainda mais as novidades da época, e o turismo continuou crescendo; do automóvel passou-se para o avião e as distâncias diminuíram, oferecendo ao viajante mais conforto, segurança e rapidez.

Viajar nos dias de hoje tornou-se vital, e a massificação do turismo pode ser explicada por fatores socioeconômicos que contribuíram para o seu desenvolvimento, dentre os quais destacamos a paz, a prosperidade, o aumento da população, a urbanização, a industrialização, a expansão do nível de negócios, uma maior disponibilidade de renda, a ampliação do tempo livre e, por fim, os avanços tecnológicos especialmente nos meios de comunicação, de transporte e de comercialização dos bens e serviços turísticos.

Hoje, as viagens turísticas ocupam lugar de destaque nas relações econômicas, sociais e políticas das sociedades. O turismo, sendo caracterizado por um tipo de serviço à disposição do homem da sociedade industrial moderna, passou a integrar a vida de todas as nações e a contribuir de maneira significativa em todos os setores, tornando-se imprescindível para as atividades econômicas do século 21.

José de Paula Barbosa é administrador de empresas e gerente do Sesc Paraíso