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Praças da Paz
Agora é com a gente
"Ausência de lutas, violências ou perturbações sociais; tranqüilidade pública; concórdia, harmonia (...)."
A definição acima é a encontrada no dicionário para uma palavra que tem se ouvido com muita freqüência nos dias de hoje: paz. Não por estar em voga, mas, infelizmente, por tratar-se do bem que parece estar mais distante da humanidade.
Assim, resta a pergunta: como alcançar, finalmente, a paz? "Acho que precisamos redefini-la", começa respondendo Isis de Palma, representante de São Paulo na rede mundial Aliança para um Mundo Responsável, Plural e Solidário, que desde 1997 promove, com a participação de 120 países associados, eventos que discutem o tema e apontam possibilidades de concretização. "Creio que algumas palavras se desgastam com o uso excessivo e indiscriminado, tendo o seu significado esvaziado: cidadania, paz e tantas outras... A questão da paz precisa ser aprofundada, é uma questão de cultura da paz, o que ela significa para cada um de nós."
Nesse sentido, o Sesc São Paulo, em parceria com a Aliança, promoveu, de 17 a 21 de setembro, o projeto Praças da Paz. Desenvolvido em 25 unidades da instituição no Estado, a programação contemplou uma ampla gama de atividades, como caminhadas, aulas abertas, dança, oficinas, espetáculos de música e teatro, palestras e workshops para promover a relação entre os indivíduos e a discussão da paz na convivência urbana. "Nessa iniciativa, os espaços do Sesc, na capital e no interior, transformaram-se em simbólicas praças da paz", esclarece Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo. "Isso impulsiona movimentos sociais que, cada vez mais, buscam o crescimento mútuo, a justiça social e o respeito à diversidade. Movimentos cujo êxito depende do reconhecimento de nossos limites e da nosso comprometimento com o bem comum."
Cultura da paz
Tolerância e respeito às diferenças. Grande parte dos conflitos que nos afetam nasce na lacuna deixada pela ausência desses conceitos; dos grandes embates mundiais à violência urbana que presenciamos da janela do carro, num papel misto de testemunha impotente e vítima. "Existe uma grande exclusão social e isso coloca todas essas questões dentro do mesmo caldeirão", retoma Isis. "Acho que vivemos uma guerra no Brasil; o número de jovens assassinados nas guerras do tráfico é tão grande ou até maior que o de pessoas que morrem numa guerra civil. Assim, a violência mundial é comparável à urbana, pois ambas têm como base a intolerância e a exclusão social." O diretor regional do Sesc São Paulo completa alertando que a paz, como tema, era anteriormente um caminho para alcançar o que ele chama de uma "tranqüilidade distante". "Porém, hoje, ela assume ares de urgência", continua Danilo Santos de Miranda. "Especialmente nas grandes cidades, onde a violência gradativamente toma parte na rotina do cidadão comum, a paz é uma necessidade imediata, própria da vida contemporânea e, como tal, transforma-se em um tema recorrente nas discussões mundiais, nas esferas das ações públicas e privadas", afirma.
Dentre as diversas atividades que compuseram o evento Praças da Paz, as discussões e trocas de experiência entre líderes comunitários são as que mais apontaram caminhos. Por meio do que já foi feito em diversas comunidades, é possível provar que se pode fazer ainda mais. Além disso, fica claro também que a sociedade tem papel fundamental na realização de iniciativas positivas, seja pressionando as autoridades, seja elegendo representantes compromissados com valores coletivos.
Entre os presentes em um desses encontros esteve Célia Cymbalista, do Fórum em Defesa da Vida contra a Violência, composto de associações de moradores e comunidades organizadas de cinco distritos da Zona Sul, entre eles Capão Redondo e Jardim Ângela, dois dos mais perigosos e violentos de São Paulo. Célia fazia parte da ONG ambientalista S.O.S. Represa Guarapiranga mas, há cinco anos, percebeu que unir forças torna a caminhada mais promissora, por isso integrou-se ao Fórum. "Há todo um movimento na sociedade civil organizada, o terceiro setor, que se preocupa com a questão da violência", analisa. "Cada organização, entidade ou rede procura atuações que lhes pareçam eficientes. E cada uma dessas redes e entidades tem sua vocação."
Célia nota que a sociedade começou a se mobilizar, inclusive em âmbito mundial, em torno do que ela, a exemplo de Isis e do diretor regional Danilo Miranda, chama de cultura da paz. "O evento no Sesc teve muito a ver com isso", retoma. "Nessa concepção, o indivíduo não se coloca numa posição somente de reação a uma situação dada. Quando você fala em cultura da paz, todo o imaginário e o pensamento ficam voltados para uma atuação mais pró-ativa e menos reativa." "É o diálogo no lugar da briga, a paciência no lugar do conflito, a tolerância de enxergar no outro um ser diferente e não exclui-lo por isso", define Isis. "Seja o povo ou o motorista do carro ao lado."
Caminhe pela paz
No dia 2 de novembro, o Fórum em Defesa da Vida contra a Violência promove sua caminhada anual pela paz. Serão três pontos de saída na Zona Sul: praça do Jardim Ângela, altura do 4100 da estrada do M'Boi Mirim; praça Nossa Senhora do Carmo, altura do 4070 da estrada de Itapecerica; e supermercado Sé, altura do 2650 da estrada de Itapecerica. A passeata seguirá em direção ao cemitério São Luiz onde, às 10h30, haverá um ato ecumênico. Participe!