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O futuro é aqui

Inauguração de unidade do Sesc no bairro de Pinheiros impulsiona onda que promete mudar para melhor a cara de uma das mais tradicionais regiões de São Paulo

Mistura de área residencial e centro comercial por onde circulam milhares de pessoas diariamente, Pinheiros começou como uma pequena aldeia indígena. Considerado um dos bairros mais antigos de São Paulo, com data oficial de fundação em 15 de agosto de 1560, sua história remonta aos tempos das capitanias hereditárias. Tudo começou quando o governador-geral Mem de Sá extinguiu a Vila de Santo André da Borda do Campo e transferiu os moradores para São Paulo de Piratininga. Os índios guaianás, já catequizados, que viviam na Vila de São Paulo, foram, então, expulsos pelos portugueses recém-chegados, instalando-se onde hoje é o Largo de Pinheiros. Os jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega decidiram fundar no local uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Ao redor dela, formava-se uma aldeia indígena de 800 habitantes. A origem do nome do bairro, como se pode imaginar, deve-se à grande quantidade de pinheiros nativos, então existentes, árvores protegidas por lei - um decreto de 1584 punia com multa de 500 réis quem cortasse uma delas. Outra curiosidade é o fato de a Rua Teodoro Sampaio, reduto das lojas de móveis, ter se chamado outrora Caminho dos Pinheiros. Em seus primeiros séculos de vida, Pinheiros - a exemplo do resto do Brasil, é verdade - teve crescimento lento. Lá, uma escola primária só seria instituída em 1869. A região contava com apenas sete ou oito ruas e um destino que não parecia pautado pela glória. Até que, na virada do século 19 para o 20, ocorreu o grande salto. Beneficiando-se da modernidade que invadiu o mundo conhecido até então, Pinheiros viu o bonde elétrico circular em 1913, dois anos depois entrou em funcionamento o serviço de iluminação elétrica e passaram a surgir as primeiras casas comerciais do bairro. Em um grande terreno onde atualmente passa a Avenida Brigadeiro Faria Lima, fazendeiros e chacareiros trocavam e vendiam alimentos produzidos em suas terras. Com o tempo, o lugar ficou conhecido como Mercado Caipira. Em 1909, o terreno foi doado para a prefeitura, que construiu ali o Mercado Municipal. O galpão abrigava tanto atacadistas de batatas - daí o apelido da região de Largo da Batata - quanto os primeiros varejistas. Em maio de 1971, as barracas foram transferidas para um novo prédio na Rua Pedro Christi, onde funcionam até hoje. “O fenômeno de transformação da região é normal, principalmente em um bairro como Pinheiros, entrada e saída para várias partes do estado”, afirma Mirian Itotanaka, presidente da Associação dos Amigos de Pinheiros. “É grande a quantidade de pessoas que vivem aqui, o local tem importância, o que torna o crescimento inevitável. Encaramos o desenvolvimento como um fenômeno normal, toda a mercadoria que entra na cidade passa por aqui, temos o Ceasa, que abastece São Paulo. Enfim, não há como segurar o desenvolvimento.”

