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Reciclagem
O lixo é um luxo

Projetos do Sesc Interlagos mostram a importância da reciclagem, elevando o que é descartado a um novo status

Segundo dados do Departamento de Limpeza Urbana (Limpurb) da cidade de São Paulo, é realizada atualmente a coleta diária de uma média de 8.700 toneladas de resíduos domiciliares. No entanto, a própria Limpurb admite que a quantidade coletada não representa o total do lixo da cidade. Estima-se que esse número passe de 10 mil toneladas por dia. Desse volume, 40% são embalagens. Plástico, papel, latas e vidro que, ao ser descartados, muitas vezes ganham o mesmo destino que o lixo orgânico. A crise que acomete o tratamento do lixo hoje - não só em São Paulo, mas em todas as grandes cidades do mundo - poderia estar um pouco mais distante do limiar do insolúvel se uma alternativa simples fosse mais considerada pelos membros da sociedade: a reciclagem. Disposto a mostrar que os resíduos nem sempre devem ser simplesmente jogados fora, o Sesc Interlagos vem realizando, desde 2 de junho deste ano, o megaevento Luxo do Lixo - Consumo Responsável, Desperdício Zero, uma exposição que ocupa 1.200 metros quadrados da unidade com diversas instalações cenográficas interativas e uma programação integrada que inclui debates, oficinas, espetáculos teatrais, shows e atividades ao ar livre. Tudo voltado para a educação ambiental e a reflexão sobre o consumo consciente. “É sabido que os recursos naturais são finitos e cada vez mais escassos”, explica Dóris S. S. Larizzatti, técnica do Sesc Interlagos. “Menos de 25% da montanha de 10 mil toneladas de lixo geradas em São Paulo são reutilizados ou reciclados.” Para enfrentar esse desafio o Sesc entende que é necessário rever a cultura do desperdício, promover o consumo responsável e estimular ações conjuntas entre poder público, iniciativa privada e o próprio cidadão. A proposta está no que se chama hoje de os três Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. “Daí surgiu a idéia de realizar um evento cultural que abordasse essa problemática, com o apoio de artistas, cientistas, educadores e cidadãos, por meio de uma exposição”, afirma Dóris.

Escolher e selecionar
No universo onde o lixo é luxo, o visitante logo de cara se vê inserido num cenário no qual é um dos agentes mais importantes. Não há como passar incólume ao efeito da porta de entrada da exposição, chamada Labirinto das Escolhas. “O labirinto é formado por objetos descartados e resíduos do cotidiano das pessoas”, explica a arte-educadora Beatriz Vidal, responsável pela instalação junto com o arquiteto Hélio Mota. “O painel de abertura indica que somos compostos pelos resíduos, eles fazem parte de nós, e que a transformação de lixo em luxo e de nossos luxos em lixo depende de como entendemos isso.” Na primeira parte do labirinto o visitante pode ver como os objetos considerados inúteis são descartados de forma negligente pelas pessoas, resultando num grande “lixão”. Na segunda parte os mesmos objetos são acondicionados em gaiolas e separados pelo tipo de material - plástico, papel etc. -, ficando dessa forma prontos para um novo ciclo de vida útil. “Isso é reaproveitamento e reciclagem”, afirma Beatriz. Num outro momento da exposição, o lixo vira instrumento musical. Na instalação Resíduos Sonoros, concebida pelo músico e luthier Fernando Sardo, os materiais que desprezamos mostram seu ritmo e a reciclagem ganha trilha sonora. “A música pode contribuir para a consciência ecológica por meio de um trabalho como esse”, diz Fernando. “Ao criar instrumentos musicais utilizando sucata e outros materiais, a gente desenvolve uma convivência com a própria natureza, uma nova visão e respeito. Uma pessoa que sente prazer em criar e ver nascer um objeto de arte de sua autoria naturalmente passa a ser mais ético, a respeitar a vida e todas as suas expressões.” O grande destaque dessa orquestra é a “flautasorante”, uma grande flauta feita de tubos de desodorante spray produzida coletivamente. “Eu construo diversas flautas feitas de tubos de PVC”, continua o músico. “Cada uma possui um tamanho diferente, de forma que cada qual tem uma nota musical, formando assim uma escala. Os tubos de desodorante servem de bomba de ar.” Os que forem até a unidade conferir a exposição encontrarão ainda espalhados entre as instalações totens que propõem diferentes possibilidades de reutilização e de reciclagem de materiais geralmente dispensados, como metais, vidro, plástico, papel e mesmo resíduos orgânicos. As peças receberam o nome de Recicláveis + Vida. Já a diversão fica por conta do grande painel Lixo Eu?, do arquiteto Paulo Tomio Otaga. Composta de elementos plásticos, fotos, ilustrações e miniinstalações, a obra, segundo seu idealizador, pretende, com bom humor, “sensibilizar as pessoas para seu papel na melhoria da qualidade ambiental por meio da reflexão em torno do lixo”. Além de deixar mais clara a relação - nem sempre notada - entre lixo, consumo e consumismo. “O objetivo é esclarecer que o conceito de reciclagem, tão difundido como a panacéia para o problema do lixo, não pode incentivar a descartabilidade, legitimando, em conseqüência, o desperdício e aumentando a quantidade de lixo”, diz Paulo. “A gente quer orientar as pessoas acerca da seqüência dos procedimentos de minimização de resíduos, ou seja, os três Rs.” O Luxo do Lixo ficará na unidade de Interlagos até março de 2005.

As cores da biodiversidade
Entre as atividades integradas da exposição Luxo do Lixo, mostra destaca a importância dos recursos naturais
Desde o dia 4 de agosto a exposição Luxo do Lixo foi “renovada” - como definiram os organizadores - com a mostra temática Biodiversidade do Estado de São Paulo: Cores e Sombras, realizada em parceria do Sesc São Paulo com o Programa Biota da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Dividida em cinco módulos - Águas Costeiras, Mata Atlântica, Águas Urbanas, Águas Interiores e Cerrado -, a mostra pretende transmitir ao público leigo e a estudantes do ensino fundamental e médio informações sobre a Mata Atlântica e o Cerrado, os dois grandes tipos de vegetação dominantes em São Paulo. São textos didáticos, mapas e imagens de satélites que mostram a distribuição espacial dos ambientes aquáticos, centros urbanos e da vegetação nativa remanescente. “Para preservar é necessário conhecer, e a mostra se presta a esse fim”, esclarece Dóris S. S. Larizzatti, técnica do Sesc Interlagos. “Divulgar a biodiversidade existente no estado é essencial para o respeito e a preservação da natureza, uma vez que boa parte do lixo descartado indiscriminadamente aparece depois no ar, nas trilhas, no mar, nos rios e nas florestas, comprometendo a sustentabilidade do planeta.”