Postado em
Música
Vinte anos depois do surgimento de bandas como Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso, o rock nacional continua produzindo novos grupos e agitando a cena musical brasileira
BRock. Era assim que muitos chamavam o som que invadiu as rádios brasileiras na década de 80. Era rock, só que brasileiro – daí o trocadilho do termo. A profusão de bandas deixou perplexos público e crítica. Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro eram as principais usinas. Da capital brasileira vieram o Legião Urbana, o Capital Inicial e Paralamas do Sucesso; a cidade maravilhosa era o berço da Blitz e do Barão Vermelho; e os paulistanos Ultraje a Rigor, Ira! e Titãs completavam a cena. “Acho que depois da jovem guarda e da tropicália não tinha aparecido nenhum movimento de rock tão forte no Brasil quanto o que aconteceu na década de 80”, afirma o crítico musical e apresentador de rádio Kid Vinil. “O punk e a new wave foram movimentos muito fortes lá fora e isso refletiu bastante por aqui, acabamos adaptando a nossa linguagem e criando uma identidade pro
nosso rock.” Provando ser mais que um modismo, o rock brasileiro criou raízes, cresceu e deu frutos. Não é à toa que o topo das paradas na MTV quase sempre fica com bandas como CPM 22, Los Hermanos, Detonautas ou Charlie Brown Jr. – alguns dos representantes mainstream do BRock do século 21. “E não são só eles, temos muita coisa alternativa também de qualidade, como os gaúchos do Cachorro Grande, o Ludov e o Gram”, observa Kid.
O rock brasileiro não ocupa mais sozinho o lugar de destaque na mídia, afinal, depois dele muitos outros candidatos a gênero musical sensação surgiram para dividir o trono – antes o axé, sertanejo e pagode, agora a música eletrônica. No entanto, as contribuições que ele trouxe para a música são, segundo o crítico, inegáveis. “É só ver o Cazuza na parte das letras”, segue Kid. “Ele era um poeta que se inspirava em MPB antiga, como Noel Rosa e Lupiscínio Rodrigues, e curtia coisas como Maysa. Outro exemplo são os Paralamas do Sucesso que na parte musical conseguiram uma interessante fusão do pop, da new wave, do reggae e dos ritmos brasileiros, como samba e afoxé. Exemplo disso é ouvir Alagados e sentir influências da música baiana e do reggae.”
O cenário atual do rock nacional prova que o gênero tem fôlego. Silvio Pellacani Jr., da distribuidora de CDs independente Tratore, convive de perto com as novas bandas e garante que elas não param de pipocar pelo Brasil inteiro. “A produção é boa e diversificada. O mais legal é que, felizmente, os grupos estão procurando fazer trabalhos autorais, dando um basta às covers. E, o que é melhor: misturando as influências de sua região”, afirma. “Entre as melhores estão as pernambucanas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, e a paulista Daniel Belleza & Os Corações em Fúria.”
Independência ou morte
A onda de gravadoras independentes que surgiram como alternativa às chamadas majors – megacorporações fonográficas – tem papel fundamental na sobrevivência do rock nacional. Afinal, hoje em dia banda nenhuma precisa sustentar a responsabilidade de ser a grande aposta de um empresário para gravar seu primeiro CD – tampouco ser fenômeno de venda para ter a chance de lançar o segundo. De acordo com essa nova maneira de enxergar o show business, mais vale ter 500 bandas que vendam 5 mil cópias cada uma do que três estouros nacionais que vendam 800 mil”, como analisa o músico Benjamin Taubkin, vice-presidente da Associação Brasileira da Música Independente (ABMI). “Hoje as novas e melhores bandas estão em selos independentes, como a Monstro Discos, de Goiânia, e a Midsummer Madness, do Rio de Janeiro”, informa Kid Vinil. Os números não impressionam – a Midsummer, por exemplo, vendeu cerca de 18 mil CDs de suas 58 bandas até agora –, mas a filosofia é bacana. “O grande barato é que a partir de agora as músicas dessas bandas começarão a sair em MP3 para download gratuito na internet”. As próprias bandas independentes criaram uma rede com um forte esquema de comunicação via troca de arquivos de MP3 e de informações em sites de música especializados. O debate sobre a cena ocorre em listas de discussão que compõem um interessante panorama do novo rock. Essas bandas conseguem o apoio de selos independentes, que auxiliam na gravação e distribuição de CDs, e se ajudam até para viabilizar apresentações fora de seus estados.
A movimentação é tão forte que festivais por todo o Brasil crescem cada vez mais e recebem mais público a cada edição. Entre os principais estão o Bananada Festival e o Goiânia Noise, em Goiânia, o Curitiba Pop Festival, o Festival SP Independente e o Intersection Musicfest, em São Paulo, o Humaitá pra Peixe, o London Burning e o Ruído, todos no Rio de Janeiro, o Porão do Rock, de Brasília, o Mada, de Natal, e por fim o RecBeat e o Abril pro Rock – o mais antigo de todos –, em Recife.
O rock do Raul - Projeto do Sesc Ipiranga traça um panorama da vida e da obra do maluco beleza
Shows, exposição de fotos, exibição de documentários, bate-papos e atividades na internet. Vai ter Raul Seixas para todos os gostos no evento Eu Nasci Há 60 Anos Atrás, realizado até o dia 17 deste mês no Sesc Ipiranga para comemorar o aniversário do músico, nascido em 28 de junho de 1945. Dividido em módulos, o evento vai reunir uma série de bandas para interpretar, bem à sua maneira, clássicos do Raul. A lista de É Só Raul!!! vai de Thunderbird e Devotos de Nossa Senhora Aparecida a Língua de Trapo, passando pela Cansei de Ser Sexy e Astronauta Pingüim. Já a exposição Metamorfose Ambulante aborda a vida e obra do cantor com fotos inéditas de Mário Luiz Thompson, discografia completa e depoimentos de amigos e admiradores. Raul Seixas – O Maluco Beleza, documentário produzido pela STV, Rede Sesc/Senac de Televisão, em co-produção com a produtora We Do Comunicação e direção de Dimas de Oliveira, mostra a carreira de Raul e traz depoimentos de amigos, destacando seu fascínio por Elvis Presley e quanto ele se diferenciou do cenário musical brasileiro da década de 70. Os críticos musicais Kid Vinil e Pedro Alexandre Sanches conversarão com o público sobre a obra de Raul em Ouro de Tolo, enquanto os participantes de Curta Raulzito na Web vão navegar nos sites dedicados ao músico. Confira as datas no Em Cartaz.
Dicas para quem quer mergulhar no cenário do rock
Para comprar: as lojas da boa e velha Galeria do Rock, no centro de São Paulo, entre elas a Play Stereo e a Baratos Afins
Para ver: o Outs, na Rua Augusta, 486, a Fun House, na Rua Bela Cintra, 567, e o Atari, na Alameda Lorena, 2155
Para ouvir: Rádio Matraca, da Rádio USP (93,7 MHz), programa Garagem, na Brasil 2000 (107,3 MHz), e o programa de rock brasileiro da Kiss FM (102,1 MHz)
Para acessar:
www.portaldorock.com.br
www.trama.com.br
www.monstrodiscos.com.br
www.mmrecords.com.br
(Ilustração: Eduardo Burato)