PAISAGENS E OLHARES
por
Maria Ivani Rezende de Brito Gama

Ilustrações: www.marcosgaruti.com
A
verdadeira viagem da descoberta não consiste em
procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos.
Marcel Proust
Citando o escritor
francês, começo uma viagem pela minha memória, resgatando
lembranças e descobertas que vivenciei na cidade em que nasci,
São Paulo, onde moro até hoje.
Na minha infância, na região em que morava, havia árvores
por todos os lados e quase não circulavam carros. Ali, a vizinhança
toda se encontrava para brincar depois da escola e idade não
era um problema, pois as regras eram adaptadas para a participação
de todos. A cada hora uma nova sugestão aparecia: apostar corrida,
jogar taco ou queimada, correr, subir em árvores ou pular corda;
era uma alegria que saltava aos olhos.
Foi por essa oportunidade de brincar na rua e me divertir tanto que,
na adolescência, me inscrevi no clube da prefeitura próximo
de casa para praticar vôlei, atletismo e ginástica olímpica.
Assim, conheci novas pessoas e, juntos, curtimos os desafios dos esportes,
numa idade em que foi crescente o meu interesse pela atividade física.
Essas experiências passadas na infância e na adolescência
contribuíram para minha escolha profissional, e fui parar na
faculdade de educação física. Nesse período,
participei de muitos eventos em parques e ruas de lazer, o que aumentou
meu interesse pela ocupação dos espaços para a
prática esportiva na cidade.
Ao longo destes anos, com o crescimento desordenado da cidade, o aumento
da população, a construção de novas avenidas
e a crescente utilização de carros, percebemos que as
áreas de lazer existentes são, hoje, insuficientes. Assim,
sem espaço para brincar na rua, as crianças e os adolescentes
encontraram, em casa, outras formas de se divertir, com a internet e
o videogame.
A televisão também aparece como forma de entretenimento,
com um cardápio de programas para todas as idades e interesses.
Algumas das programações com maior audiência são
os espetáculos esportivos, que trazem situações
emocionantes e, muitas vezes, fazem sentir-nos dentro do campo, participando
das jogadas.
Nesse sentido, a magia da contemplação pode nos levar
ao desejo de sair da frente da televisão e praticar um esporte.
Muitas pessoas, tomadas por esse impulso, buscam essa prática
para se aproximar das emoções vivenciadas no sofá.
Ainda assim, o número de espectadores é muito superior
ao dos praticantes.
Existem inúmeras razões para esse fato. Uma delas é
que a mídia apresenta somente o esporte de alto rendimento, sem
detalhar que a descoberta desses atletas é fruto de um funil
por que passam milhares de pessoas. Somente alguns poucos possuem o
talento necessário para determinados esportes. E poucos desses
viram Ronaldos e Romários, combinando dedicação
a um exaustivo treinamento diário. De modo geral, não
se veicula, também, a emoção e o prazer de um indivíduo
comum que participa dessa prática.
Assim, o que se percebe no comportamento do público que pratica
um esporte é a repetição do comportamento recebido
pela mídia, em que não se considera a participação
de todos, somente dos mais habilidosos.
Um dos caminhos para aumentar o número de praticantes é
a proposta do Sesc Verão 2007, com o tema Esporte! Na Prática
Todo Mundo Pode. É uma campanha educativa que enfatiza a participação
de todos e apresenta uma alternativa para que esse olhar sobre o esporte
seja divulgado.
Hoje, certamente, é difícil encontrar ruas livres e seguras
para brincar, mas podemos olhar com mais atenção as paisagens
próximas de nossos bairros, como parques ou escolas, e descobrir
as possibilidades de praticar ou conhecer novas modalidades esportivas.
O importante é ter a ousadia de procurar esses locais e estar
aberto para interagir com um novo grupo.
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MARIA IVANI
REZENDE DE BRITO GAMA, FORMADA EM
EDUCAÇÃO FÍSICA, É TÉCNICA DO SESC
SÃO PAULO
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