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Tão longe, tão perto

Foto: Pixabay
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Seja pela sobrevivência, para adaptação em uma determinada sociedade ou por pura curiosidade, aprender move e transforma a humanidade. Hoje, em tempo de isolamento social para a contenção da Covid-19, a rotina da aprendizagem impõe novos desafios. Das aulas do ensino formal (do nível básico à pós-graduação), às atividades do ensino não formal (com cursos de idiomas, música, desenho, pintura, entre outros), navegamos na rede e em plataformas digitais por mares de avanços da educação a distância. “A impossibilidade de acessar os espaços escolares de um dia para outro levou a educação presencial a ser toda repensada”, observa a conselheira da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) Ivete Palange.

As instituições que já desenvolviam cursos totalmente a distância continuaram com eles. Para aquelas que realizavam cursos híbridos (parte presencial e parte a distância), foi necessário adaptar o conteúdo presencial. É bom lembrar que a educação a distância (EAD) tem uma história consolidada no Brasil (leia Da correspondência ao computador).

No caso de cursos livres, muitos professores tiveram que se adaptar a outra forma de ensinar. O letrista e designer Filipe Grimaldi foi um deles. Acostumado a realizar oficinas presenciais, encarou o desafio de criar o curso O Pintor Letrista – Lições Introdutórias em Pintura de Letra, com a equipe do Sesc Digital, para a plataforma EAD do Sesc São Paulo, que tem mais de 10 mil alunos inscritos nos quatro cursos gratuitos disponíveis (leia Aprenda de casa!).  “Você tem que se preparar para que as dúvidas das pessoas sejam resolvidas no decorrer do conteúdo dado. No meu caso, uma técnica artística com pincel e tinta, foi necessário aperfeiçoar uma didática de material, de empunhadura do pincel, de divisão de pauta”, conta. “Coisas técnicas que precisavam ser feitas para o aluno, primeiro, entrar no clima do aprendizado e, depois, conseguir desenvolver o desenho.” Outro quesito que também entrou em cena foi a questão do tempo destinado a cada videoaula. “Como aluno, já fiz cursos de aulas que duravam 30 minutos. Era muito difícil prestar atenção enquanto treinava ao mesmo tempo.” Sendo assim, cada uma das seis videoaulas de O Pintor Letrista tem em média 10 minutos. Desde o lançamento desse curso no Sesc Digital, em abril, Grimaldi vem recebendo um retorno positivo de alunos de diversas partes do país. Uma interação nova para o professor. “Acho muito positivo esse contato direto com quem fez o curso.”

Se por um lado Grimaldi aprendeu a desenvolver suas aulas para a modalidade de ensino a distância, por outro, o aluno também precisou se adaptar. Do outro lado da tela, é necessário adotar novos hábitos e comportamentos. Primeiro, deve-se escolher um lugar para estudar sem distrações, assim como evitar redes sociais e aplicativos de conversa. É recomendável, também, definir um horário para acessar as aulas. Por fim, deixar o material didático e os exercícios organizados em pastas virtuais.

EXCLUSÃO DIGITAL

A oferta e a realização de cursos a distância esbarram, no Brasil, em problemas quanto ao acesso à internet, que não está ao alcance de todos. Em todos os estados as aulas da Educação Básica foram suspensas para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus. Uma decisão que atinge cerca de 47,8 milhões de crianças e jovens, segundo dados do Censo Escolar 2019, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Por isso, o Conselho Nacional de Educação (CNE) listou uma série de atividades não presenciais que podem ser utilizadas pelas redes de ensino durante a pandemia, como videoaulas, plataformas virtuais, redes sociais, programas de televisão ou de rádio.

No entanto, aproximadamente 70 milhões de brasileiros têm acesso precário à internet ou não têm acesso, segundo o mais recente levantamento do Cetic.br – departamento do Comitê Gestor da Internet que monitora a adoção de tecnologias de informação há 15 anos. Somam-se, ainda, 42 milhões que nunca acessaram a internet.

“Nem todas as crianças do ensino público têm acesso à internet em casa. Alguns estados, como São Paulo, disponibilizaram aplicativos que não têm custo de internet para os alunos”, acrescenta Palange. “Mas, mesmo assim, quase a metade dos alunos ainda não conseguiu acessá-los, por dificuldades diversas, incluindo problemas com aplicativos e internet intermitente.”

