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Esporte
Dia do desafio
Procurando trilhar um caminho que levará à plena consciência da importância desses fatores na vida das pessoas, o Sesc São Paulo coordena há quatro anos o Dia do Desafio, um evento de esporte e lazer que tem um objetivo bem simples: mobilizar as comunidades a praticar atividades físicas durante pelo menos quinze minutos. Para que o evento tivesse uma motivação maior, além de uma simples prática de exercícios, ficou estabelecido que haveria também um competição, em que duas cidades do mesmo porte se confrontariam mesmo apartadas por milhares de quilômetros. A "vencedora" seria aquela que apresentasse o maior percentual de participação em relação ao número de habitantes. Na verdade seria mais uma comparação de resultados que propriamente uma competição. "É só um fator de motivação", explica melhor João Gambini, técnico do Sesc. "As pessoas gostam da competição, só que não é isso que procuramos enfatizar para as cidades. O que determina a vitória é a organização, a participação e a cooperação entre as pessoas". O evento foi concebido pela ParticipAction, do Canadá, em 1983. O sucesso do projeto acabou motivando a Tafisa (Trim & Fitness International Sport For All Association) uma entidade esportiva ligada ao governo da Alemanha, a espalhar a idéia pelo mundo.
Em 1997, o Sesc passou a coordenar o Dia do Desafio no restante do país, América Central e demais países da América do Sul. "Nós apresentamos a idéia, enviamos fitas de vídeo, cartilhas e cartazes. Todas essas coisas dão credibilidade à proposta." Entre os países participantes, destacam-se a Bolívia, com dez cidades, Equador com seis e Costa Rica, Uruguai e Panamá com quatro cidades cada um. Além da participação de dois países de língua inglesa da América Central: Antígua e Suriname.
Walquíria Malatian, responsável pelos contatos, explica como foi conseguir esta importante participação: "São países pobres. Eu tive de convencê-los de que o projeto é bom e ainda deixar claro que eles não iriam gastar nada para fazer o evento. Desde que buscassem parcerias no comércio, na indústria, em escolas etc".
Já com os países da América do Sul, Carol Ferreiras, responsável pelos contatos, conta que a estrutura de trabalho oferecida pelo Sesc e a qualidade da proposta facilitaram a tarefa. Outro fato relevante que garantiu o caráter de ineditismo do evento, foi o début mais que especial de São Paulo. A cidade entrou em caráter experimental este ano, mas nada impede que em futuras edições do evento ela vá comparar resultados com outras metrópoles do mundo e prove que paulistano também é bom de exercício.
Desafios Paulistanos
À zero-hora, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo - Masp, palcos, cama elástica e parede de escalada preencheram o vazio que geralmente impera nesse horário. Coordenadas por técnicos das unidades do Sesc Pompéia e Vila Mariana, as atividades incluíram apresentação do grupo JB Samba (numa genuína roda de pagode), capoeira, com direito à participação do público, e uma eletrizante exibição do Grupo de Ginástica Acrobática da Faculdade de Educação Física de Santo André (Fefisa).
A interatividade era o lema entre os grupos e o público. Além das atividades pré-programadas, como aulas abertas de alongamento e street dance, participações de última hora puderam fazer parte da festa, como foi o caso da própria trupe de acrobatas da Fefisa. Embora a chuva caísse sobre o asfalto da mais famosa avenida da cidade, o paulistano mostrou estar acostumado com esse típico contratempo. Nada impediu que ciclistas noturnos, estudantes e demais transeuntes parassem para conferir as apresentações e se aventurassem no trampolim e na parede de alpinismo disponíveis no local. "Eu até acho que a chuva atrapalha mais à noite", reconheceu um dos acrobatas, já metido em sua malha colante sem mangas, desafiando o frio. "Mas mesmo assim vai ser um sucesso, porque a Av. Paulista é o coração da cidade, isso aqui não pára", enfatizou.
