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Internet Livre
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A Internet Livre do Sesc completa dois anos, prepara novas salas e prova que no ciberespaço também há lugar para educação e cultura
Maio de 2001. Era inaugurada a Internet Livre, o programa que, formado por salas com computadores conectados à rede mundial em várias unidades do Sesc, representava a resposta imediata da instituição ao que se configurava como uma das grandes revoluções mundiais na comunicação: acesso simples à rede. Da arquitetura das salas à capacitação dos instrutores (conhecidos como webanimadores), a iniciativa inédita aliava-se às infinitas possibilidades da Internet para levar cultura, lazer e informação a um número ainda maior de pessoas. O diferencial se evidenciava na filosofia orientadora do projeto: encarar a web como um novo meio de educação, capaz de oferecer aos seus usuários ferramentas de aprendizado, e não apenas como veículo de entretenimento.
Com a experiência conseguida nesses dois anos, a dinâmica das salas apontou para uma metodologia de trabalho que se apóia em três pilares básicos na educação informal por meio da Internet: a orientação dirigida, oferecida pelos instrutores; a realização sistemática de oficinas, workshops e cursos; e uma terceira forma de atuação, a intervenção aberta. "A primeira corresponde ao uso propriamente dito dos computadores", explica Vinícius Terra, coordenador-geral das salas de Internet Livre do Sesc. "Um dos grandes diferenciais do nosso projeto, em relação aos outros telecentros, é a presença do webanimador, que orienta os usuários na navegação por portais de acesso que ofereçam mais possibilidades dentro da rede." A segunda linha de atuação corresponde à realização das oficinas, refletindo um modelo de sucesso no campo da educação informal. "Diferentemente de cursos convencionais na área da informática e Internet, os promovidos nas salas não visam à profissionalização. A idéia é ampliar o repertório cultural das pessoas", continua o coordenador. Já a terceira corresponde a uma forma especial de trabalhar com os interneteiros, a chamada intervenção aberta. É essa que melhor reflete a preocupação do Sesc em reafirmar seu trabalho de socialização da comunidade, unindo gerações e interesses diferentes em torno do mesmo intuito: a consolidação da cidadania, com seus direitos e deveres. "Essa frente corresponde a provocar os usuários a perceberem a Internet de maneira mais ampla", conta Vinícius. "Isso inclui usar os telões de plasma ou telões multimídia para interação entre as pessoas, possibilitando-as compartilhar as informações encontradas na rede", afirma.
Gerações na rede
Pensando em garantir a democratização do acesso à Internet, houve um grande cuidado com os públicos mais específicos, como a terceira idade e as crianças. Hoje, o que se percebe é que esses públicos encontram-se bem representados dentro das salas. Na unidade de Campinas, por exemplo, essa interação se reproduz claramente. "São desde crianças de dez anos até pessoas de 70", conta Kleber Lunardeli, webanimador. Nesse trabalho, os instrutores têm a grata surpresa ao ver essas aparentemente distantes gerações se aproximarem, trocando mensagens eletrônicas. "Além disso, em Campinas, a biblioteca fica junto com a Internet Livre. Logo buscamos valorizar essa proximidade física realizando programações em conjunto com os dois setores", continua Kleber. No programa Rede Aberta, voltado também ao internauta infantil, o público a cada mês recebe um tema a ser pesquisado. O tema de maio foi a mitologia grega. As crianças se intercalaram entre os livros e os sites e aprenderam mais sobre mitos e deuses. Ao contrário do que se possa imaginar, a facilidade das buscas on-line não substitui o prazer de recorrer ao formato convencional da literatura. Os números comprovam isso: seis mil usuários acessam a Internet mensalmente na unidade de Campinas, enquanto que a biblioteca computa o mesmo número de livros mensalmente emprestados.
E-mail, blog, download...
Já na Internet Livre da unidade Belenzinho, os chamados blogs (espécie de diário feito pelo internauta e disponibilizado na web) parecem ter sido o meio escolhido pelos usuários para a troca de idéias e experiências." O blog surgiu da vontade de registrar as coisas interessantes que acontecem na sala e, principalmente, de ter um espaço onde pudéssemos criar e nos expressar em conjunto", explica Marília, webanimadora da unidade. No entanto, o trabalho exige dedicação. Conquistar os freqüentadores para o uso deste recurso é um processo que, segundo Marília, ainda está em andamento. Mas a resposta do público já tem animado os instrutores. "Primeiro, nós apresentamos e discutimos o conceito de blog, partindo em seguida paras as oficinas de criação", continua. "Depois, criamos um blog coletivo, no qual relatamos o que acontece na sala." O próximo passo é criar mais "atrações" para a página, e as idéias já estão surgindo. "Pretendemos incluir a programação da sala, indicações de sites e até programas para download gratuito."
