MOVIMENTE-SE!
 Corrida de 10 quilômetros realizada na Universidade de São Paulo (USP) e que reuniu cerca de 10 mil participantes em 28 de maio de 2006
Cada vez mais pessoas encontram na corrida a prática preferida para sair do sedentarismo e buscar uma vida mais saudável
Waldenyr Caldas, professor de cultura brasileira da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP), sempre chamou a atenção dos colegas por cultivar um hábito que - ao menos nos anos 70 -, segundo ele, passava longe do perfil daqueles que tinham o mundo das idéias como área de atuação: gostar de esportes. "Os meus amigos achavam perda de tempo cuidar do corpo", conta. "Isso era considerado um comportamento pequeno-burguês. Tinha de cuidar mesmo era da cabeça. Muita leitura, muita sociologia e discussão política. As outras coisas eram desimportantes." No entanto, a despeito dos conceitos usados para avaliar o estilo de vida do homem contemporâneo, o professor Caldas nunca acreditou na teoria de que atividade intelectual e física seriam como água e óleo. "E, na verdade, não era propriamente só manter o corpo, mas a saúde", continua. "Como sempre levei a sério minha saúde, eu estava na contramão do que acontecia em meu círculo social." No caso, o professor não apenas andava na contramão, ele corria no sentido oposto ao do pensamento dos colegas. Literalmente. Desde 1979, o professor é adepto da prática esportiva que vem abrindo cada vez mais espaço entre as modalidades preferidas da população, a corrida. "O que me levou a praticar corrida foi a vontade que eu sempre tive de praticar exercícios físicos", afirma. "Eu gostava de correr, suar e sentir o prazer do cansaço misturado ao suor. Nunca me dei bem na água, por isso, investi nas corridas de longa distância." O início foi tímido. Depois do aquecimento, arriscava um percurso de 3 quilômetros. Hoje, mais de duas décadas depois e com 64 anos, o professor percorre 12 quilômetros diariamente. "A corrida como exercício físico é um excelente regulador da pressão arterial e aumenta substancialmente a capacidade pulmonar. Um corredor respira melhor."
CORRER "VICIA"?
O professor-doutor Antonio Carlos da Silva, chefe da disciplina Neurofisiologia e Fisiologia do Exercício do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), assina embaixo e esclarece que a corrida, um exercício aeróbio - ou seja, que eleva o consumo de oxigênio -, melhora a capacidade cardiorrespiratória e muscular e aumenta a tolerância às exigências físicas, tornando as atividades da vida diária mais leves. "Considerando que a sensação de fadiga geral ou específica está associada a um grau de exigência superior à capacidade do indivíduo, a corrida reduz o cansaço físico resultante das exigências físicas do dia-a-dia", explica o professor, também presidente do Centro de Estudo de Fisiologia do Exercício (Cefe). "Além disso, há repercussões sobre o humor, a ansiedade e a depressão, contribuindo para que o indivíduo melhore sua autoconfiança, auto-imagem, sociabilidade e diminua o estresse." É difícil imaginar prazer e satisfação numa pessoa correndo, toda suada, e com aquela careta que geralmente fazemos durante um esforço físico? Pois anote isso: a sensação é causada pelos hormônios "acionados" durante a atividade. "Os hormônios corporais reagem a estímulos internos e externos", explica o professor Dilmar Pinto Guedes, especialista em treinamento desportivo e também pesquisador do Cefe. "Eles atuam no funcionamento de células, tecidos, órgãos e sistemas corporais. Alguns hormônios atuam diretamente no sistema nervoso central, proporcionando sensações e, como conseqüência, alguns comportamentos." Entre os associados ao movimento está um neurotransmissor chamado endorfina. Ou, para usar um termo mais apropriado, a betaendorfina. O professor Antonio Carlos explica: "Dados científicos sólidos para essa hipótese ainda não estão disponíveis, mas as betaendorfinas teriam uma ação sobre regiões do sistema nervoso central relacionadas com a sensação de bem-estar, a diminuição da sensibilidade dolorosa, o humor, a depressão etc.". Segundo o pesquisador, outros hormônios que exercem a função de neurotransmissores também entram em cena na hora da corrida, como a serotonina. "Ela possui ação comprovada sobre o humor, a ansiedade e a depressão, e também tem a produção aumentada quando o indivíduo pratica exercícios físicos." Isso sustentaria, em parte, o comentário comum de que a corrida "vicia". Mas, segundo os especialistas, a relação não é apenas química. "Fatores psicológicos podem influenciar [o vício pela corrida]. Principalmente quando a corrida é realizada em locais abertos, como praias, bosques, parques etc.", afirma o professor Guedes referindo-se ao bem-estar que a atividade pode proporcionar quando é praticada em ambientes naturais.
