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Desafio como esporte

Puxar um trenó sob temperatura abaixo de 0°C por 120 quilômetros: eis uma das histórias contadas por esportistas que fazem da aventura um estilo de vida, no Projeto Escolhas

Até onde um sonho de adolescência pode nos levar? A simples leitura de relatos de explorações polares na juventude seria um estímulo suficiente para que alguém batalhasse por 20 anos até alcançar os dois pólos do planeta? No caso de Júlio Fiadi pode-se dizer que sim. Velejador, piloto de avião e mergulhador, ele foi o primeiro brasileiro a cruzar os Pólos Norte e Sul do planeta. Essa e outras expedições, vale acrescentar, exigiram dele um enorme esforço físico, tornando-se uma opção de atividade esportiva, digamos, pouco convencional.
Esportes praticados em cenários diversificados, buscando sobretudo o contato com a natureza pouco explorada, são o tema de Escolhas, um ciclo de palestras e exposições fotográficas realizado entre janeiro e fevereiro no Sesc Santo André.
Administrador de uma metalúrgica, Júlio Fiadi, cujo livro Rumo aos Pólos foi publicado em 2002, conta que as duas atividades - administração e expedição - têm muito em comum. "Ambas dependem essencialmente de logística, planejamento, companheirismo e persistência. Além do mais, os empreendedores gostam de desafios e de manejar técnicas para minimizar as dificuldades", ressalta. "E mais: participar de uma expedição é o mesmo processo de enfrentar uma crise empresarial: é quando conhecemos realmente nossos companheiros. Em dez dias de viagem se conhece melhor alguém do que em dez anos de convivência", afirma. Além disso, a prática esportiva tornou-se essencial para cumprir suas metas. "Tive que arrastar um trenó contendo tudo para a minha sobrevivência em baixíssimas temperaturas por 120 quilômetros. Para isso, pratiquei durante um ano puxando pneus amarrados à minha cintura com mangueiras de bombeiro. Comecei pelas ruas do Pacaembu e passei à pista do estádio", lembra Júlio.
Para conciliar as viagens e o ritmo de trabalho na metalúrgica, Júlio explica que, quando sai para uma expedição, tira férias mais longas e seu irmão, sócio da empresa, assume as responsabilidades e vice-versa. "Esse revezamento nos sobrecarrega em algumas épocas, por isso, eu posso dizer que trabalho tanto quanto os outros funcionários."

Desafios constantes
Unidos em busca de emoções e belas paisagens, os integrantes da equipe Quasar Lontra de corridas de aventuras também conseguem, com muita disciplina, agregar essas atividades físicas a uma rotina de trabalho. A equipe é formada por Fabrizio Giovaninni, 38, administrador empresarial; a personal trainner Marina Verdini, 27; Rafael Reyes de Campos, 26, oficial do exército; e o administrador Vitor Teixeira, advogado, 43, casado, pai de duas filhas.
Apesar de terem rotinas e profissões diversas, segundo Rafael, líder da equipe, cada um colabora muito com a experiência que traz de sua área. No ano de 2002, participaram pela primeira vez, ao lado de outros três grupos brasileiros, do Eco Challenge, maior circuito de corrida de aventuras do mundo, realizado nas Ilhas Fiji, tendo o Quasar Lontra obtido a melhor classificação geral entre as equipes nacionais: décimo segundo lugar.
Cansaço físico, sono, fome e estresse psicológico são as maiores dificuldades enfrentadas nesse tipo de corrida. "Apesar disso, o objetivo principal é realizar uma prova em equipe, estimulados acima de tudo pelo desafio", conta Rafael. "A cada nova competição, criamos novos limites a serem superados, afinal, nunca uma competição é igual a outra." A primeira competição dele, por exemplo, foi na Expedição Mata Atlântica, a maior da categoria no País. O objetivo inicial do atleta era apenas terminar o circuito, mas sua dedicação rendeu-lhe o primeiro lugar. A partir daí, uma vida regrada tornou-se essencial para dar continuidade às corridas. Exercícios físicos diários e, nos fins de semana, trekking e rappel, entre outras práticas, são obrigatórias para garantir um preparo físico constante.
Em alguns circuitos, é oferecida uma premiação em dinheiro ao primeiro colocado, mas o troféu que almejam tais equipes é representado pela beleza dos lugares que exploram e pela certificação de sua própria capacidade.
Além de Júlio Fiadi e da equipe Quasar Lontra - que estará em palestra no dia 12 de fevereiro, às 20h, no Sesc Santo André -, esteve presente no ciclo, no dia 29 de janeiro, o renomado aventureiro Amyr Klink (leia entrevista nesta edição), que abordou a questão da sua escolha de vida, do planejamento e da realização de suas expedições, como a travessia solitária do Oceano Atlântico em um barco a remo.
No dia 26 deste mês, Klever Kolberg, engenheiro e integrante da equipe BR Lubrax, que participou de 15 edições do Rally Dakar Paris, contará o que o levou a desafiar os perigos do deserto e como ele desenvolve seu treinamento e planejamento.
Ainda dentro do projeto Sesc Verão, até o fim de fevereiro estão à disposição dos interessados equipamentos para a prática de esportes radicais em aulas abertas de modalidades como parede de escalada, tirolesa e rappel. De acordo com Ricardo Gentil, técnico do Sesc Santo André, "esta é a melhor forma de proporcionar ao público a experiência do novo, para que cada um busque a sua atividade física, por mais inusitada que seja", afirma.