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Regra sem exceção

A sexta edição do Simpósio Sesc de Atividades Físicas Adaptadas reforça a idéia de que não deve haver limites para a atividade física e o esporte como instrumentos de cidadania e qualidade de vida

Em 1918, a atividade esportiva para pessoas portadoras de deficiências começou a aparecer na literatura especializada. Era o fim da I Guerra Mundial, e um grupo de alemães lesionados em combates teria se reunido pela primeira vez para praticar esporte. No entanto, o termo "educação física adaptada" só surgiria na década de 1950, quando foi definido pela Associação Americana de Saúde, Educação Física, Recreação e Dança como sendo "um programa diversificado de atividades desenvolvimentistas, jogos e ritmos adequados aos interesses, capacidades e limitações de estudantes especiais". "Toda programação deve seguir esses preceitos", explica Patrícia Silvestre de Freitas, professora da Universidade Federal de Uberlândia e mestre em Educação Física e Adaptação pela Unicamp. Patrícia esclarece ainda que, por mais que as causas da deficiência sejam inúmeras e devam ser estudadas, seus efeitos igualmente merecem atenção especial. E uma das formas de atenção, que inclusive aparece no Relatório Internacional de Reabilitação, chama-se integração social.

Barreiras
Para Fátima Denari, mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial, a busca pela adaptação de atividades físicas tem início quando os recursos para tanto começam a entrar na ordem do dia e a legislação passa a ser exercida na prática, de modo a garantir o sucesso da aprendizagem. "Penso ser discutível a idéia de se ter um currículo adaptado a algumas necessidades", afirma Fátima. "Isso aparece na contramão do processo de inclusão. É bem mais adequado pensar em atividades direcionadas e recursos adaptados que garantam o acesso e a permanência de alunos com necessidades especiais."
Em consonância com essa filosofia, o Sesc São Paulo sempre buscou oferecer a todos os seus usuários a possibilidade de praticar atividades físicas, adaptadas ou não, garantindo o acesso de todos, independentemente de suas condições e capacidades. Eventuais limitações trazidas pela idade ou a existência de alguma deficiência são superadas por iniciativas e programas que reduzem o grau de dificuldade, sem perder de vista os aspectos fundamentais que devem reger a prática. Desde 1996, o Sesc São Carlos, unidade que promove a 6ª edição do Simpósio Sesc de Atividades Físicas Adaptadas, desenvolve projetos de atendimento a pessoas portadoras de deficiências e com necessidades especiais. "O simpósio complementa esse trabalho no âmbito das atividades físicas", explica Paulo Verardi, técnico da unidade. "Além de promover a discussão das principais questões em seus aspectos científico, social e pedagógico." No Sesc São Carlos são promovidas aulas e vivências para crianças e adultos portadores de deficiência em parceria com a prefeitura municipal e associações especializadas da cidade. "O fato de a unidade ser totalmente adaptada também ajuda a proporcionar aos portadores de deficiência um espaço livre para seu lazer e recreação", atesta. "Há de se pensar na remoção de barreiras arquitetônicas na escola, no meio urbano, nos edifícios e no transporte", complementa Fátima Denari. "É preciso ficar atento ainda a outros tipos de barreiras. Aquelas que todos nós - professores, escolas e sociedade - precisamos derrubar: a do preconceito, do medo, do assistencialismo e dos prognósticos negativos."

Equívoco comum - Mesmo necessitando de cuidados especiais, as pessoas de terceira idade não precisam - e nem devem - deixar de praticar atividades físicas
Em geral, as pessoas tendem a encarar a velhice como sinônimo de doença e essa é uma visão notoriamente equivocada. "A velhice é um processo da vida, e devemos buscar passar por ele com o máximo de saúde", aconselha Silene Sumire Okuma, professora da Escola de Educação Física e Esporte da USP, autora do livro O Idoso e a Atividade Física (Editora Papirus, 1998) e convidada do simpósio realizado pelo Sesc São Carlos para a palestra onde o assunto foi abordado. "Quando se fala em esporte adaptado, se fala em esporte para um indivíduo que tem uma limitação em particular, o que não é o caso do idoso. O que acontece é que muitas pessoas, a partir dos 60 anos, começam a desenvolver algumas doenças, e os próprios idosos passam a acreditar que isso seja um empecilho para a prática de alguma atividade física." A autora explica que na terceira idade a alternativa é a prática de um exercício articular, muscular ou cardiovascular. "É sempre possível aumentar o que chamamos de reserva funcional, independentemente da idade."
Segundo os estudos da área, os indivíduos que passam dos 60 anos podem ser classificados em cinco grupos. O primeiro diz respeito aos que apresentam doenças e que dependem de outras pessoas para se locomover e realizar tarefas básicas, como tomar banho e alimentar-se. O segundo grupo é o de idosos mais independentes. Já o terceiro grupo, que corresponde a 70% da população idosa, é formado por pessoas mais ativas, que conseguem realizar bem as tarefas do dia-a-dia. "Porém, por serem sedentárias, possuem uma reserva funcional muito baixa", segue Silene. "Os que conseguem desenvolver tarefas do dia-a-dia e ainda praticar atividades físicas sistematicamente se encaixam no quarto grupo, que é o ideal." Há ainda um quinto grupo que corresponde àqueles que treinam esportes e até participam de competições. "Esse grupo é mínimo", explica a professora. "Tratam-se de idosos com uma aptidão física e que, por terem uma reserva muito maior, convivem muito bem com as possíveis limitações que as doenças trazidas pela idade podem trazer."