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Identidade brasileira
Naná Vasconcelos e Egberto Gismonti voltaram a se reunir, em setembro, no Sesc Vila Mariana, 25 anos depois de seu primeiro encontro musical. "Não dá para imaginar a importância de um show como esse", afirmou Gismonti. Em 1977, os dois se encontraram quase que casualmente em Paris para gravar o premiado álbum Dança das Cabeças, na Noruega. "Estamos fazendo bodas de prata", brincou Naná. Desde então, a parceria se estendeu por diversos discos memoráveis, como Sol do Meio Dia (1978), de Gismonti; Saudades (1979), de Naná, e Duas Vozes (1984), assinado pela dupla. A apresentação fez parte do projeto Identidade Brasileira, que pretende resgatar os valores da brasilidade no cotidiano do País, reunindo artistas que se inspiram em aspectos de nossa cultura popular.
"'Naná, você não quer gravar um disco, não?' 'Claro, vamos gravar. Quando é que é?' 'Depois de amanhã'. E ele: 'Tá ótimo'. 'Muito bem, então vamos ensaiar', propus. E ele: 'Já não dá mais tempo...'". Egberto Gismonti, reproduzindo o diálogo que antecedeu a gravação do lendário disco Dança das Cabeças, de 1977

Aos Pés da Letra
A companhia francesa Dos à Deux, formada pelos brasileiros André Curti e Artur Ribeiro, apresentou em setembro sua mais recente produção, Aux Pieds de la Lettre (Aos Pés da Letra), no Teatro Sesc Anchieta. O espetáculo, que estreou com sucesso de público e crítica no prestigiado Festival de Avignon e já passou por diversas outras cidades, é resultado de dois anos de investigação em um hospital psiquiátrico nos arredores de Paris. Radicados na cidade européia desde a década passada, a dupla desenvolve uma pesquisa artística com o teatro gestual - uma técnica das artes cênicas contemporâneas que utiliza o corpo e os movimentos para contar histórias.


Mostra de vídeo

O Sesc Santo André apresentou em setembro o resultado da 16ª Mostra de Vídeo de Santo André. O evento é fruto de uma parceria com as secretarias municipais de cultura e comunicação. A mostra, que tem por finalidade estimular o desenvolvimento e a produção videográfica regional e nacional, exibiu 26 dos 173 trabalhos inscritos. Filhos da Cidade, do paulista Bruno Mitih Viana, sagrou-se vencedor do evento, que premiou ainda, em segundo lugar, Cela de Aula, de Iberê Carvalho, e em terceiro, Vila Mimoza, de Felipe Nepomuceno. O júri concedeu também menções honrosas para Armadilhas para Turistas, de Alexandre Camargo, e para Utilidades na Feira ou em Qualquer Lugar, de Márcio Augusto Braga.

Independentes
Além da crise econômica e da pirataria, as gigantes da indústria fonográfica mundial instaladas no Brasil têm mais motivos para se preocupar: estima-se que mais da metade da produção nacional tenha origem nas gravadoras independentes. Em setembro, o Sesc Pompéia sediou o I Encontro da Música Independente, promovido pela ABMI (Associação Brasileira de Música Independente). O evento reuniu empresários, produtores e músicos para debater temas como a distribuição de discos em bancas de jornal, o comércio pela internet e direitos autorais. Uma feira de discos instalada no galpão de convivência reuniu cerca de cinqüenta selos e mais de quinhentos títulos. Além disso, a unidade recebeu apresentações de 22 grupos e artistas, como Virgínia Rosa, Cabruêra e Paulo Padilha (foto).
"Hoje, no Brasil, não existem mais lojas de disco e é cada vez mais difícil encontrar patrocínios ou casas para fazer show. Mas para o independente sempre foi assim, continuamos ralando com a mesma dificuldade de sempre". Pena Schmidt, presidente da ABMI

Plantas e Flores
Para comemorar o início da primavera, o Sesc Interlagos promoveu em setembro um evento temático sobre as cores e aromas da nova estação, o Plantas e Flores: Primavera de 2002. Entre as atrações, instalações cenográficas, um mosaico de flores concebido pela artista plástica Cândida de Godoy e uma mostra fotográfica paralela, denominada Visões da Natureza, reunindo trabalhos do prestigiado fotógrafo de natureza Araquem Alcântara, do pesquisador e técnico do Sesc Hélcio Magalhães, e de Felipe Vernizzi. Além disso, o evento teve palestras, intervenções teatrais, brincadeiras e oficinas de arte, ecologia e culinária.