FONTE DE ENERGIA
Outro elemento essencial para explicar o aumento de energia dos corredores, segundo informa a nutricionista Mirtes Stancanelli em texto publicado no periódico Atividade Física - O Site da Vida Saudável, está na reação do corpo em movimento com um elemento químico chamado potássio, mineral essencial para o organismo. "A prática de exercícios físicos aumenta os níveis de potássio, que é essencial para a formação de uma enzima, a piruvato quinase, que ajuda no processo de produção de energia. O potássio é utilizado na contração muscular proporcionalmente à quantidade, intensidade e duração das contrações." Mirtes esclarece ainda que, quanto mais se gasta o potássio, mais estimulado fica o organismo para armazená-lo. "Por isso é importante, após os treinos, uma dieta que inclua quantidades razoáveis de potássio." A nutricionista dá a dica das grandes fontes do mineral: cereais integrais e alimentos frescos, como salmão, abacate, damasco, agrião, melancia, cenoura, abacaxi, tâmara, suco de laranja e banana.
CORRIDAS DE RUA
Mesmo com tantos benefícios, até o início dos anos 70 a corrida não era das atividades físicas mais populares - na verdade, a prática esportiva no geral demorou a aparecer entre os agentes de melhoria da saúde e da qualidade de vida. O quadro mudou, no caso específico da corrida, com um conceito introduzido pelo médico norte-americano Kenneth Cooper. Para quem não está ligando o sobrenome ao assunto, trata-se da pessoa que criou o método Cooper, que consiste em corridas de 12 minutos de duração, método usado até hoje como teste de resistência. O novo conceito, além de associar o esporte e a atividade física à saúde, também teve sua parcela de responsabilidade na transição da corrida das raias profissionais para as ruas, parques e academias. Um dos motivos para o interesse na prática é a campanha promovida pelos médicos - e também pela mídia - a favor do exercício como forma de garantir uma vida mais saudável. "Isso [o aumento do número de adeptos da corrida] está associado à crescente conscientização dos segmentos mais diferenciados da sociedade com relação aos malefícios do sedentarismo", explica o professor Antonio Carlos. "Outra razão é o fato de a corrida permitir ao indivíduo estabelecer seus próprios objetivos e freqüentemente ter a si mesmo como referencial para obter resultados." Esse crescimento pode ser comprovado pela quantidade de provas e corridas de rua. Segundo o vice-presidente da Associação dos Treinadores de Corrida (ATC), de São Paulo, Nelson Evêncio, o número de provas voltadas para o público em geral aumentou de 11 eventos por ano em 2001, para 250 em 2006, em todo o Brasil. "A corrida de rua é a prática esportiva que mais cresce no Brasil", afirma Evêncio.
