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Cultura da Transformação


Crianças e jovens são beneficiados pela arte em trabalhos sociais
 


De 30 de setembro a 3 de outubro, o Sesc Vila Mariana realiza o II Congresso de Cultura Ibero-Americana (veja boxe Unidos pela cultura), cujo tema explora a relação da cultura com a transformação social e seu potencial econômico. Além de proporcionar um interessante intercâmbio entre os países da América Latina e da Península Ibérica, o encontro é uma boa oportunidade para ampliar a discussão entre diversos segmentos da sociedade.

“A cultura, em suas múltiplas formas, propicia a eclosão da consciência crítica para o desenvolvimento social e econômico do país”, afirma a coordenadora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria Stela Graciani. “Trabalhar com a cultura é uma das fórmulas fundamentais utilizada para promover a transformação social.” Essa é a perspectiva de associações, organizações não governamentais (ONGs) e outros segmentos que atuam em comunidades em locais de risco, num caráter de complemento das ações do Estado. Grande parte das ações tem como alvo principal crianças e jovens, em geral o público mais vulnerável nessas regiões.

Maria Stela Graciani, também membro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e coordenadora do Núcleo de Trabalhos Comunitários, da PUC-SP (NTC), explica que uma das chaves para a inserção e o gozo da cidadania plena é a valorização da diversidade cultural, que, especialmente no caso do Brasil, constitui-se num terreno bastante fértil. “Esses trabalhos concretizam uma visão sobre valores e tradições de um povo que historicamente se miscigenou”, explica. “Não só nas relações étnicas e raciais, mas nas lutas emancipatórias do país, tendo como foco a igualdade social, a justiça e a solidariedade.”

Em sua experiência como educadora, a especialista considera que o uso das relações culturais gera o que ela chama de uma “criatividade emancipada”, autônoma e independente. “A cultura criada e recriada, principalmente por contingentes juvenis, é facilitadora e propulsora do desenvolvimento social e econômico”, diz a professora.

Além dos muros da escola

Trabalhar com a cultura na sua diversidade é uma das características das ações da Associação Educacional e Assistencial Casa do Zezinho, localizada na Zona Sul de São Paulo. Por meio de atividades culturais e de metodologias que capacitam educadores e vão além da educação formal de crianças e jovens, o desenvolvimento humanístico prevalece. “Temos de mudar o Brasil pela educação e, para isso, não podemos dissociá-la da identidade do indivíduo”, declara a pedagoga Dagmar Garroux, fundadora da associação. Segundo Dagmar, “educar para a vida” vem sendo o objetivo principal da instituição desde a criação, em 1976. Para tanto, os “zezinhos”, como são chamados os alunos de 6 a 21 anos atendidos pela casa, são educados dentro de uma filosofia sustentada por quatro pilares: ser, conhecer, saber e fazer. E a cultura é o cenário permanente. “A preocupação é desenvolver o ser humano, diferentemente das escolas, que pecam nesse sentido, ao negarem o princípio básico da criança: o sonho”, avalia.

Associação Educacional e Assistencial Casa do Zezinho
Público atendido: 1.200 jovens e crianças
Profissionais: 50
Custo: 3 milhões de reais
Projetos: complementação pedagógica, educação moral e ética, orientação em saúde, medicina complementar, atendimento odontológico, psicológico, acupuntura, naturologia e iridologia, convênios médico, hospitalar e oftalmológico, atendimento às famílias, alimentação básica e re-educação alimentar.

 

Direito à arte

Ao organizar eventos como a Balada Black e o Movimento Hip Hop, a também paulistana União de Núcleos Associação dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco (Unas) agrega centenas de jovens em torno de músicas e expressões artísticas. Os encontros levam o lema de diversão com responsabilidade e reforçam a difusão da cultura hip hop no local. A Rádio Comunitária Heliópolis (87,5 FM), hoje legalizada, alia-se a esses projetos. Além disso, a Unas dispõe da biblioteca comunitária onde realiza saraus e mediação de leituras. Já o Lata na Favela, grupo de percussão, tem o objetivo de resgatar as tradições afros e de tratar de questões raciais.

“Contribuímos com formação educacional e profissional porque acreditamos no sujeito como protagonista da história e como transformador social”, afirma Lais Fonseca, membro da diretoria e coordenadora de comunicação da entidade.