Limite
O projeto Cinema Trinta e Cinco Restaurado, do Sesc Ipiranga, apresentou em setembro uma das mais importantes obras da cinematografia brasileira, Limite, de Mário Peixoto. No filme, concluído em 1931, três personagens à deriva em alto-mar relembram o passado. "A complexidade temática e a sofisticação narrativa lhe renderam a injusta fama de obra hermética, acessível apenas a iniciados", afirma Sérgio Machado, que produziu o documentário Onde a Terra Acaba, sobre o mítico diretor carioca. "Filmada numa época em que se consolidava a transição para o cinema falado, o filme pode ser visto como o canto do cisne do cinema silencioso", conclui. Em outubro, o projeto apresenta o filme O Jovem Tataravô (1936), de Luiz de Barros. Confira na programação.

Desafio escolar
Em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo, o Sesc Itaquera promoveu em setembro o evento Desafio Escolar 2002. Trata-se de um grande encontro entre jovens da oitava série do ensino fundamental e de todas as séries do ensino médio de instituições públicas e privadas. Neste ano, participaram sessenta escolas, envolvendo quase 12 mil alunos. Durante dois dias, ocorreram competições artísticas, lúdicas, educativas e esportivas, buscando valorizar cada vez mais a solidariedade e a colaboração. O tema dessa edição foi Cidade Sustentável, trazendo à discussão o processo de degradação e enfatizando o conceito de qualidade de vida no ambiente urbano.

Copa Comerciária
O Sesc São Paulo realiza desde o dia 29 de setembro a Copa Comerciária 2002. O tradicional evento esportivo anual, que envolve trabalhadores do comércio e serviços e seus dependentes, apresenta uma ampla diversidade de modalidades esportivas e se estende por todas as unidades da capital e interior. Seu objetivo é ressaltar a importância da prática de atividades físicas para a melhoria da saúde e da qualidade de vida. O lançamento do projeto aconteceu no dia 12 de setembro com o fórum O Esporte Favorecendo a Cidadania, que contou com a participação do diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, da jornalista da ESPN Brasil, Adriana Saldanha, do filósofo e educador Mário Sérgio Cortella e do dirigente esportivo José Carlos Brunoro.

Lorca em cena
O grupo mineiro Oficcina Multimédia apresentou durante todo o mês de setembro no Teatro Sesc Anchieta o espetáculo A Casa de Bernarda Alba, do espanhol Federico Garcia Lorca. A peça, escrita na década de 1930, retrata o cotidiano de uma família do interior da Espanha que perde seu patriarca. Por ordem da viúva, decreta-se um luto de oito anos, deixando enclausuradas em sua própria casa as cinco jovens filhas. "A peça é atual porque as relações humanas não foram resolvidas. Em larga escala, falta consciência da engrenagem que move o mundo", declara a diretora do grupo, Ione Medeiros, para quem a montagem aborda, na verdade, a questão do autoritarismo. "Nada mais nefasto do que o pensamento e as decisões centralizadas em um número reduzido de pessoas", afirma.
"Esses pequenos dramas cotidianos - uma mãe pode não querer o prazer da filha por frustração, por não ter vivido o próprio prazer - refletem, em sua microestrutura, os grandes dramas da sociedade". Ione Medeiros, diretora de A Casa de Bernarda Alba

Cidadão honorário
A Câmara Municipal de São José do Rio Preto prestou homenagem ao Diretor Regional do Sesc-SP, Danilo Santos de Miranda, outorgando-lhe o título de Cidadão Honorário Riopretense, em cerimônia realizada no último dia 20 de setembro. O prefeito municipal, Edinho Araújo, e o presidente da Câmara, Adair Sérgio Camargo, destacaram que a proposta, aprovada por unanimidade, partiu do vereador Fernando Araújo e deve-se à destacada contribuição do homenageado para o incremento da vida cultural da cidade, consolidando o papel relevante ocupado pelo município no cenário artístico do país.

