Algumas
pessoas perdem a chance de desfrutar dos benefícios da natação
por puro pavor da água, mas cursos específicos podem oferecer
uma nova chance de superar o problema
A
natação é considerada um dos esportes mais completos
que existem. A prática beneficia a respiração, uma
vez que os movimentos executados dentro da água tonificam o diafragma
- músculo localizado entre o tórax e o abdômen, essencial
para respiração -, permitindo uma melhor ventilação
pulmonar. Além disso, a atividade queima cerca de 430 calorias
a cada hora. Parece perfeito, não? Só que tem gente que
não se convence com esses argumentos e prefere se manter longe
da piscina ou do mar. O motivo? Medo da água. "Não
se trata necessariamente de ter uma experiência anterior traumática.
Mas o medo da água se inicia na infância", explica a
educadora de práticas esportivas Eliane Jany Barbanti, professora
do Núcleo de Psicologia do Esporte e Atividade Física (Nupsea)
da Universidade de São Paulo (USP). Segundo a professora, os motivos
pelos quais uma criança pode ter medo ou resistir a entrar na água
são muito variados. Entre eles, Eliane cita o fato de a água
não ser o meio natural em que o ser humano vive, e, às vezes,
a pressão dos próprios pais em fazer o filho nadar o mais
cedo possível. "Para a criança a água é
um elemento desconhecido", explica. "Ela não sabe se
desenvolver nele. Sem mencionar a diferença de temperatura que
existe entre a criança e a água. Esse medo do desconhecido
pode constituir uma das primeiras barreiras que impedem que a criança
se sinta à vontade na água." Quanto à postura
dos pais, a educadora aconselha que o ritmo da criança seja respeitado.
"Forçá-las a entrar na água só serve
para aumentar ainda mais o problema. É certo que algumas resistem
num primeiro momento, mas depois a tendência é que elas se
sintam bem. Mas, uma vez na água, se a criança continua
a não gostar, o melhor é não continuar."

 Abordagem
correta
O fato de ter tido uma experiência pouco feliz com a água
na infância não implica que o problema vá durar para
o resto da vida. Cursos de natação pensados especialmente
para lidar com alunos que desejam superar o medo oferecem uma nova chance
para que o indivíduo possa desfrutar dos benefícios da prática
- além de poder se divertir com uma boa piscina ou tomar aquele
banho de mar. Algumas unidades do Sesc São Paulo contam com o serviço.
"Procuramos mostrar para o aluno que todos os riscos são controláveis
e que há segurança nas aulas pela presença do professor,
estagiário e salva-vidas", explica Marcos Cardoso Gonçalves,
instrutor do Sesc Consolação. "Também aproveitamos
o relato de experiências dos alunos mais antigos. Além disso,
é possível uma adaptação em piscina mais rasa."
O professor de natação Mauro Miyasaki, do Sesc Santo André,
esclarece que a dificuldade de adaptação ao meio líquido
é compreensível. Mas, segundo ele, basta a abordagem certa
para que o aluno se torne mais um assíduo freqüentador da
piscina. "Durante muito tempo o ensino da natação deu
ênfase à mecânica dos movimentos dos quatro estilos
de nado: crawl, de costas, de peito e borboleta", conta. "Ainda
hoje, muitos estabelecimentos de ensino privilegiam esse tipo de abordagem
tecnicista, que não leva em consideração as diferenças
individuais. Tenho alunos que tentaram aprender em outros cursos, mas
se sentiram desmotivados, incapazes de realizar os exercícios.
É aí que a pessoa começa a pensar que jamais será
capaz de aprender a nadar." O método usado na unidade Santo
André, a exemplo das demais, é o de considerar as particularidades
do indivíduo e trabalhar o medo antes de "jogar" o aluno
na água. "Primeiro converso com a pessoa para tentar descobrir
quais foram suas experiências anteriores", diz. "Depois
explico que a piscina não é profunda e que dá pé.
É preciso trabalhar de forma gradativa, de acordo com a possibilidade
de cada um. Assim o aluno vai adquirindo confiança nele mesmo e
no professor." O professor de educação física
Darci Scotton, criador da Mergulhoterapia®, método que visa
a auxiliar pessoas que têm medo ou traumas da água, reitera
que a postura do instrutor é fundamental. "O profissional
deve ter muito tato, muita habilidade para perceber processos internos
do aluno - mentais, emocionais e fisiológicos -, só assim
poderá trabalhar com quem tem medo ou fobia e montar uma estratégia
para lidar com cada caso."
veja boxe
Dicas para perder o medo
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Dicas
para perder o medo
Quebrar barreiras na água é um processo que exige
o respeito das etapas, e isso deve acontecer de acordo com o tempo
de cada um
Adultos
- A principal dica é ter calma. Vá devagar, especialmente
no primeiro contato.
- Não tenha medo de perguntar. Procure saber o tempo todo
o que vai ser feito na aula, a segurança é fundamental
para que o aluno possa relaxar na água.
- Evite ficar ao lado de pessoas que estejam realizando movimentos
bruscos no mar ou na piscina. Isso pode assustar e a intenção
é justamente afastar o medo.
- Respeite o seu limite. Se a água na cintura for o ponto
máximo a que você pode chegar, relaxe e procure curtir
mais esse passo.
Crianças
- A presença do pai ou da mãe na aula ajuda. Aos olhos
das crianças, os pais sempre vão significar uma maior
proteção.
- Valorize cada pequeno progresso. Se o "aspirante a nadador"
for seu filho, faça festa cada vez que o pequeno conseguir
dar mais uma braçada.
- Ainda para os menores: explique as sensações que
ele pode ter na água. Conte, por exemplo, que ela é
mais fria que a temperatura do corpo.
- Atenção, senhores pais: não soltem a criança
na água. Mantenham-na nos braços até que ela
se sinta mais segura e à vontade.
Consultoria:
Eliane Jany Barbanti, professora do Núcleo de Psicologia
do Esporte e Atividade Física (Nupsea) da Universidade de
São Paulo (USP).
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