De fato. O estudante Aderbal Amaro Filho, de 16 anos, estava sozinho, com o caderno na mão e olhos atentos, mas não resistiu ao agito. "Eu estava voltando da escola, tinha visto um panfleto falando desse evento e resolvi vir conferir". Já Claudio Nadaleto e Marcos Odir Medeiros estavam sobre duas rodas. Claudio pedala à noite há sete anos, o amigo Marcos há quatro meses. Ambos já ameaçavam largar as bicicletas para participar da festa. "De repente vimos uma moçada animada e bonita", contou Claudio. "Não importa que seja tarde da noite, o que vale é a festa."
Enquanto isso Irina Lazarini, estudante de educação física, era encontrada escalando as agarras que compunham a parede de alpinismo. Bem-sucedida no desafio, a jovem declarou: "É pura adrenalina".
Para o grupo JB Samba, o desafio foi um prazer: ver tantas pessoas animadas acompanhando sua roda de pagode. No melhor estilo saúde, somente com água e refrigerantes dietéticos sobre a mesa, Serginho JB, líder do grupo, contou que se sente muito à vontade para falar do Sesc, afinal são dez anos de parceria. "O Sesc é uma instituição de grande responsabilidade e seriedade no país. É muito importante que ela associe a noção de atividade física com cultura", analisou.
A partir das oito da manhã do dia 27, as outras unidades do Sesc da capital iniciaram suas atividades do Dia do Desafio. Em diversos pontos da cidade, uma população de aproximadamente 800 mil pessoas participou do evento em algum momento do dia. Além de realizar as atrações no vão livre do Masp, o Sesc Pompéia promoveu atividades também no Parque da Água Branca. O Sesc Consolação e o Sesc Pinheiros interagiram com funcionários e internos das unidades Tatuapé e Imigrantes da Febem, além de mandar técnicos a estações do Metrô para coordenar grupos circenses. O Sesc Vila Mariana promoveu musicais e avaliações físicas e o bairro do Ipiranga proclamou um basta ao sedentarismo, através das atividades corporais dos mais diversos tipos promovidas pelo Sesc nos Parques da Independêndia e Aclimação.
Na rua Barão de Itapetininga, centro de São Paulo, o Sesc Carmo coordenou uma festa que contou com a presença de personalidades do basquete, representado por Paulinho Villas-Boas, e da natação, com o medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles (1984) Ricardo Prado. Além, é claro, de colocar todos os que passavam para dançar com aulas de dança de salão, flamenco e forró. A ginástica chinesa tai chi chuan mais uma vez conquistou adeptos com sua leveza e o público ainda pôde conferir a habilidade e a técnica das alunas de ginástica olímpica Yachi.
Desafios para Todas as Idades
Nas unidades campestres, o desafio era reunir o maior número de idosos e crianças. O Sesc Itaquera atingiu a marca de sete mil idosos, que participaram de várias atividades, entre elas uma caminhada um tanto diferente: a Dança da Serpente. "Foi o grande desafio do dia", explica o gerente-adjunto da unidade Milton Soares de Sousa. "Numa caminhada de aproximadamente um quilômetro, cerca de 4 mil idosos puxaram uma serpente de 400 metros, com uma cabeça de 3 metros de diâmetro e dividida em 66 gomos coloridos". Segundo Milton, o artifício da serpente visava conferir mais ludicidade à caminhada. "Se você convidar quatro mil idosos para simplesmente caminhar, pode soar cansativo", explica. "Então a serpente funcionou para chamar as pessoas a participarem. Mas na verdade a atividade física estava no caminhar pelas alamedas do Sesc". Ao final do dia um show e um baile comandados por Angela Maria e Cauby Peixoto coroaram o evento em Itaquera. "Um projeto digno de Primeiro Mundo", declarou Angela. Enquanto Cauby afirmava: "Maravilhosa iniciativa do Sesc, a cultura é uma das coisas mais importantes de um país". Shirley Torres, animadora cultural da unidade, sintetizou o grande objetivo do dia que foi atingido: "Mais que a quantidade de participantes, o importante foi mudar o comportamento deles, fazendo com que essas pessoas participem efetivamente em vez de apenas assistirem. Todas as atividades aqui foram muito ativas", finalizou.
