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Música
Homenagem de músicos brasileiros ao compositor George Gershwin
Gershwin conheceu o piano aos 6 anos, ganhou um aos 12 e realizou sua primeira turnê aos 20. Em 1919, Swanee, uma de suas primeiras canções, estourou nas rádios e colocou o jovem compositor na trilha da fama e fortuna. Nos anos seguintes George permaneceu compondo para a revista musical Whites Scandals e em 1922 uma dessas canções foi incluída na ópera Blue Monday. Começava assim a ser traçado o que seria um dos seus mais importantes feitos: a incursão de um compositor popular no restrito mundo da música erudita (ver box sobre a vida e obra do compositor).
No país do samba, as comemorações do centenário de seu nascimento vieram em grande estilo. O Sesc realizou, durante o mês de junho, uma homenagem ao compositor.
Na unidade do Ipiranga o musical Crazy For Gershwin, com direção de Jorge Takla, contou com três apresentações. Suas palavras já dão ao público uma idéia da atmosfera que envolveu a produção do espetáculo: "Antes de mais nada esse show é uma declaração de amor a Gershwin, que nos deu uma das músicas mais lindas e alegres de todos os tempos". Se Gershwin nos deu belas canções, Jorge Takla, e toda a equipe que participou da produção, ofereceu um belo espetáculo.
O musical, com figurino digno de fazer Rita Hayworth morrer de inveja, levou o público de volta à época de ouro de Hollywood. No palco, a soprano Rosana Lamosa, a meio-soprano Regina Mesquita e o tenor Fernando Portari entusiasmaram a platéia com performances de sapateado e com personagens típicos dos velhos e bons musicais. Num cenário simples, os três dançaram, cantaram e interpretaram canções como Swanee, Summertime e Crazy for you. Rhapsody In Blue, sua obra de maior êxito na "música séria", abriu o espetáculo num dueto da pianista Marina Brandão e do músico Sabá, no contrabaixo.
No Sesc Vila Mariana, a comemoração tomou outra forma. Aproveitando os 100 anos do músico americano e os 40 da brasileiríssima bossa nova, o saxofonista Paulo Moura e o contrabaixista Rodolfo Stroeter montaram o show Rhapsody in Bossa, numa homenagem a Gershwin e ao compositor Tom Jobim. "Gershwin inovou a música americana assim como Tom Jobim inovou a MPB. Resolvemos homenagear esses dois grandes nomes num show com música de ambos. Todas as canções contaram com novos arranjos elaborados por Paulo Moura", explica Ana Maria, coordenadora de eventos do Sesc Vila Mariana. "Escolhi esse repertório porque dá para fazer improvisações maravilhosas que eu tenho ouvido nos ensaios. É clara a influência afro na obra desses dois compositores", explicou Paulo Moura à platéia na apresentação de estréia que lotava o teatro.
Com mais seis músicos no palco, Paulo Moura abriu o show em grande estilo com Samba do Avião, de Tom Jobim e Rhapsody in Blue, de Gershwin. O repertório contou ainda com Sinfonia do Rio de Janeiro, Só danço samba, Falando de amor, I got rhitym, Summertime e Love is here to stay, entre outras. Apesar de o show ser apenas instrumental, a platéia não resistiu e cantou em coro algumas canções como Se todos fossem iguais a você, Esse seu olhar e Eu sei que vou te amar.
Gershwin e Bossa Nova
Além dos shows, o projeto Rhapsody in Bossa realizou oficinas que proporcionaram um estudo prático e teórico da música. As oficinas ficaram por conta de Paulo Moura e do pianista americano Cliff Korman, que também atuou no show. Durante as aulas, os participantes entraram em contato com estilos musicais da música brasileira e americana e com processos de criação musical, estudando desde o processo de composição até os arranjos das canções. Sobre as oficinas, Paulo Moura comentou: "Iniciativas como essa são muito importantes. O Sesc não apenas nos cede o espaço como também nos possibilita a produção de um trabalho de boa qualidade. Em nenhum outro lugar tive o apoio que consegui aqui dentro". A partir dos shows e das oficinas, a realização do projeto Rhapsody in Bossa resultou na produção de um CD inédito com o repertório dos espetáculos.
A música é uma "linguagem universal", não possui fronteiras. É também atemporal, não possui data, nem tempo para encantar. Qualquer um, em qualquer época e em qualquer lugar é seduzido por uma bela canção. Gershwin e Jobim continuam fascinando o mundo inteiro.
Sobre o Compositor
Durante toda a década de 20 George Gershwin compôs, junto a seu irmão Ira Gershwin, diversas canções para musicais como Strike up the band, Girl crazy e Pardon my english. Contagiados pela sua alegria, astros como Fred Astaire e Ginger Rogers dançaram sob seu ritmo e, fascinado por sua melodia, Frank Sinatra interpretou suas canções.
Apesar de seu estrondoso sucesso nos musicais para o cinema, Gershwin continuava a flertar com o que chamava de "música séria" e no mesmo ano de Delicious o compositor estréia como maestro regendo um concerto de sua própria autoria. E já que "ousadia" era sua marca registrada, o artista não se contentou em apenas derrubar o muro que separava a música popular da clássica e foi mais longe ao introduzir em sua obra elementos da música negra. Nos últimos anos de vida, compôs a ópera Porgy and Bess, que contava a história das origens do povo americano. Para realizar essa obra, Gershwin foi para Carolina do Sul conviver com a população negra e sua música.
Essa diversidade de componentes que permeavam seu trabalho conquistou fãs de diferentes gostos musicais. Além de Hollywood, amantes do jazz e do blues festejavam suas canções nos quatro cantos do mundo, inclusive no Brasil.