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Ampliando a rede

A Internet Livre do Sesc São Paulo inaugura novas salas nas unidades de Itaquera e Interlagos e outras seis no interior

O programa do Sesc São Paulo que, formado por salas com computadores conectados à rede mundial, representa a resposta imediata da instituição ao que se configura como uma das grandes revoluções mundiais na comunicação, ou seja, acesso simples à rede, ganha reforço com a inauguração de mais nove pontos. Desde os dias 24 e 25 de janeiro, as unidades de Itaquera e Interlagos passaram a integrar essa rede, enquanto entre a segunda quinzena de fevereiro e a primeira de março as unidades de Bauru, Catanduva, Piracicaba, São José do Rio Preto, São Carlos, Ribeirão Preto e Santos passam a integrar o programa. Da arquitetura das salas à capacitação dos instrutores (conhecidos como webanimadores), a iniciativa será a mesma: aliar as infinitas possibilidades da internet com o intuito de promover cultura, lazer e informação a um número ainda maior de pessoas. Porém, como as unidades do Sesc localizadas em diferentes regiões mostram que o seu entorno marca fortemente a vocação do espaço, novidades podem ser aguardadas.
"As salas de Itaquera e Intergalos têm uma especificidade um pouco diferenciada das demais", começa explicando Vinícius Terra, coordenador geral da Internet Livre do Sesc. "Até por estarem em unidades campestres, elas são bem maiores, quase o dobro das outras salas." O Sesc São Paulo percebeu que existe uma necessidade especial em relação ao atendimento do público freqüentador das unidades campestres. Por se tratar de regiões carentes de espaços direcionados ao lazer e à cultura, considerou-se que a presença da Internet Livre nessas unidades ganharia um papel especial. "Isso pôde ser percebido até pela própria freqüência com que as pessoas vão ao cinema, por exemplo", continua Vinícius. "Até hoje, a gente constata nas sessões de cinema que são feitas na unidade de Itaquera aos sábados e domingos que algumas crianças nunca tinham ido ao cinema. Com isso, a gente percebe que o acesso às mídias, à tecnologia ou à arte e informação é bem mais dificultado nessas áreas periféricas de São Paulo."
Isso reforça também o grande diferencial que a Internet Livre apresenta quando comparada a outros serviços de acesso à rede. Mais do que nunca, o desafio será encarar a web como um novo meio de educação, capaz de oferecer aos seus usuários ferramentas de aprendizado, e não apenas mais um veículo de entretenimento. As novas salas da capital foram construídas em espaços já existentes nas unidades. Em Itaquera, a sala de Internet Livre está conjugada à brinquedoteca, enquanto, em Interlagos, ela se alia ao espaço de leitura. Dessa forma, são grandes as possibilidades de um espaço alavancar o outro. "Geralmente as salas de internet são locais de convívio, as pessoas vão e esperam para usar os computadores, por isso existiu a preocupação de conjugar os serviços, criando uma espera ativa", revela Vinícius. "Enquanto aguardam para utilizar as máquinas, as pessoas podem ficar assistindo aos filmes, vendo os telões, ou mesmo lendo e utilizando a brinquedoteca, dilatando o espaço de internet para essa outra convivência."

Novas expectativas
As unidades campestres do Sesc possuem uma relação muito grande com o público escolar. Até por conta dos programas de ecologia e meio ambiente existentes em ambas, várias escolas passam o dia em visitação aos espaços, além de existir um trabalho intenso com a formação de professores. Dessa forma, dentro da concepção arquitetônica das salas, considerou-se um direcionamento para esse público. Algumas mesas são direcionadas ao público infantil - adequação mais presente nessas novas salas que nas demais - e os horários reservados a escolas também ganham atenção especial. Além disso, haverá um trabalho com CD-ROMs relacionados ao meio ambiente e preservação, aproveitando a vocação das unidades. As próprias equipes de programação de Itaquera e Interlagos mostram uma preocupação em integrar as salas de Internet Livre ao enfoque geral de suas atividades. "As salas de Internet Livre sempre partem do pressuposto de que não estão isoladas", volta Vinícius. "Elas estão inseridas dentro de uma unidade do Sesc que já existia antes dela. Uma unidade com a qual ela vai dialogar o tempo todo. Isso também vai ser estimulado pelos instrutores de internet. E é a partir desse diálogo que essa promoção vai se formar."
Por se tratar das primeiras salas abertas dentro das unidades campestres, que recebem um público geralmente interessado em atividades ao ar livre - o parque aquático de Itaquera, por exemplo, chega a receber até 5 mil pessoas num dia ensolarado -, ainda não está claro como será feita a apropriação dos novos equipamentos por parte dos usuários. No entanto, a experiência de mais de dois anos do programa já mostrou que os jovens formam grande parte do público interessado. Daí, uma expectativa semelhante no caso das novas salas. Quanto à programação, espera-se que as visitações caminhem para uma divisão que apontará a semana como um período de recebimento de escolas e trabalhos mais direcionados; e um final de semana com uma utilização livre, porém voltada ao ensino do uso comunitário da rede. "Com certeza, serão constatadas demandas sociais bem fortes também", projeta Vinícius. "Coisas como declaração de imposto de renda, abertura de contas de e-mail, acesso a sites de serviços públicos e coisas assim." O coordenador lembra que na zona leste paulistana, por exemplo, onde se localiza a unidade de Itaquera, o acesso à internet é disponibilizado apenas pelo shopping center local, mas ainda assim trata-se de um serviço caro. "Não é o caso de dizer que essa demanda esteja necessariamente reprimida, mas com certeza ela acabará sendo identificada na medida em que as pessoas começarem a perceber as possibilidades de utilização da internet."
Quanto ao perfil das unidades, não se espera - e nem foi esse o intuito - que a Internet Livre vá "concorrer" com os demais equipamentos que sempre atraíram recordes de público. Pode até ser que surja a figura de um usuário mais interessado especificamente na internet ali disponibilizada democraticamente, porém não deixará de ser cultivada a relação das salas com os demais espaços das unidades. "Ou seja, o que a gente menos quer é que as pessoas usem o Sesc para somente uma coisa. A idéia é exatamente o contrário: é ampliar as formas de lazer e aprendizado", conclui Vinícius.