Novas salas, mais experiências
Todo esse universo novo a ser explorado ganhará reforço com a inauguração de mais nove salas de Internet Livre. Duas na capital, em Itaquera e Interlagos; seis no interior, Bauru, Catanduva, Piracicaba, São José do Rio Preto, São Carlos e Ribeirão Preto; e uma outra em Santos. A inauguração das novas estações está prevista para o segundo semestre deste ano. "Os projetos estão todos prontos, os equipamentos já foram solicitados e as obras estão sendo executadas", esclarece o assessor técnico de planejamento do Sesc Wilson Pina.
Segundo Pina, o know-how adquirido pela instituição nesses dois anos de Internet Livre facilitou muito na elaboração dos projetos. "O Sesc já trabalha com fluência maior no processo todo", continua. "Até na própria execução dos projetos, afinal agora os arquitetos já conhecem a proposta das salas, assim eles têm trabalhado com muito mais rapidez." Além disso, em todos os novos projetos das futuras unidades do Sesc já estão sendo reservados espaços para a Internet Livre. "As unidades em construção em Pinheiros e Santana terão os seus projetos iniciados ainda neste semestre, e nas demais futuras unidades do Sesc os desenhos deverão ser elaborados quando estiverem na fase de acabamento, visando a incorporar as últimas novidades tecnológicas e as experiências do Sesc na sua operação e gestão", finaliza.
Atividades conjuntas - Nos cursos, oficinas e workshops realizados pela Internet Livre, arte e educação se misturam
Sempre que uma atividade artística tem a tecnologia como recurso - sejam artistas de música eletrônica ou trabalhos artísticos que usam esse tipo de tecnologia - as salas de Internet Livre aparecem como mais um espaço dentro das unidades para elas acontecerem. O resultado disso pôde ser visto em ocasiões como a realização da Mostra Sesc de Artes, em sua mais recente edição realizada sob o tema Ares e Pensares. Entre as atividades, o poeta concreto Augusto de Campos esteve presente no Sesc Carmo para um bate-papo sobre a sua arte. A intervenção inspirou seções de navegação no site oficial do poeta e oficinas que abordaram a relação entre a arte da poesia e a ferramenta da informática. Ainda nessa mostra, a Internet Livre marcou presença também com um curso de animação, que poderia facilmente ser chamado de projeto de tecnologia e interação. Gilberto Caserta, da BrazilToonz, foi um dos responsáveis por essas oficinas e explica que a técnica utilizada, chamada stop motion, é a mais interessante para introduzir conceitos de animação no computador. "Geralmente as atividades que envolvem o uso de máquinas levam um certo tempo até a pessoa aprender a mexer nas ferramentas", diz Gilberto. "No stop motion não, enquanto a criança está fazendo ela já vê como está ficando."
Na área da música, as possibilidades que o computador apresenta em termos de produção - principalmente da chamada música eletrônica (ler mais sobre o assunto na matéria Ao Som da Batida, publicada nesta edição) - também atrai público. "O pessoal anda muito interessado nessa área de música eletrônica. As pessoas não têm idéia do que é possível fazer", explica Wilson Sukorski, que já ministrou oficinas de música também nas salas de Internet Livre do Sesc Ipiranga e Araraquara. "Na última oficina que eu dei, tinha planejado uma introdução teórica de cerca de uma hora e acabei falando a manhã toda."
Acesso gratuito contra a pirataria
Um dos aspectos da Internet Livre que merece nota, entre outras coisas, por reafirmar o compromisso com o acesso e à democratização da informação, é a política de não trabalhar com programas de computador que têm de ser comprados. Sem pirataria e com a intenção de atrelar o mínimo possível o uso da Internet e das máquinas à condição financeira do usuário, todos os cursos e atividades cotidianas das salas utilizam os chamados freewares (softwares gratuitos), ou seja, programas que podem ser conseguidos na Internet (ou baixados, como se diz) sem se gastar um tostão. "O único programa pago que a Internet Livre utiliza nos computadores de suas salas é o Windows (produzido pela empresa norte-americana de softwares Microsoft), que é o próprio sistema", explica Vinícius. "Dentro disso, há sempre a opção por versões gratuitas dos programas mais usados." O músico Wilson Sukorski emenda: "Eu sempre uso em minhas oficinas programas gratuitos de edição de áudio. E por incrível que pareça os softwares mais poderosos são justamente esses", atesta.