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Cinema Brasileiro - a consolidação?

Luís Alberto Zakir

Os números do cinema brasileiro no ano passado foram excepcionais: um crescimento de 200% em relação a 2002, passando de 7 milhões para 21 milhões de ingressos vendidos. Alguns fatores contribuíram para esse aumento.
Em primeiro lugar, o modelo de incentivo à produção cinematográfica, instituído após o chamado "desmanche da era Collor", foi definitivamente assimilado, gerando um crescimento constante da produção, até chegarmos aos 27 títulos do ano passado. Outros quarenta já estão prontos para lançamento em 2004, o que comprova o crescimento em torno de fantásticos 50% a mais no número de filmes a serem exibidos neste ano.
Mas não são só os números que contam. Também é necessário que se abram espaços para um outro tipo de cinema que, se não produz tantos resultados quantitativos, é ferramenta notável para o desenvolvimento de idéias, para o bom exercício do pensamento. Propõe uma nova estética, aborda temas de interesse filosófico, político, sociológico, enfim, reflete o nosso momento histórico sem o compromisso de ser apenas entretenimento. Não se pode desprezar o cinema autoral de um Julio Bressane, de Ruy Guerra, de Carlos Reichenbach, de Nelson Pereira dos Santos, de Domingos de Oliveira, de Sérgio Bianchi, isso para citar apenas alguns que estão em plena atividade, com filmes recentes e outros já prontos para serem lançados.
Temos uma fantástica diversidade cultural que se estende por nosso imenso território. Temos realizadores criativos e uma tradição de fazer cinema que legou ao pensamento universal o Cinema Novo, definitivamente agregado ao imaginário dessa arte, em todos os tempos. Há que se expandir o momento em que filmes como Amarelo Manga, do pernambucano Cláudio Assis, lançado com catorze cópias e ainda em exibição, já fez 130 mil espectadores. Mais notável é, talvez, o caso dos documentários Nelson Freire, sobre o genial pianista brasileiro, que fez 61 mil com cinco cópias, ou Paulinho da Viola - Meu Tempo é Hoje -, 55 mil com seis cópias. O Homem que Copiava, do gaúcho Jorge Furtado, 650 mil com setenta cópias, é mais um exemplo de bom filme com bom resultado.
Existe uma diferença fundamental entre o pequeno e o grande realizador: se este tem um sofisticado esquema de produção que lhe facilita a vida, aquele ainda luta com grandes dificuldades até a conclusão de seu filme. É preciso aperfeiçoar o sistema de captação e controle, por parte do Estado, no sentido de que o criador possa realizar seu trabalho sem se perder no emaranhado administrativo e burocrático que lhe consome tempo e condições físicas e psíquicas, num limite extremo.
Outra questão é ampliar o parque exibidor com incentivos tanto à criação de novas salas quanto à premiação pela exibição de filmes nacionais, aliás, modelo utilizado em vários países. E há que se registrar, também, a promissora participação do cinema paulista nesse bolo. Estão produzindo ou produziram recentemente cineastas importantes como Hector Babenco, Ugo Giorgetti, João Batista de Andrade, Carlos Reichenbach. Andréa Tonacci, de um cinema radical, volta depois de muitos anos. Outros que começaram há menos tempo e - ou realizaram apenas um primeiro filme de grande repercussão, ou já vão se firmando com seu terceiro ou quarto filmes - têm estréias previstas para este ano ou 2005. Há ainda - e isso é extremamente promissor - importantes criadores que mostram seus primeiros longas-metragens, já premiados em vários festivais de cinema, casos de Evaldo Mocarzel (A Margem da Imagem), Paulo Sacramento (O Prisioneiro da Grade de Ferro) e Ricardo Elias (De Passagem). Outros estreantes que lançam filmes são Roberto Dhalia (Nina) e Roberto Moreira (Contra Todos). No total, cerca de quinze filmes de realizadores paulistas têm estréia certa neste ano, demonstrando um vigor notável de nossas produtoras de cinema.

Luis Alberto Zakir é Gerente do CineSesc