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Cidade moldura

Adriana Vichi
Adriana Vichi

Pelas avenidas, ruas, edifícios, galerias e prédios comerciais, grandes painéis de consagrados artistas chamam a atenção de passantes. Talvez não saibamos ao certo a autoria de cada obra, uma vez que muitas não carregam placas ou a manutenção necessária à sua preservação, mas lá permanecem como contadores da história da cidade de São Paulo e de seus habitantes. Nesse passeio, somos guiados por diferentes técnicas, materiais e temas. Como bússola, a perspectiva de cada artista nos orienta por narrativas diversas. A exemplo dos quatro painéis Subida da Serra, Os Bandeirantes, Epopeia do Café e A Cidade Hoje, de autoria do pintor, desenhista, cenógrafo, ilustrador e muralista Clóvis Graciano (1907-1988), localizados na avenida Rubem Berta, zona Sul da capital. Testemunhas do seu tempo, essas e outras obras de acesso livre e gratuito ao público também se adaptam à atualidade. Caso da instalação Estação Sumaré, criada em 1998 por Alex Flemming, para a parada de metrô homônima, que recebeu uma intervenção do próprio artista em maio de 2020: máscaras faciais na imagem de cada uma das pessoas reproduzidas no painel. Confira essas e outras obras:

 

RUA JOSÉ BONIFÁCIO, ED. TRIÂNGULO

Centro

Resistem ao tempo dois painéis do pintor e muralista modernista Di Cavalcanti (1897-1976) na Rua José Bonifácio nº 24, nas proximidades da estação Sé do metrô. Criadas para o Edifício Triângulo, projetado na década de 1950 por Oscar Niemeyer (1907-2012), as obras intituladas Operários estão nas paredes do prédio. Feitos originalmente de pastilhas de vidro, os painéis foram atingidos por um incêndio em 1990, mas passaram por uma restauração que fez uso de pastilhas de cerâmica. Ainda é possível ver a assinatura do artista em um deles.

 

 

Adriana Vichi

 

ESTAÇÃO SUMARÉ – METRÔ

Zona Oeste

Dentro ou fora dos vagões, passageiros da Linha 2-Verde do metrô costumam fitar o rosto de homens e mulheres do painel criado pelo fotógrafo e artista plástico Alex Flemming para a Estação Sumaré. Inaugurada em 1998, ano de abertura da estação, a obra fixada nos vidros consiste em 44 painéis de 1,75 metro de altura por 1,25 metro de largura com 22 imagens de pessoas e letras de poesias sobrepostas aos retratos. Rostos de homens e mulheres anônimos, representando a diversidade da população da cidade, que também se enxerga no mural. A técnica utilizada para a obra foi a impressão sobre vidro em processo industrial, com a utilização de alumínio e tinta vinílica.

 

 

 

Leila Fugii

 

AVENIDA RUBEM BERTA

Zona Sul

Para o aniversário de 415 anos da cidade de São Paulo, o muralista Clóvis Graciano (1907-1988) criou os quatro painéis: Subida da Serra, Os Bandeirantes, Epopeia do Café e A Cidade Hoje, dispostos na avenida Rubem Berta. Cada um mede 3,5 metros de altura por 10 metros de comprimento e, como seus títulos indicam, narra fases da história local: o período de escravização, a invasão dos bandeirantes, a proeminência do café e o processo de urbanização.

 

 

 

Adriana Vichi

 

ESTAÇÃO DA LUZ

Centro

Na mesma estação que foi a porta de entrada na capital paulista para a artista ítalo-brasileira Maria Bonomi – cujo desembarque se deu em 1946, ao lado do avô –, foi instalado o painel Epopeia Paulista (2004). Na obra, Bonomi traduz a sua história e a de tantos outros imigrantes que formam a identidade plural e diversa da cidade. Com 73 metros de comprimento por 3 metros de altura, o mural é composto por 150 placas de concreto moldadas a partir de matrizes de madeira. A faixa amarela representa a população nordestina, a literatura de cordel e a periferia paulista, enquanto a cor de terra do mural faz referência à cafeicultura. Já o triângulo branco, no centro, remete à esperança e ao futuro. Por fim, as linhas retas, por toda a obra, representam os trilhos do trem. Segundo depoimento de Bonomi na época da inauguração, o artista não pode transformar tudo, mas pode aliviar o cotidiano ao contar uma história. “Toda construção deveria ter um espaço à arte pública. Isso mudaria a sensibilidade e o olhar do povo”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo, na ocasião da abertura.

 

 

 

 

Everton Ballardin

 

SESC VILA MARIANA

Zona Sul

A arte pode ser percebida como um mergulho. No caso do painel Reflexo d’Água (1997), da artista plástica Tomie Ohtake (1913-2015), para a piscina desta unidade do Sesc São Paulo, no sentido literal. Envolto pela arte, quem nada ou se exercita no espaço também é banhado pela inspiração da criadora, que sempre reforçou a importância de obras artísticas disponíveis ao acesso do público. Com o passar dos anos, a obra de Tomie sofreu os efeitos da umidade e da reação com o gás cloro presente no ambiente da piscina (reação química do cloro utilizado para tratamento da água com matéria orgânica). No entanto, para a preservação do painel, a estrutura de ferro de 25 metros altura por 35 metros de comprimento sobre a parede foi substituída por novas peças de aço carbono galvanizado, mantendo o conceito e a assinatura da artista. Conheça: www.sescsp.org.br/online/artigo/12859_UM+MERGULHO+NA+OBRA+DE+TOMIE+OHTAKE.

 

 

 

 

Everton Ballardin

 

SESC SANTO ANDRÉ

Região do Grande ABC

Filho de imigrantes italianos, nascido e criado em Santo André, no ABC Paulista, Luiz Sacilotto (1924-2003) criou dois painéis de 10,10 metros de altura por 2,30 metros de largura, na área de convivência do Sesc Santo André. A obra foi feita especialmente para a inauguração da unidade, em 2002. Na época, em entrevista ao jornal Diário do Grande ABC, o artista disse que esse mural era uma das criações mais importantes de sua carreira: “É uma obra para ser vista. Não é como se estivesse em um museu, a que nem todo mundo tem acesso. Crio com a intenção de democratizar a arte”. Saiba mais: https://www.sescsp.org.br/online/artigo/1148_ENTREVISTALUIZ+SACILOTTO.

 

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