No outro canto da cidade, o Sesc Interlagos desafiou mais de seis mil crianças a participarem de atividades que iam desde manobras em skate até a apresentação de grupos circenses. Em uma das quadras da unidade, um animado professor de street dance revelava os segredos nos passos do funk e do break, enquanto garotos e garotas descontraídos se divertiam ao som do contagiante ritmo. "Não é difícil, eu vivo dançando com as colegas na minha rua", contou Rita de Cássia, de 15 anos. Márcia Leite dos Santos, de 13 anos, também parecia familiarizada com a dança: "Estou só me divertindo. Já ganhei um concurso de street dance na escola", orgulhou-se. As crianças ainda puderam se maravilhar com um enorme balão, onde puderam passear, depois brincaram de bombeiro, subindo em escadas magirus e participaram de um passeio náutico, no qual 30 caiaques deram voltas pela represa Billings, margeando a unidade Interlagos. No momento mais significante do dia, os jovens deram-se as mãos e, homenageando o Dia Nacional da Mata Atlântica, envolveram a reserva ecológica da unidade num carinhoso abraço simbólico.
Cada Vez Mais Desafios
No Brasil houve um grande crescimento do número de cidades participantes do Dia Mundial do Desafio. No Estado do Paraná, que passou de duas cidades no ano passado para seis; o Rio Grande do Sul apareceu com 11 cidades; Santa Catarina acrescentou uma, ficando com três; Em Minas Gerais, Uberlândia, e Campos dos Goitacazes representou o Estado do Rio de Janeiro. Porém, o grande número de cidades participantes está em São Paulo, que não contente com as 80 cidades de 97, emplacou 92 municípios no Dia do Desafio de 98. João Gambini explica que as administrações regionais do Sesc desses estados funcionam como coordenadores regionais do evento e que as cidades paulistas que não possuem unidades do Sesc são municiadas pela instituição com informações sobre como participar, mesmo a distância, a partir do trabalho desenvolvido pelas unidades do Sesc estabelecidas no interior. Esse intercâmbio garante que cada região dê suas características às atividades, desenvolvidas na medida de suas estratégias.
Desafios curiosos em 97 e 98
Em Santos um rapaz lavou uma elefanta do zoológico de Sorocaba sozinho. No mesmo ano, também em Santos, mais de 6 mil pessoas atracaram o navio Clipper Paranaguá, pesando 36.700 toneladas, puxado por cordas. Em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, 2.758 pessoas abraçaram toda a cidade.
Os habitantes de Roseira, São Paulo, fizeram uma caminhada noturna usando somente tochas para iluminar o caminho. Em Guaratinguetá houve um cabo-de-guerra no quartel, onde dezenas de soldados competiam com tanques de guerra. O Tiro de Guerra de São José do Rio Preto empurrou dois vagões de um trem porque achou que apenas um era muito leve.
Em São Vicente o cabo-de-guerra foi feito sobre a ponte pênsil. Fato inédito sobre um dos pontos turísticos da cidade. Na praia de Ubatuba, 150 surfistas ficaram de pé ao mesmo tempo em suas pranchas aproveitando a mesma onda. E em Lins, as pessoas lavaram a praça central com água de um rio que corre a 18 quilômetros da cidade.
No Dia do Desafio deste ano, os habitantes de Paramaribo, no Suriname, encheram a fonte da cidade com água de um rio que passa perto utilizando um cordão humano. Em Leme, interior de São Paulo, um jogo de futebol foi realizado à meia-noite, com as luzes do estádio apagadas e todos os jogadores e o juiz usando lanternas. Campinas promoveu uma caminhada do pijama, com centenas de pessoas andando pelas ruas da cidade usando suas roupas de dormir. No Paraná, o Dia do Desafio levou os habitantes de uma cidade a construírem duas casas em mutirão. Em Ourinhos, São Paulo, a Diretoria da APAE organizou uma caminhada pela cidade para coleta de latinhas de refrigerante e cervejas; em seguida os alunos da instituição amassaram as latas com os pés na Praça Mello Peixoto para trocar por equipamentos. Os alunos da EEPG Coronel Amancio Bueno plantaram árvores em Jaguariúna. E um grupo de escoteiros em Barra Bonita realizou uma campanha beneficente com coleta de material de limpeza destinada ao hospital e maternidade de São José.