União de Núcleos Associação dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco (Unas)
Público atendido: 1.500 jovens e crianças
Profissionais: 350
Custo: 3 milhões e 850 mil reais
Projetos: formação profissional e de geração de trabalho e de renda; lazer (leitura, música, esportes etc.) e proteção social.

Artistas-cidadãos

A transformação social e a preservação do ser humano, estimulado pelo convívio cultural, desembocam de forma semelhante na missão da Companhia de Teatro Heliópolis. Formada em 2000, na Zona Sul de São Paulo, ficou conhecida pelo projeto Arte e Cidadania em Heliópolis. O intuito principal incide na formação de artistas-cidadãos, que durante encontros diários e acompanhamento educacional criam um espetáculo ao final de cada semestre de atividades.

De acordo com um dos criadores da companhia, o ator e diretor Miguel Rocha, o projeto é voltado a todos que se interessem pela arte do teatro, mas o foco especial são os jovens. “Não se trata somente de um trabalho social, mas um trabalho artístico como possibilidade de melhorar a autoestima dos alunos, sua convivência em grupo e a conscientização do trabalho coletivo”, sintetiza. Segundo o artista, estimular as mais diversas expressões artísticas “ajuda os jovens a refletirem sobre a vida fora do palco”. Os artistas-cidadãos recebem aulas de voz, canto, dança e interpretação. 

Companhia de Teatro Heliópolis
Público atendido: 150 jovens
Profissionais: 40
Custo: 133 mil reais
Projetos: formação de jovens em artistas-cidadãos; consolidação, conservação e ampliação de um núcleo de pesquisa teatral com jovens da comunidade de Heliópolis, na Zona Sul de São Paulo; criação de espetáculos, aulas de expressões corporais, voz, canto, dança, interpretação; aulas de filosofia e história.

Inédito no Brasil

Desenvolver a sociedade e garantir direitos de crianças e adolescentes é uma das metas do projeto Plataforma dos Centros Urbanos, organizado de forma inédita pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A iniciativa tem como principal objetivo promover a redução das desigualdades e a melhoria das condições de vida nos centros urbanos. O projeto concentra-se em locais de vulnerabilidade social e em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com a coordenadora do escritório do Unicef em São Paulo, Anna Penido, o projeto busca diminuir a desigualdade socioeconômica. “O projeto é inovador e está sendo feito aqui porque as grandes cidades no Brasil vêm crescendo econômica e socialmente de forma desigual”, explica. “Quem mora em Pinheiros, por exemplo, vive completamente diferente daquele morador de Heliópolis.” Para alcançar os objetivos, no entanto, foram estabelecidas metas a serem cumpridas pelos municípios e pelas comunidades, a partir de um mapeamento sociocultural realizado pelos próprios grupos participantes. Quem conseguir chegar lá recebe, além das melhorias na região geradas pelo engajamento no projeto, a certificação do Unicef e uma homenagem pública, a ser divulgada nacional e internacionalmente.

Plataforma dos Centros Urbanos (Unicef)
Total de comunidades mobilizadas: 126
Comunidades no Rio de Janeiro: 63
Comunidades em São Paulo: 60
Comunidades em Itaquaquecetuba (SP): 3
Total de lideranças mobilizadas: 1 mil, dos quais 256 são adolescentes que foram capacitados pela iniciativa
Famílias beneficiadas: 3 mil famílias por comunidade
Total de famílias beneficiadas: cerca de 370 mil
Total de crianças beneficiadas: aproximadamente 800 mil no conjunto das três cidades, considerando que cada família tem 2 filhos

 

Unidos pela cultura
Sesc São Paulo torna-se parceiro na realização do II Congresso de Cultura Ibero-Americana

Ao lado do Ministério da Cultura e da Secretaria Geral Ibero-Americana (Segib), o Sesc São Paulo é um dos realizadores do II Congresso de Cultura Ibero-Americana – Cultura e Transformação Social, de 30 de setembro a 3 de outubro, na unidade Vila Mariana. O objetivo do evento, que reunirá especialistas de universidades e instituições, entre outros pesquisadores e autoridades, é promover ações conjuntas para o desenvolvimento de políticas culturais.