Para os professores, também há obstáculos surgidos com a nova rotina. Os profissionais tiveram que pensar e propor soluções em pouco tempo, além de aprender a lidar com recursos de tecnologia e metodologias do ensino a distância. Ainda entram nessa equação os pais, que estão acompanhando de perto as atividades escolares dos filhos. “Estou experimentando isso agora com minha filha estudando em casa, longe da escola. Vejo que o ensino a distância precisa de um preparo não só de apresentação da aula ao vivo, mas de um material complementar para você conseguir seguir”, observa Filipe Grimaldi.

O novo cenário exige uma tomada de posição para avaliar a experiência atual e repensar a educação, quer seja presencial, quer seja a distância. “Talvez a discussão deixe de ser se um curso deve ser presencial ou a distância, pois o conceito de presença mudou”, observa Ivete Palange. “Os atores da educação (professor e alunos) podem estar presentes em espaços virtuais agindo e interagindo, não é mesmo?” Ou seja, “o importante é o processo educacional, a possibilidade de acesso às tecnologias, as condições de ensino que se oferecem, para que a pessoa interessada aprenda”, complementa.

EAD SESC DIGITAL

54.600 visitantes

10.300 alunos inscritos nos 4 cursos disponíveis

Fonte: EAD Sesc Digital, período de 10 de abril a 15 de maio

 

Da correspondência à internet

COMO A EAD EVOLUIU ATÉ CHEGAR AO FORMATO ATUAL 1900 PELO CORREIO

Há uma linha de pesquisadores que apontam o começo da EAD neste período, com a publicação dos primeiros anúncios de cursos em jornais no Rio de Janeiro – principalmente de datilografia, por correspondência. Em 1904, chegou ao Brasil a filial norte-americana Escolas Internacionais, que capacitava alunos com conhecimentos comerciais.

DE 1920 À DÉCADA DE 1940 PELAS ONDAS DO RÁDIO

Em 1923, foi posta em prática a primeira iniciativa de educação pelo rádio, com a criação da Rádio Sociedade, projeto de um grupo de intelectuais da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para divulgar a ciência no país, além de música (clássica e popular), cursos de francês, inglês, história do Brasil, literatura portuguesa e francesa, e palestras de divulgações científicas. Em 1936, a Rádio Sociedade foi doada à administração pública e passou a se chamar Rádio Ministério da Educação. Na década de 1940, o Serviço Social do Comércio (Sesc) também criou sua emissora para promover a educação a distância.

ANOS 1960 PELA TELEVISÃO

O Código Brasileiro de Telecomunicações estimulou a produção de programas que levassem educação para ouvintes e telespectadores, promovendo as televisões educativas. E, em 1969, o Ministério das Comunicações baixou uma portaria determinando um tempo obrigatório e gratuito para programação educacional em emissoras comerciais. Nasce aí o termo “teleducação”.

ANOS 1970 EDUCAÇÃO FORMAL

Até os anos 1970, a educação a distância no Brasil estava praticamente restrita a cursos profissionalizantes. A partir dessa época, a modalidade começou a ganhar relevância no estudo formal, sobretudo para suprir a necessidade de pessoas que, por motivos diversos, não haviam frequentado ou tinham abandonado o ensino regular. Em 1971, foi fundada a Associação Brasileira de Teleducação (ABT) para discutir questões relativas às tecnologias aplicadas à educação. Em 1978, foi criada a iniciativa que se tornou a mais popular de teleducação, o Telecurso 2 grau, criado pela TV Cultura e pela Fundação Roberto Marinho. Até então, cursos de graduação ou de pós-graduação não eram contemplados.

1988 NA CONSTITUIÇÃO E PELA INTERNET

A Constituição de 1988 abriu caminho para reconhecimento da EAD. O artigo 203 determinava a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, e o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas. Em 1992, a Universidade Federal de Mato Grosso foi pioneira ao oferecer um curso de licenciatura a distância para professores. Também em meados da década de 1990, as instituições de ensino passaram a utilizar a internet para disponibilizar seus materiais.

