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A volta ao mundo em 80 jogos

Exposição temática propõe uma viagem pelos cinco continentes

Em busca da mais remota história do homem, arqueólogos e pesquisadores vasculham distantes cantos do planeta para encontrar vestígios de civilizações antigas, com a intenção de revelar ao mundo traços, características e histórias muitas vezes desconhecidas ou perdidas na memória dos tempos.
Mas não são apenas utensílios, adornos, escritos e peças de adoração os objetos descobertos nas escavações. Encontram-se também jogos, cujo mecanismo se transforma em documento histórico de extrema valia para a compreensão do modo de pensar e agir de nossos antepassados. Comum a todas as civilizações, o jogo é um testemunho rico e fiel da relação do homem com o mundo.
Vestígios de um jogo egípcio chamado Mancala foram encontrados na pirâmide de Quéops. Supõe-se que sua idade aproximada seja de até 7 mil anos. Apesar de originário do Egito Antigo, o Mancala - assim como grande parte dos jogos - atravessou fronteiras e foi reproduzido, em diferentes pontos do planeta, de acordo com as especificidades das culturas locais. Na África, era jogado com sementes; na Indonésia, com pequenas conchas; já os marajás indianos costumavam praticá-lo com rubis e safiras.
Certos jogos de tabuleiro tiveram papel essencial no curso da humanidade, fornecendo estratégias e possibilidades de ação para guerras e disputas de poder. Dizem que o ditador comunista Mao Tse Tung utilizou exemplos do Go - criado cerca de 4 mil anos antes pelo imperador Yao, fundador do Império Chinês - para comandar seus subordinados na revolução que transformou a face do país e sacudiu a história do mundo no século passado.
Esses são alguns dos jogos apresentados numa grande exposição interativa instalada desde meados de janeiro no Sesc Belenzinho. A Volta ao Mundo em 80 Jogos ocupa cerca de 5 mil metros quadrados da unidade e apresenta aos visitantes exemplares dos cinco continentes. Além de 37 jogos raros que estão expostos, o evento conta ainda com outros 55 disponíveis para brincar, além de uma estação multimídia para jogos de tabuleiro no computador. A proposta é contar, de maneira leve e divertida, um pouco da história das civilizações que os desenvolveram e praticaram ao longo da história. O projeto traz elementos que ressaltam as características mais significativas de cada povo, colocando-as em seu contexto geográfico e social.

O jogo não acaba
O tema do projeto já foi alvo de uma exposição criada no Sesc Consolação em 2001, e que percorreu algumas outras unidades do Estado, como Araraquara, Taubaté e Santos. No Belenzinho, entretanto, A Volta ao Mundo em 80 Jogos ganhou uma nova edição, completamente reformulada. "O assunto é inesgotável e interessa muito a todos", afirma Elisa Americano Saintive, gerente da unidade. "Pensamos em algo que pudesse proporcionar o entretenimento de toda a família - pais, avós, irmãos -, apesar de os jogos serem direcionados para crianças de 7 a 14 anos."
Esta é a quarta grande exposição temática realizada pelo Sesc Belenzinho. A mais recente delas, Brincadeiras de Papel, alcançou um grande sucesso, chegando a receber mais de 2 mil pessoas por dia. Elisa afirma que a expectativa do novo projeto é a mesma, mas a proposta é diferente. "Nosso foco agora é outro. Pretendemos absorver e divertir a criança através do jogo - de sua história, desafios e da habilidade requerida", explica. "Tivemos uma preocupação grande em fazer uma instalação bonita e bem cuidada, mas o centro das atenções é mesmo o jogo", afirma.
A pesquisa dos 92 exemplares que compõem a exposição foi desenvolvida pela empresa mineira Origem. Segundo sua diretora, Monica Sabino, eles fornecem infinitas possibilidades de aprendizado. "Os jogos são riquíssimos em símbolos, o que permite associações com o dia-a-dia dos praticantes", afirma. "Além de nos transportar para outras épocas e lugares e nos dar aulas não só de história, mas de matemática, física, geografia, eles nos ensinam a ganhar e perder, definir estratégias para alcançar objetivos e ter paciência e persistência."

Instalação lúdica
Para desenvolver o projeto cenográfico foi convidado o escritório Königsberger Vannucchi. Os arquitetos projetaram uma grande instalação de 70 metros de comprimento por 3 metros de largura para conduzir os visitantes da entrada do Sesc Belenzinho até a exposição. Trata-se de um grande deck ondulado de madeira, disposto entre nove velas de mais de 8 metros de altura, movidas por grandes ventiladores industriais dispostos no chão. "Essa foi a primeira idéia que surgiu quando começamos a pensar na exposição", afirma Gianfranco Vannucchi, um dos arquitetos responsáveis. "Queríamos que esse grande gramado da entrada servisse como uma zona de descompressão, e que o deck conduzisse os visitantes por uma pequena viagem para chegar nos continentes", explica.
Ao final do percurso - "viagem" -, o público chega a um galpão de mais de mil metros quadrados, dividido em vários ambientes: os cinco continentes, um espaço destinado a crianças de até 7 anos, uma sala com jogos de computador e um boteco, que, além de trazer jogos como dardo, palitinho e bilhar, serve lanches e bebidas.
"A idéia do jogo foi explorada de várias formas", explica outro arquiteto responsável pelo projeto, Aki Dado. "Até as divisórias que criamos para separar os espaços são como um jogo arquitetônico para as crianças." A cenografia da exposição é inspirada no Brincando de Engenheiro, jogo muito popular há algumas décadas. Cada um dos continentes foi construído com peças que reproduzem em escala ampliada os cubos originais. "Ao mesmo tempo em que a arquitetura, por si só, remete a um jogo, as crianças podem também efetivamente jogar com os espaços e as peças", explica Aki. "Um único objeto pode ter usos completamente diferentes, dependendo da imaginação: uma ponte às vezes pode ser um túnel, uma cadeira ou um escorregador", exemplifica. "Todas as formas foram pensadas para terem uso bem livre." "As peças são bastante provocantes. As crianças querem o tempo inteiro subir, pular, brincar", acrescenta o cenotécnico Roberval Layos. "E esses elementos foram planejados e executados para receber toda essa carga."
A Volta ao Mundo em 80 Jogos ficará exposta até o dia 13 de abril, no Sesc Belenzinho, de terça a domingo, das 10h às 19h. Confira no Caderno de Programação.