O Som é Assim
Desde julho, os músicos Paulo Tatit e Sandra Peres, do selo Palavra Cantada, vêm apresentando no Sesc Ipiranga o projeto O Som é Assim. Trata-se de uma série de oito aulas-espetáculo destinadas às crianças. Duas vezes ao mês, a dupla aborda um tema diferente. Em setembro foi a vez da percussão corporal e dos instrumentos orientais. A idéia é contar um pouco da história dos instrumentos e demonstrar de forma lúdica seu funcionamento, de modo que se crie uma afinidade com a música de qualidade. Para isso, Paulo e Sandra contam com a ajuda de convidados especiais, projeção de imagens e de uma apostila ilustrada distribuída à garotada. O projeto segue até novembro. Confira na programação.

Igualdade racial
O Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), em parceria com outras instituições, promoveu em setembro no Sesc Vila Mariana a cerimônia de entrega do Prêmio Nacional Educar para a Igualdade Racial. A iniciativa pretende incluir o tema das relações étnicas e raciais nos projetos pedagógico e escolar como forma de valorizar a pluralidade da cultura brasileira. Além da premiação dos nove trabalhos vencedores, a programação do evento contou com debates, apresentação dos trinta projetos finalistas, mini-cursos, mostra de vídeos, oficinas culturais e apresentações musicais, como as do Quinteto em Branco e Preto e de Rita Ribeiro.
"Impõe-se agora a construção de uma agenda propositiva que, vale lembrar, não é de responsabilidade dos e para os negros, mas de todos quantos comprometidos com a justiça e a cidadania". Hédio Silva Jr., diretor do Ceert

Educação à distância
A grande expansão da educação à distância em todo o mundo vem provocando uma ampla reavaliação dos conceitos envolvidos nesse tipo de ensino. Para discutir essas questões, o Sesc Vila Mariana recebeu o IX Congresso de Educação à Distância, promovido pela Abed (Associação Brasileira de Educação à Distância). "Os desafios brasileiros são inúmeros. Para enfrentá-los, é indispensável implementar soluções criativas e inovadoras", afirma Frederic Litto, presidente da entidade. "O objetivo é atingir o maior contingente de pessoas, democratizando o acesso à informação e ao conhecimento e ampliando, concomitantemente, a inclusão social daqueles segmentos da população até agora privados de oportunidades educacionais."

Caminhos da Independência
Para comemorar a Semana da Pátria, o Sesc Santo Amaro promoveu em setembro o evento Caminhos da Independência. Além de gincanas, exibição comentada do filme Carlota Joaquina (foto), de Carla Camuratti, e de um torneio relâmpago de futsal, o projeto trouxe ainda a exposição Pátria Musical, contando um pouco da trajetória da música brasileira dos tempos da Independência até hoje, e o espetáculo Pátria que te pariu, com o grupo Música Ligeira. O trio paulistano apresentou um repertório especialmente concebido para o evento, incluindo diversos compositores que narram, por meio de suas canções, a trajetória política do país, como Chico Buarque, Donga e Aldir Blanc.

 

Frases

"Quem tem a veia artística, tem que estar sempre pensando em dar uma virada. Eu não me conformo nunca com o que faço"
Elza Soares, que estreou em setembro, no Sesc Vila Mariana, o show do aclamado CD Do Cóccix até o Pescoço


"O nome do show, na realidade, é uma ironia. Hoje em dia se tem a impressão de que todo mundo é artista ou celebridade, e as pessoas acabam esquecendo que artista é o profissional que faz arte"
Max de Castro, que apresentou em setembro no Sesc Vila Mariana o show de lançamento do disco Orchestra Klaxon, intitulado Reality Show do Max


"É interessante como num universo aparentemente simples de dois homens é possível tocar em tantos aspectos da vida e da relação entre os seres humanos"
Artur Ribeiro, da companhia Dos à Deux, que esteve em cartaz em setembro no Teatro Sesc Anchieta

"Essa diversidade que tem espaço nos diversos palcos espalhados pela cidade é a cara da música do Brasil"
Patrícia Palumbo, em depoimento sobre o 56º aniversário do Sesc-SP e sua contribuição para a cultura nacional

"Eu tinha que ter uma autorização do juizado de menores para poder tocar nesse local, que era um cabaré. Os músicos tocavam 45 minutos e paravam 15 para namorar. Mas eu tinha que ficar lá, sentado no palco, esperando"
Naná Vasconcelos, que se apresentou em setembro, no Sesc Vila Mariana, recordando de suas primeiras apresentações profissionais