Bem-vindos à rede - Atividades de inauguração foram síntese das possibilidades tecnológicas
Na inauguração dos dias 24 e 25 de janeiro, a intenção foi criar um impacto para marcar a novidade. E para isso foram convidados grupos artísticos que mostraram o uso da internet como ferramenta de criação artística. Performances que aliaram teatro ao uso de webcams (câmeras de vídeo ligadas ao computador), criação de rádios com difusão via internet e trabalhos com fotografia digital. Uma espécie de panorama das possibilidades e recursos que a internet permite. Já na área social, os trabalhos foram centrados na figura dos instrutores - ou webanimadores, como são chamados. Durante os dois dias foi realizada uma série de atividades com o objetivo de mostrar os serviços públicos disponíveis por meio da rede - sites dos Correios, Prefeitura, Delegacia Eletrônica etc. -, além de formas de comunicação como e-mail, chats (salas de bate-papo) e videopapo. Os dias foram dedicados a, de um lado, estimular as pessoas a conhecer o horizonte de práticas que podem ser desenvolvidas na arte relacionada à internet e, de outro, à relação da rede como sendo um mecanismo de tecnologia de informação, de troca, facilitação de contato e difusão de conteúdo. Em Itaquera, a sala está conjugada com o espaço do café e de exposições. Em Interlagos, ela está na sede social da unidade, anexa também ao espaço de exposições e de oficinas. Em ambos os casos, elas se encontram em espaços mais "calmos" das unidades, facilitando a navegação.

A web de todos - As demais salas de Internet Livre continuam levando lazer e conhecimento
A experiência da Internet Livre nas salas já existentes apontou para uma metodologia de trabalho que se apóia em três pilares básicos na educação informal, por meio da internet: a orientação dirigida, oferecida pelos instrutores; a realização sistemática de oficinas, workshops e cursos; e uma terceira forma de atuação, a intervenção aberta. A primeira corresponde ao uso propriamente dito dos computadores; a segunda corresponde à realização das oficinas, refletindo um modelo de sucesso no campo da educação informal; enquanto a terceira linha corresponde a uma forma especial de trabalhar com os internautas, a chamada intervenção aberta. É essa que melhor reflete a preocupação do Sesc São Paulo em reafirmar seu trabalho de socialização da comunidade, unindo gerações e interesses diferentes em torno do mesmo intuito: a consolidação da cidadania, com seus direitos e deveres. As salas recebem um número de usuários que varia de 250 a 300 pessoas por dia. Um número fixo, tendo em vista que a política de utilização é uma só para todas elas: uso de meia hora, com a possibilidade de um mesmo usuário repetir a dose no mesmo dia, caso a demanda não esteja muito grande, o que fica mais difícil nos finais de semana, quando o número de interessados aumenta cerca de 30%.

O arsenal digital
As salas da Internet Livre de Interlagos e Itaquera possuem, cada uma, 32 computadores, um projetor datashow com telão e mais três telas de plasma. Todos os computadores possuem programas multimídias e contam também com terminal central com placas de áudio e vídeo para oficinas com demandas mais sofisticadas, além de mesas de som com doze canais. Todo esse arsenal digital espera atender cerca de quinhentos usuários por dia.