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Um país de poucas medalhas

ABRAM SZAJMAN
(Presidente da Federação e Centro do Comércio do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac)

A cada quatro anos, a história se repete. No espetáculo das Olimpíadas, os brasileiros assistem, com elevado grau de frustração, a uma distribuição de medalhas que pouco colabora para a auto-estima nacional. Os raros louros conquistados são produto, como sempre, de exceções, fruto mais de esforços isolados do que de uma política de estímulo aos esportes.

Na verdade, o que acontece nos Jogos Olímpicos é resultado da pouca atenção que se dá, no país, ao preparo de atletas. Infelizmente, trata-se do reflexo de uma carência maior, gigantesca e lamentável, que se poderia chamar de um vasto processo de deseducação brasileira.

A propósito, evoco aqui as palavras do professor Samuel Pfromm Netto, registradas nesta edição de Problemas Brasileiros, a respeito do ensino fundamental no país. Ele expressa seu desencanto e tristeza, lembrando um "descalabro pedagógico e metodológico" que vem privando a juventude brasileira de um ensino adequado, consistente e produtivo nos últimos 30 anos. Há deficiências de todos os tipos e, embora tenha ocorrido uma significativa expansão quantitativa, não houve o correspondente apoio profissional que propiciasse ganhos necessários de qualidade e atualização tecnológica.

A despeito dos exemplos de diversos países que superaram deficiências crônicas, graças ao investimento maciço e sério em educação, no Brasil ainda se preferem soluções domésticas que, embora bem-intencionadas, se ressentem da falta de fundamentos consistentes e esbarram em dificuldades intransponíveis no curto prazo, a começar pelo despreparo dos professores.

Sabe-se que, mal remunerados, esses profissionais sofrem uma contínua desvalorização, o que afasta muitos deles das salas de aula, abrindo espaço para pessoas menos qualificadas.

Assim, crianças mal ensinadas não atingem os limites mínimos do conhecimento e certamente vêem reduzidas suas chances de alcançar sucesso no mercado de trabalho. A insuficiência do ensino repercute pela vida dessas pessoas, com conseqüências desastrosas para toda a sociedade. Amplia-se dessa forma o círculo vicioso da ignorância, do atraso e da miséria.

É sabido que um nível mais avançado de educação leva certamente um país a conquistas internacionais que valorizam sua imagem diante das nações, seja no esporte, seja em qualquer outra área. Quanto à prática esportiva, sabe-se igualmente que é fundamental para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, aumentando a capacidade de aprendizagem e despertando diversas outras aptidões, além de propiciar uma vida mais saudável.

Não se trata de utilizar o esporte exclusivamente para descobrir talentos, formá-los e investir neles. O ideal é que se aproveitem, sim, tais talentos, mas com total respeito ao desenvolvimento das crianças e sem prejuízo de sua formação integral.

Certamente não precisamos chegar aos padrões de outros países, como os Estados Unidos, cujas escolas procuram atrair, em renhida disputa, alunos que se destacam em alguma modalidade esportiva. Estamos muito longe disso. Para nós, é necessário, antes de tudo, promover a melhoria do ensino fundamental e, nele, aprimorar a educação física e incentivar os esportes com seriedade e eficiência.

Somente assim poderemos, em futuro próximo, comemorar quantidades mais razoáveis de medalhas nos Jogos Olímpicos.

 

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