DISPOSIÇÃO
Essa tendência está sendo seguida por pessoas cuja profissão passaria, ao menos teoricamente, longe do esforço físico. O engenheiro civil Fábio Eduardo Corcione, de 39 anos, é uma delas. Há quatro anos, Fábio decidiu que deveria haver espaço para a atividade física em seu dia-a-dia. E, por não carecer de um espaço específico, da presença de outras pessoas para a prática e de acessórios esportivos mais sofisticados, a corrida foi a escolhida. "Foi possível conciliá-la com meus compromissos diários", conta Fábio. O início foi de forma leve e na esteira - "já correndo, mas com distâncias pequenas e baixa velocidade", conta -, mas não demorou muito e Fábio já estava ganhando as ruas, inclusive em provas. "Comecei a participar de provas de rua em 2004, na Abertura Corpore, um percurso de 6 quilômetros que realizei em 35 minutos. Depois fiz minha primeira prova de 10 quilômetros, a da Nike, em 53 minutos; em seguida, meu treinador me desafiou a participar de uma meia maratona, 21 quilômetros, a do Pão de Açúcar. Aceitei o desafio e consegui concluir essa prova em 1h50." Cansa só de ler? Pois a psicóloga Julia Rosemberg, de 28 anos, sente-se desanimada justamente quando não comparece a seus treinos diários. "Se passo mais de dois dias consecutivos sem correr, sinto uma evidente falta", diz. "Tenho a impressão de que o meu dia só fica completo se o termino correndo pelo menos 5 quilômetros. Correr vicia mesmo." A psicóloga corre, em média, cinco vezes por semana e foi levada à prática pelo desejo de parar de fumar. "Tinha planejado parar e, no dia em que o plano deveria ser posto em prática, me inscrevi numa academia. Vinha das férias, período em que estava numa boa rotina de andanças. Para não quebrar o ritmo, continuei o esporte, mas percebi que andar na esteira é a coisa mais chata do mundo. Por isso, comecei a aumentar a velocidade, aumentar, aumentar, até que comecei a correr. E isso foi muito rápido." A disposição para correr surgiu depressa também para a jornalista Ana Claudia Domingues, de 28 anos. "Comecei correndo 2 minutos e só!", explica. "Já era muito para mim. Corria 2 minutos, andava 5, corria mais 2... E fiquei assim por uns 15 dias. Depois de um mês já corria 20 minutos direto, intercalando a corrida com caminhadas de uns 5 minutos. Em três meses de treinamento, já corria uns 40 minutos." Claudia Darakjian Tavares Prado, de 42 anos, formada em educação física e gerente-adjunta da unidade provisória Sesc Avenida Paulista, também faz parte do time de pessoas que tem a corrida no seu cotidiano. "Perder um dia de treino faz uma falta danada", conta. "É muito bom, em uma cidade como São Paulo, você ter um refúgio como o Parque do Ibirapuera para correr e dedicar aquele tempo só a você." Claudia, que foi a campeã entre as 200 servidoras participantes da Prova Sesc 60 anos, promovida pelo Sesc Interlagos, em novembro - no ranking geral chegou em 28º lugar -, compartilha o gosto pelo esporte que pratica em parques todas manhãs já há quatro anos com o marido, o professor de educação física Luiz Antônio Domingos Prado, de 45 anos. "Faz três anos que comecei a correr", conta. "No início foi para participar de uma equipe de revezamento, mas a partir daí a prática me pegou." Luiz Antônio, que também participou da prova promovida pelo Sesc Interlagos, relata que a corrida o ajudou a transferir a experiência da melhoria física que o esporte proporciona também para outras áreas de sua vida. "O mais legal é que passei a dedicar algum tempo a mim e isso foi bom tanto para o lado profissional como até para o espiritual."
Ver boxes:
Dicas Iniciação ao movimento Ação e reação Sesc Verão 2007
Antes de começar
- Antes de iniciar a prática da corrida, consulte um médico, principalmente no caso de pessoas acima de 35 anos e que tenham antecedentes na família de doenças cardiovasculares, ortopédicas, metabólicas e neurológicas. Quem tem menos de 30 anos geralmente é dispensado de exames médicos mais elaborados, desde que sejam indivíduos assintomáticos. - Idosos, cardíacos, hipertensos e indivíduos com desvios de postura necessitam de avaliações mais específicas. |
Uma boa rotina
- Passou nos testes? Então é hora de correr, mas procure a orientação de um profissional de educação física. - Evite basear-se apenas em planilhas e tabelinhas publicadas em sites e revistas. Os efeitos e cuidados são diferentes para cada indivíduo. - Respeite cada etapa de treinamento e aumente as distâncias percorridas gradativamente.
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Durante a prática
- Escolha o local, os dias e os horários mais apropriados à sua agenda para ter maior adesão ao programa. - Use um monitor de freqüência cardíaca para controlar a intensidade do exercício, além de roupas leves e tênis com bom amortecimento. - Evite os pisos mais duros, procure treinar na grama ou mesmo na terra. Além o impacto ser menor, a prática torna-se mais agradável ao ar livre.
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Corrida em grupo
- Procure correr com outras pessoas, isso tornará seu treino mais agradável, mas evite comparações com corredores mais experientes. O treino e o condicionamento físico estão entre os fatores que determinam a performance. - Em princípio, todos podem praticar exercícios, incluindo corridas - ou caminhadas, quando a aptidão física ou a saúde assim exigirem. O importante é procurar assessoria para estabelecer as condições mais seguras e mais eficientes.