Pólo cultural e de serviços
Nos últimos quatro anos, a transformação se mostrou de maneira mais evidente para os que acompanham de perto o dia-a-dia da região. De repente, surgiram obras aqui e ali e inaugurações grandiosas passaram a mudar a cara do bairro. Uma das primeiras foi a do Centro Brasileiro Britânico (CBB), em 2000, na Rua Ferreira de Araújo, pelo então governador de São Paulo, Mario Covas. O prédio que abriga também a sede administrativa da Cultura Inglesa, o Consulado Britânico, a Britcham (Câmara de Comércio Brasil/Reino Unido), o Conselho Britânico, além de restaurante, bar - com reinauguração prevista para setembro -, quatro galerias e ainda um teatro para 160 pessoas. No ano seguinte foi a vez do Instituto Tomie Ohtake, inaugurado em novembro na Avenida Pedroso de Moraes, um complexo de 7.500 metros quadrados reservado para exposições de artes plásticas, arquitetura e design, salas específicas para ateliês, seminários, restaurante, livraria e loja de objetos, e mais 6.500 metros quadrados, ainda em construção, para dois teatros e um cinema. “É verdade que antigamente não havia todo este movimento em Pinheiros, a região cresceu muito nestes últimos anos”, afirma Maria Emilia Ciavaglia, vice-presidente da Associação dos Amigos da Praça Benedito Calixto. “A vida cultural está mais intensa agora, modificou-se bastante. Isso é bom porque traz mais pessoas, incentiva o comércio, até os imóveis se valorizam.” A associação foi criada em 1985 para revitalizar a praça onde funciona a tradicional feira de antiguidades - que termina por provar que Pinheiros parece ter espaço para o artesanal e o industrializado, o grande e o pequeno. “O bairro de Pinheiros tem em geral moradores muito preocupados com o coletivo, politizados, tem várias organizações. A feira é uma amostra da integração entre eles. Influenciou o crescimento do bairro por aumentar o número de pessoas que o visitam. Preocupamo-nos com questões como a segurança, limpeza e manutenção. Concluímos que com a criação de uma feira como a que se realiza hoje o bairro só poderia ganhar, e isso realmente aconteceu”, diz Maria Emilia. Desde a criação da movimentada feirinha da Benedito, outras iniciativas, não tão grandiosas quanto as do Instituto Tomie Ohtake e do CBB, porém de contribuição comprovada, ajudaram a mudar a cara de Pinheiros. Uma das mais tradicionais instituições de ensino da região, o Colégio Santa Cruz, resolveu colaborar com a vida cultural do bairro construindo um teatro. O Grupo Folha da Manhã, por meio de seu braço da internet, o Universo Online (UOL), investiu num charmoso cinema na Fradique Coutinho, a Sala UOL. O artista Antonio Nóbrega também escolheu a região para montar seu “quartel-general”, o Teatro Escola Brincante. Para quem não consegue ficar longe de informação, da atividade intelectual e da arte, há galerias, livrarias, revistarias e até uma grande rede de livros, CDs, eletroeletrônicos e informática, a francesa Fnac, que escolheu o bairro para instalar sua primeira loja em São Paulo. Comércio e arte vivendo em harmonia para a felicidade de moradores e visitantes.

Vocação ampliada
Por falar em arte e cultura, mais uma grande inauguração vai agitar o cotidiano de Pinheiros, e não se trata de mais um teatro ou de uma sala de exposições. Na verdade, é tudo isso junto e mais espaços para esporte, piscinas, biblioteca e uma série de outros equipamentos [veja boxe E, com Vocês, a Modernidade]. É a mais nova unidade do Sesc São Paulo, que será entregue à comunidade no 18 de setembro, no número 195 da Rua Paes Leme, pertinho do Largo da Batata. “A presença do Sesc numa região caracterizada fortemente pelo grande número de trabalhadores do comércio aumenta a oferta de lazer e cultura não só para o público comerciário, mas também para toda a comunidade”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo. “A nova unidade irá oferecer aos freqüentadores uma programação pautada pela diversidade, favorecendo a integração social de diferentes faixas etárias. A educação informal é o fator determinante de nossos programas, que buscam facilitar o acesso principalmente daqueles que estão excluídos da dinâmica sociocultural da cidade.” O prédio que ampliará o trabalho do Sesc é um capítulo à parte. “Este novo centro cultural e desportivo incorpora não apenas as inovações tecnológicas e construtivas mais contemporâneas; ele também acrescenta novas soluções para os próprios programas culturais, de lazer e de saúde”, explica Erivelto Busto Garcia, coordenador da Assessoria Técnica e de Planejamento do Sesc, responsável pelo desenvolvimento e implantação dos projetos de equipamentos socioculturais da entidade. “A ruptura dos confinamentos espaciais, por exemplo, é uma delas. Espaços amplos, sem divisórias, com múltiplas atividades ocorrendo simultaneamente, vão possibilitar um trânsito mais livre de pessoas e de práticas, permitindo torná-las mais permeáveis entre si, mais amigáveis e complementares, gerando uma dinâmica nova de compartilhamento do espaço público, mais democrática e mais interativa”, completa. Maria Luiza Souza Dias, gerente de Desenvolvimento Físico e Esportivo confirma: “É o que vai acontecer com o grande espaço de atividades físicas, onde se abandona o conceito de ‘salas de ginástica’ para o conceito de área aberta para diferentes atividades corporais, inclusive com a introdução de novos equipamentos especialmente desenvolvidos para a nova unidade.” Na área cultural, num mesmo e amplo espaço vão conviver biblioteca, área de jogos e internet, separados apenas por uma cortina de vidro do conjunto das oficinas culturais. “Naturalmente, isso exigiu soluções novas de acústica, de iluminação, de fluxos de público”, conclui Erivelto Busto Garcia. “Trata-se de um projeto que já foi premiado mesmo antes da inauguração”, conta o arquiteto Miguel Juliano, autor do projeto, para quem o novo prédio será um indutor para o incremento da região. “O local será valorizado. Além de prestar um serviço para seus usuários, o Sesc estará melhorando o bairro.” Tito Lívio Frascino, arquiteto responsável pela reconversão urbana do Largo da Batata [veja boxe Largo Futurista] e pelo Sesc Santo André, também acredita que o impacto provocado na região pela inauguração será grande e positivo.

