Retrospectiva do cineasta Julio Bressane, que esteve em cartaz no CineSesc, trouxe sua obra em vários formatos
Se há um diferencial que o CineSesc faz questão de trazer para sua tela é aquele "algo mais" que distingue um bom filme de um título blockbuster - termo que no inglês refere-se àquelas produções de enorme sucesso junto ao público, geralmente vindas de Hollywood. No caso da tradicional sala da rua Augusta, esse "algo mais" pode ser aquele clássico, um filme estrangeiro que dificilmente chegaria ao País ou o resgate da obra de cineastas brasileiros e estrangeiros que há muito o público não tinha a chance de manter contato. Durante o mês de dezembro, foi esta pitada de "grande oportunidade" que levou ao CineSesc aqueles que nunca mais haviam conseguido assistir, na telona, a obras antigas de um dos maiores cineastas do País. A retrospectiva Julio Bressane: cinema inocente, que ficou em cartaz de 12 a 23 de dezembro, trouxe o trabalho do diretor em vários formatos. Além dos títulos exibidos, uma programação paralela, formada por vídeos, debates, catálogo com documentos e fotografias e uma exposição de cartazes de seus filmes, incrementou a mostra e saciou os sedentos por rever um dos mais expressivos capítulos da história do cinema nacional.
Perdas e danos
Nos doze dias da mostra, foram apresentados 24 filmes e 6 vídeos. Foi quase uma retrospectiva completa da obra de Bressane. Os títulos faltantes não foram exibidos porque se perderam. Mas se a má notícia foi a perda de preciosidades da cinematografia brasileira, a boa nova ficou por conta da recuperação de cópias que estavam em absoluta deterioração ou que já tinham sido dadas como desaparecidas. Do total de títulos exibidos, metade deles foram cópias novas. "Chegamos o mais próximo possível de uma retrospectiva completa", explica Juliano Tosi, técnico do CineSesc. "Exibimos todos os filmes que ainda existem: dezenove longas e cinco curtas. Ficaram faltando alguns poucos, como Lágrima Pantera e A Fada do Oriente, que estão perdidos", lamenta. Por falta de um trabalho adequado na preservação da memória cinematográfica, não existem mais as cópias, nem mesmo os negativos dessas produções. "Esse, aliás, é um dado muito mais comum do que se imagina", volta o técnico. "Sem apoio às cinematecas, muitos filmes essenciais se perdem. Em todo caso, a trajetória artística de Bressane - dos seminais Cara a Cara e O Anjo Nasceu até a obra recente - esteve muito bem representada na retrospectiva", atesta.
Marginal do cinema marginal Nascido no Rio de Janeiro em 1946, Julio Bressane iniciou sua carreira em 1967, ao dirigir Cara a Cara, seu primeiro longa-metragem. Desde então passou a ser identificado como uma das figuras mais contundentes do Cinema de Invenção. Seus filmes sempre foram marcados por críticas corrosivas, pela originalidade com que conduz as cenas, pelo baixo orçamento e, em alguns casos, pela rapidez das filmagens - Matou a Família e Foi ao Cinema foi realizado em apenas doze dias e o Anjo Nasceu, em sete. Em geral sua temática alia a sofisticação literária, e uma curiosidade em se descobrir os traços da nacionalidade, a um certo humor de temperamento iconoclasta. Diretor brasileiro com maior número de filmes rodados, Bressane continua fazendo história. Recentemente venceu pela terceira vez o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com o longa Filme de Amor, ainda inédito nos cinemas. Ele já era dono do troféu Candango de melhor filme de 1982, com Tabu, e de 1997, com Miramar.
Filmografia 2003 - Filme de Amor 2002 - Dias de Nietzsche em Turim 1999 - São Jerônimo 1997 - Miramar 1995 - O Mandarim 1992 - Oswaldianas 1990 - Os Sermões - A História de Antônio Vieira 1985 - Brás Cubas 1982 - Tabu 1979 - Cinema Inocente 1978 - O Gigante da América 1977 - Viola Chinesa 1976 - A Agonia 1975 - O Monstro Caraíba 1973 - O Rei do Baralho 1972 - Lágrima Pantera 1971 - Memórias de um Estrangulador de Loiras 1971 - Amor Louco 1971 - A Fada do Oriente 1970 - Cuidado, Madame 1970 - Barão Olavo, o Horrível 1970 - A Família do Barulho 1969 - Matou a Família e Foi ao Cinema 1969 - O Anjo Nasceu 1967 - Cara a Cara
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