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Iniciação ao movimento Os programas e atividades da área esportiva nas unidades do Sesc atendem aos mais variados gostos e perfis
Os princípios que norteiam a prática esportiva nas atividades realizadas por todas as unidades do Sesc têm o objetivo de possibilitar uma relação prazerosa e segura com as diversas modalidades. Questões como a adequação, a diversidade, a participação, a contextualização e a reflexão contribuem para garantir uma iniciação esportiva mais natural e até mesmo divertida - afinal, atividade física faz bem ao corpo e à mente também. Um bom começo é o respeito às características de cada um, às fases do desenvolvimento dentro da prática e à realidade na qual o praticante está inserido - em especial, a criança. A etapa seguinte diz respeito à aplicação de temas variados que permitam que cada um crie a própria cultura corporal e de movimento, lançando mão dos benefícios que cada modalidade esportiva pode proporcionar. Já a participação ajuda no momento de integração entre os praticantes, fazendo do esporte uma forma de inclusão social. Elementos pedagógicos podem auxiliar o indivíduo a associar o esporte a fatores que dizem respeito à cultura do corpo. E, por fim, a reflexão proporciona avaliações e discussões acerca da relação entre toda essa teoria e a prática em si, e deve ser, assim como o próprio esporte, um exercício constante que permita a atualização de conhecimentos e o aprimoramento das propostas que compõem esse quadro. Ao lado, algumas práticas esportivas que encontram endereço certo nas unidades do Sesc:
Atividade |
Unidade |
Data |
Clube da Caminhada |
Santos, Interlagos, Sorocaba, Santo amaro, Campinas, Itaquera, Ipiranga e Bauru |
Programa permanente* |
Clube da Corrida |
Interlagos |
Programa permanente* |
Esporte Criança |
Interlagos, Itaquera, Santos, Sorocaba, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Catanduva, Taubaté, Araraquara e Bauru |
Programa permanente* |
Esporte Terceira Idade |
Vila Mariana, Pompéia, Consoloção, Santana, Taubaté, Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, São Carlos e Santos |
Programa permanente* |
Circuito Sesc de Corridas Aniversário do bairro |
Santo Amaro |
14 de Janeiro |
Circuito Sesc de Corridas Dia do Desafio |
Santos |
30 de Maio |
Circuito Sesc de Corridas Semana Olímpica |
São José do Rio Preto |
Junho* |
Circuito Sesc de Corridas Mês do Comerciário |
Interlagos |
11 de Novembro |
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Sesc Verão 2007 Em sua 11ª edição, o programa de férias do Sesc convida todos a praticar esportes
Todos os anos, o verão fica mais quente nas unidades do Sesc com a programação especial que a instituição prepara para receber a estação das férias, do lazer e, claro, da atividade física. As abordagens buscam mostrar saídas para que todos possam usufruir os benefícios das práticas físicas. Neste ano, com o tema Esporte! Na Prática Todo Mundo Pode, o programa quer chamar a atenção do público para o fato de que qualquer pessoa tem condições de estabelecer um vínculo com a cultura esportiva e corporal ao longo da existência, adquirindo hábitos saudáveis e melhorando a qualidade de vida. Por meio de cursos de iniciação esportiva, atividades especialmente pensadas para crianças e idosos, clubes esportivos e um trabalho realizado com empresas da área de comércio e serviços - uma agenda de torneios e campeonatos já tradicional e conhecida como Sesc Empresa -, a idéia é proporcionar o maior número possível de experiências motoras, cognitivas e até afetivas. Entre os valores que o Sesc pretende difundir na área esportiva, a identificação de limites, a autoconfiança, o trabalho em equipe e a superação de desafios aparecem em destaque. Universo que encontra base na educação informal, na promoção da saúde, na autonomia esportiva, na inclusão social, diversidade, integração e repertório motor - ou seja, "acostumar" o corpo ao movimento. O Sesc Verão 2007 oferecerá ainda a chance de a população tomar contato com modalidades esportivas menos acessíveis no dia-a-dia, como o remo, arvorismo, escalada, rally a pé, rapel, o futebol americano e a canoa havaiana; e até esportes olímpicos pouco difundidos, como o arco e flecha, a esgrima e o badminton. Com uma programação voltada para pessoas de todas as faixas etárias, o evento proporciona a todos a oportunidade de ver o esporte como um meio de educação e inclusão, acessível às várias classes sociais. Uma campanha publicitária complementa as ações realizadas nas unidades.
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