E, com vocês, a modernidade
De piscina aquecida e quadra com teto solar a teatro com mais de mil lugares, a unidade promete ser referência para usuários

Curioso para saber o que aquele grande prédio da Rua Paes Leme reserva? O tour começa no subsolo, cinco andares sob a terra, onde fica todo o complexo de teatro da nova unidade, um palco de 35,67 metros de largura por 10 metros de profundidade (incluindo coxias), sem contar boca de cena e um proscênio para 45 músicos; cabine de projeção de som e luz; duas cabines de tradução simultânea; e capacidade de público de 1.010 lugares. “Será um dos melhores teatros da cidade”, afirma Joel Naimayer Padula, Superintendente Técnico-Social, responsável pelos programas sócioculturais do Sesc. “Aqui poderão ser encenadas grandes montagens teatrais, espetáculos de dança e shows musicais de todos os gêneros, do clássico ao popular, pois seus recursos técnicos são de primeiríssima linha”, completa. O arquiteto Miguel Juliano confirma as condições de performance técnica: “Por ser subterrâneo, a acústica está absolutamente perfeita” No térreo, encontra-se a área de convivência e um espaço para exposições; no térreo anexo, o conjunto aquático com um espelho d'água de 830 metros quadrados, composto de uma piscina de recreação mais uma piscina semi-olímpica e uma para hidroginástica, uma sala de primeiros socorros e um deck de 720 metros quadrados. Segundo Amílcar José Gay, gerente de Engenharia e responsável pela construção “a temperatura do ar é controlada para que as pessoas não sintam nenhum choque térmico e os vidros não embacem.” No 1º andar ficam restaurante e lanchonete, que, juntos, ocupam uma área de 1.140 metros quadrados - além de um solário de 300 metros quadrados. Para Estanislau da Silva Sales, gerente de Programas Sócio-Educativos do Sesc, “os novos serviços de alimentação vão conciliar modernidade de instalações com cardápios criativos, numa perspectiva ao mesmo tempo de maior valorização estética e funcional”. Acima, há a biblioteca, sala de leitura, sala de jogos, a Internet Livre e um espaço de 350 metros quadrados reservado para as oficinas de arte. “Esperamos”, diz Ivan Paulo Gianini, gerente de Ação Cultural, “que as oficinas sejam um laboratório permanente de múltiplas linguagens, fazendo interagir, no mesmo espaço, experimentações musicais com design, dança com artes visuais, cinema com cerâmica ou marcenaria.” No 3º andar ficam a administração, um auditório com 98 lugares fixos, um átrio de 120 metros quadrados, uma central de atendimento e duas salas de múltiplo uso. No 4º andar estão salas de ginástica, avaliação física, ioga e os vestiários masculino e feminino. No 5º, há duas quadras poliesportivas e um conjunto de sanitários e vestiários coletivos. No 6º andar, há quatro consultórios reservados ao atendimento odontológico e mais um conjunto de vestiários. E finalmente no 7º, mais duas quadras poliesportivas, com arquibancadas retráteis e teto que se abre para aproveitar a luz natural.