1996 TODOS OS NÍVEIS

Em 1996, a partir de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a EAD passou a ser possível em todos os níveis. Um avanço que possibilitou o funcionamento dos cursos de graduação e de pós-graduação, assim como sua utilização na educação básica (do ensino fundamental ao médio) tanto na modalidade regular, como na de jovens adultos e na educação especial. A lei teve a grande virtude de admitir, de maneira indireta, os cursos livres a distância, neles inseridos os ministrados pelas chamadas “universidades corporativas” e outros grupos educativos.

DE 2005 A 2017 – CRESCIMENTO

No final de 2005, o país contava com 128 instituições credenciadas para oferecer cursos superiores e/ou pós-graduação a distância, segundo o Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação (Ipae). Também nesse ano foi publicado o Decreto n0 5.622, que regulamenta a EAD no Brasil. De acordo com o censo EAD.BR, feito pela Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), o ano de 2017 registrou um número recorde de matriculados: 7.773.828. Os cursos que têm ampliado seu número de alunos são os de nível superior e de pós-graduação lato sensu, segundo o relatório.

Fonte: Livro Abed – Associação Brasileira de Educação a Distância – 20 anos (2015) e site www.abed.org.br

 

5 Dicas para fazer um curso a distância

1 Escolha com consciência

Pense se o curso a distância (graduação, pós-graduação ou livre) é motivador e faz sentido para sua vida pessoal e/ou profissional;

2 Encontre um lugar

Um espaço onde seja possível estudar sem barulho ou muitos estímulos, para conseguir se concentrar nas atividades;

3 Evite distrações

Procure se concentrar nas aulas, dê um tempo nas redes sociais, não receba ou envie mensagens enquanto estiver estudando;

4 Cultive a organização

Selecione e organize o material de estudo para não perder tempo;

5 Crie uma rotina

Acesse diariamente o curso e dedique-se ao estudo durante um tempo determinado, de preferência no mesmo horário; assim fica mais fácil criar um hábito.

 

Aprenda de casa!

VIDEOAULAS GRATUITAS E ACESSÍVEIS LEVAM CONHECIMENTO SOBRE MÚSICA, ARTES VISUAIS, LONGEVIDADE E OUTROS ASSUNTOS AO PÚBLICO

A presença digital do Sesc São Paulo vem sendo construída desde 1996, pautada pela distribuição diária de informações sobre seus programas, projetos e atividades e marcada pela experimentação. Tendo em vista este tempo de distanciamento social devido à pandemia causada pelo novo coronavírus, o Sesc Digital integra o conjunto de iniciativas desenvolvidas pelo Sesc São Paulo para a continuidade de sua missão educativa e para a renovação do relacionamento com seus diversos públicos.

Integra essa ação uma plataforma de educação a distância que, desde seu lançamento, no dia 10 de abril, já recebeu mais de 54 mil visitantes. “Este projeto visa transpor as ações da instituição ao ambiente e à linguagem digitais, expandindo o alcance das suas práticas de ação e difusão sociocultural de forma substancial e diferenciada, fortalecendo seu compromisso com um processo educativo continuado e inclusivo”, explica Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

Confira os cursos disponíveis na plataforma EAD do Sesc Digital:

O PINTOR LETRISTA – LIÇÕES INTRODUTÓRIAS EM PINTURA DE LETRA  |  Com Filipe Grimaldi

Com nada mais que pincel, esmalte à base de água e cartolinas, o designer e letrista Filipe Grimaldi apresenta os ensinamentos básicos do seu ofício: a pintura de letras. As técnicas e métodos deste curso permitem que qualquer pessoa consiga replicar, em casa, a elaboração de letreiros populares, seja para decorar o ambiente doméstico, para pintar placas e fachadas e até mesmo para oferecer seu serviço como pintor letrista. (6 aulas)

VIOLA CAIPIRA  |  Com Ivan Vilela

A partir de um método de fácil assimilação, o violeiro e professor Ivan Vilela apresenta técnicas e macetes para tocar viola, passando pelas cinco escalas duetadas e pelos movimentos específicos da mão direita, utilizando elementos e ritmos da música caipira para estimular a prática associada à autonomia do aluno, com improvisos e incentivo à composição. (6 aulas)

NOÇÕES BÁSICAS DE DESENHO E NARRATIVA DE QUADRINHOS  |  Com Rafael Coutinho

Neste curso, o desenhista e quadrinista Rafael Coutinho apresenta etapas da construção de uma página de história em quadrinhos. Desde a leitura do roteiro, planejamento e concepção de thumbnails, desenho de esboços e arte-final dos desenhos até opções de finalização e colorização com diferentes materiais e técnicas manuais e digitais. Durante as aulas, o aluno poderá acompanhar as lições produzindo suas próprias páginas. (6 aulas)