Desde sua criação, a rede Sesc tem desenvolvido programas voltados ao bem-estar social em todo o país.

Essa atuação sólida – com destaque nas áreas da educação não formal, saúde, lazer e cultura – levou a instituição a ser indicada para a realização da segunda edição do encontro, que reúne países da América Latina (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela), e da Península Ibérica (Andorra, Espanha e Portugal). “Se na história da América o descobrimento e o processo de colonização são capítulos polêmicos, não podemos negar a vasta possibilidade que nos apresenta este II Congresso de Cultura Ibero-Americana de (re)descobrirmos não só a nós mesmos, como também aqueles com os quais nos deparamos, por intermédio da cultura e da arte”, afirma o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda. “Especialmente porque não há mais uma rota determinada de influências entre a América e a Península Ibérica, mas uma reciprocidade de fluxos e trocas culturais.” Para a solenidade de abertura, no dia 30 de setembro, estavam programados os pronunciamentos do Ministro da Cultura do Brasil, Juca Ferreira; do governador de São Paulo, José Serra; do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; e do secretário-geral da Secretaria Geral Ibero-Americana (Segib) Enrique Iglesias. Entre as principais presenças confirmadas para o Congresso estão os Ministros da Cultura do Brasil, Juca Ferreira; do Paraguai, Ticio Escobar; do México, Consuelo Sáizar; da Colômbia, Paula Moreno Zapata; e da Espanha, Ángeles Gonzáles-Sinde – além do cineasta argentino Octavio Getino, e do presidente da Rede de Promotores Culturais da América Latina e do Caribe, o colombiano Octavio Aberláez.

Paralelamente ao congresso, será realizada uma programação envolvendo artes cênicas, audiovisual e artes visuais. Como parte da grade, o Sesc Vila Mariana exibe a mostra Transformar Com Arte, de Bené Fonteles, aberta ao público no dia 30 de setembro; o CineSesc sedia, no dia 1º de outubro, a Mostra de Documentários Doc.TV Ibero-Americano; e a unidade Pompeia apresenta, no dia 2, a peça El Quijote, com o Grupo Pombas Urbanas e artistas de grupos teatrais comunitários da Ibero-América, marcando o lançamento da Rede Latino-Americana de Teatro Comunitário.

O encerramento, no dia 3, será no Museu Afro-Brasil, no Parque do Ibirapuera, com uma reunião de Ministros da Cultura dos países ibero-americanos.

 


Contatos imediatos
Projeto Santo Amaro em Rede – Culturas de Convivência identifica o perfil cultural da região sul de São Paulo

Em andamento no Sesc Santo Amaro, uma pesquisa delineia as dinâmicas culturais da região, com vistas a disponibilizá-las em um site multimídia, estimular intercâmbios e trocas de experiências entre os agentes culturais do bairro.

Chamado Santo Amaro em Rede, o projeto vem sendo desenvolvido há dois anos pela unidade. A iniciativa mobiliza dez pesquisadores do próprio bairro, cuja função é identificar as ações e as entidades de caráter sociocultural que desenvolvem práticas artísticas na região. Depois de apuradas, as informações qualificadas serão difundidas em uma hipermídia e constantemente realimentadas para que a rede de ação cultural não deixe de se espalhar. Dessa maneira, materiais audiovisuais, textos e imagens, além dos mapas que indicam a localização de cada experiência, estarão integrados e ao alcance de todos no site.

O endereço eletrônico servirá ainda como uma ferramenta colaborativa, já que cada grupo, entidade ou artista integrante da rede poderá alimentar um banco de dados, alterando o seu conteúdo. O projeto, coordenado pelo técnico do Sesc São Paulo (unidade Santo Amaro) Marcos Luchesi, também será registrado em uma publicação que analisará o perfil sociocultural da região. Os primeiros resultados parciais da pesquisa foram apresentados em julho, no Espaço dos Coletores de Cultura, e reuniu 131 entidades da região. Até meados de 2010, quando está prevista a inauguração das novas instalações da unidade, devem ocorrer a realização de encontros temáticos e a reativação do Fórum de Cultura Regional e Mostras Culturais, com as manifestações culturais encontradas na pesquisa.