Postado em 01/07/2005
Vinte anos depois do surgimento de bandas como Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso, o rock nacional continua produzindo novos grupos e agitando a cena musical brasileira
BRock. Era assim que muitos chamavam o som que invadiu as rádios brasileiras na década de 80. Era rock, só que brasileiro – daí o trocadilho do termo. A profusão de bandas deixou perplexos público e crítica. Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro eram as principais usinas. Da capital brasileira vieram o Legião Urbana, o Capital Inicial e Paralamas do Sucesso; a cidade maravilhosa era o berço da Blitz e do Barão Vermelho; e os paulistanos Ultraje a Rigor, Ira! e Titãs completavam a cena. “Acho que depois da jovem guarda e da tropicália não tinha aparecido nenhum movimento de rock tão forte no Brasil quanto o que aconteceu na década de 80”, afirma o crítico musical e apresentador de rádio Kid Vinil. “O punk e a new wave foram movimentos muito fortes lá fora e isso refletiu bastante por aqui, acabamos adaptando a nossa linguagem e criando uma identidade pro
nosso rock.” Provando ser mais que um modismo, o rock brasileiro criou raízes, cresceu e deu frutos. Não é à toa que o topo das paradas na MTV quase sempre fica com bandas como CPM 22, Los Hermanos, Detonautas ou Charlie Brown Jr. – alguns dos representantes mainstream do BRock do século 21. “E não são só eles, temos muita coisa alternativa também de qualidade, como os gaúchos do Cachorro Grande, o Ludov e o Gram”, observa Kid.
O rock brasileiro não ocupa mais sozinho o lugar de destaque na mídia, afinal, depois dele muitos outros candidatos a gênero musical sensação surgiram para dividir o trono – antes o axé, sertanejo e pagode, agora a música eletrônica. No entanto, as contribuições que ele trouxe para a música são, segundo o crítico, inegáveis. “É só ver o Cazuza na parte das letras”, segue Kid. “Ele era um poeta que se inspirava em MPB antiga, como Noel Rosa e Lupiscínio Rodrigues, e curtia coisas como Maysa. Outro exemplo são os Paralamas do Sucesso que na parte musical conseguiram uma interessante fusão do pop, da new wave, do reggae e dos ritmos brasileiros, como samba e afoxé. Exemplo disso é ouvir Alagados e sentir influências da música baiana e do reggae.”
O cenário atual do rock nacional prova que o gênero tem fôlego. Silvio Pellacani Jr., da distribuidora de CDs independente Tratore, convive de perto com as novas bandas e garante que elas não param de pipocar pelo Brasil inteiro. “A produção é boa e diversificada. O mais legal é que, felizmente, os grupos estão procurando fazer trabalhos autorais, dando um basta às covers. E, o que é melhor: misturando as influências de sua região”, afirma. “Entre as melhores estão as pernambucanas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, e a paulista Daniel Belleza & Os Corações em Fúria.”
A onda de gravadoras independentes que surgiram como alternativa às chamadas majors – megacorporações fonográficas – tem papel fundamental na sobrevivência do rock nacional. Afinal, hoje em dia banda nenhuma precisa sustentar a responsabilidade de ser a grande aposta de um empresário para gravar seu primeiro CD – tampouco ser fenômeno de venda para ter a chance de lançar o segundo. De acordo com essa nova maneira de enxergar o show business, mais vale ter 500 bandas que vendam 5 mil cópias cada uma do que três estouros nacionais que vendam 800 mil”, como analisa o músico Benjamin Taubkin, vice-presidente da Associação Brasileira da Música Independente (ABMI). “Hoje as novas e melhores bandas estão em selos independentes, como a Monstro Discos, de Goiânia, e a Midsummer Madness, do Rio de Janeiro”, informa Kid Vinil. Os números não impressionam – a Midsummer, por exemplo, vendeu cerca de 18 mil CDs de suas 58 bandas até agora –, mas a filosofia é bacana. “O grande barato é que a partir de agora as músicas dessas bandas começarão a sair em MP3 para download gratuito na internet”. As próprias bandas independentes criaram uma rede com um forte esquema de comunicação via troca de arquivos de MP3 e de informações em sites de música especializados. O debate sobre a cena ocorre em listas de discussão que compõem um interessante panorama do novo rock. Essas bandas conseguem o apoio de selos independentes, que auxiliam na gravação e distribuição de CDs, e se ajudam até para viabilizar apresentações fora de seus estados.
A movimentação é tão forte que festivais por todo o Brasil crescem cada vez mais e recebem mais público a cada edição. Entre os principais estão o Bananada Festival e o Goiânia Noise, em Goiânia, o Curitiba Pop Festival, o Festival SP Independente e o Intersection Musicfest, em São Paulo, o Humaitá pra Peixe, o London Burning e o Ruído, todos no Rio de Janeiro, o Porão do Rock, de Brasília, o Mada, de Natal, e por fim o RecBeat e o Abril pro Rock – o mais antigo de todos –, em Recife.
O rock do Raul - Projeto do Sesc Ipiranga traça um panorama da vida e da obra do maluco beleza
Shows, exposição de fotos, exibição de documentários, bate-papos e atividades na internet. Vai ter Raul Seixas para todos os gostos no evento Eu Nasci Há 60 Anos Atrás, realizado até o dia 17 deste mês no Sesc Ipiranga para comemorar o aniversário do músico, nascido em 28 de junho de 1945. Dividido em módulos, o evento vai reunir uma série de bandas para interpretar, bem à sua maneira, clássicos do Raul. A lista de É Só Raul!!! vai de Thunderbird e Devotos de Nossa Senhora Aparecida a Língua de Trapo, passando pela Cansei de Ser Sexy e Astronauta Pingüim. Já a exposição Metamorfose Ambulante aborda a vida e obra do cantor com fotos inéditas de Mário Luiz Thompson, discografia completa e depoimentos de amigos e admiradores. Raul Seixas – O Maluco Beleza, documentário produzido pela STV, Rede Sesc/Senac de Televisão, em co-produção com a produtora We Do Comunicação e direção de Dimas de Oliveira, mostra a carreira de Raul e traz depoimentos de amigos, destacando seu fascínio por Elvis Presley e quanto ele se diferenciou do cenário musical brasileiro da década de 70. Os críticos musicais Kid Vinil e Pedro Alexandre Sanches conversarão com o público sobre a obra de Raul em Ouro de Tolo, enquanto os participantes de Curta Raulzito na Web vão navegar nos sites dedicados ao músico. Confira as datas no Em Cartaz.
Para comprar: as lojas da boa e velha Galeria do Rock, no centro de São Paulo, entre elas a Play Stereo e a Baratos Afins
Para ver: o Outs, na Rua Augusta, 486, a Fun House, na Rua Bela Cintra, 567, e o Atari, na Alameda Lorena, 2155
Para ouvir: Rádio Matraca, da Rádio USP (93,7 MHz), programa Garagem, na Brasil 2000 (107,3 MHz), e o programa de rock brasileiro da Kiss FM (102,1 MHz)
Para acessar:
www.portaldorock.com.br
www.trama.com.br
www.monstrodiscos.com.br
www.mmrecords.com.br
(Ilustração: Eduardo Burato)