COMO ESTAMOS ENVELHECENDO?  |  Com Zezé Motta

Com apresentação da atriz Zezé Motta, o curso convida à reflexão sobre a cultura da longevidade e o envelhecimento ativo, desmistificando estereótipos ligados à velhice e apontando-a como uma fase de novas experiências, aprendizados e oportunidades. O curso é desenvolvido a partir de uma abordagem baseada no programa Trabalho Social com Idosos do Sesc São Paulo. (6 aulas)

PRÓXIMOS CURSOS

CICLISMO E LAZER  |  Com Willian Cruz, cicloativista e editor do portal Vá de Bike

CINEMA BRASILEIRO: DO CLÁSSICO AO MODERNO  |  Com Ismail Xavier, pesquisador, crítico e professor de cinema

Em breve, estes cursos estarão disponíveis na página sescsp.org.br/ead.. Para saber mais, siga o Sesc São Paulo nas redes sociais.

 

MAIS OPÇÕES

COURSERA

Organização de tecnologia educacional que realiza parcerias com universidades e instituições de ensino em todo o mundo para oferecer cursos online gratuitos e acessíveis por meio de sua plataforma de ensino. Criada em 2012 pelas universidades norte-americanas de Standford, Princeton, Michigan e Pennsylvania, a plataforma é parceira de 190 centros de ensino superior e tem 40 milhões de usuários. Os cursos, para qualquer pessoa, possuem três componentes principais: aulas em vídeo, avaliações e interações entre os estudantes, monitores e professores. (Acesse: pt.coursera.org)

UNIVESP

Primeira universidade pública gratuita de educação a distância (EAD) de São Paulo, a Univesp oferece cursos realizados em ambiente virtual. São videoaulas, material didático, bibliografia das disciplinas e tira-dúvidas com tutores. (Acesse: www.youtube.com/user/univesptv)

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

A Universidade de São Paulo mantém um canal no YouTube com conteúdo diversificado e totalmente gratuito. São mais de 4 mil vídeos para quem deseja acompanhar a produção científica, acadêmica e cultural da instituição. Há mais de 30 disciplinas de graduação e de pós-graduação em praticamente todas as áreas do conhecimento. A USP também mantém o portal e-aulas, em que disponibiliza o conteúdo de mais de 180 disciplinas para o público em geral, além de ter conteúdos disponíveis nas plataformas Coursera, Veduca e Univesp. (Acesse: www.youtube.com/user/usponline e eaulas.usp.br/)

MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO (MASP)

Em junho, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) lança cinco cursos online inéditos. Entre esses, Uma história da arte no Brasil – de Tarsila a Bárbara, realizado pela professora Luiza Interlenghi, doutora em história e crítica da arte pela Escola de Belas Artes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA – UFRJ). O curso apresentará uma introdução à história da arte brasileira a partir de obras da coleção do Masp. Em cinco aulas, serão abordados temas como modernismo, concretismo, neoconcretismo, os impactos da abstração na arte brasileira e as relações entre arte e sociedade nos anos 1990 e 2000. (Acesse: masp.org.br/)

CASA DAS ROSAS

Ativo em suas redes sociais, o espaço oferece uma oficina online com videoaulas que abrangem temas como mercado editorial, oficina de crônica e poesia e até aula de como ler um poema. Os conteúdos são feitos para o Centro de Apoio ao Escritor (CAE) da Casa das Rosas, cuja proposta é contribuir para a formação de autores e orientá-los nos possíveis caminhos da carreira literária. (Acesse: www.casadasrosas.org.br)

OFICINA CULTURAL OSWALD DE ANDRADE

Nas terças e quintas-feiras de junho, das 18h às 19h30, o Cineclube Online: Lives sobre Cinema Musical será mediado pelo pesquisador em teatro musical e dramaturgo Gerson Steves (foto). O objetivo é conversar sobre a linguagem e o roteiro do cinema musical. As produções desenvolvidas entre a década de 1950 e os primeiros anos do século 21 serão analisadas. (Acesse: poiesis.org.br/maiscultura)

 

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