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Novas telas

Pixabay / Editoria de Arte
Pixabay / Editoria de Arte

No lugar de mais prestígio da residência dos brasileiros estava ela: a televisão. Desde a chegada dos primeiros modelos na década de 1950, ela se tornou um veículo de informações e de entretenimento da sociedade. As poucas famílias que podiam comprar aquele artigo de luxo — muitas vezes decorado por vasos de flores, no centro da sala — convidavam vizinhos e parentes a se reunir à sua volta. Como um grande evento social, todos assistiam às primeiras programações, em preto e branco. Um cenário nem tão longínquo, uma vez que faz apenas dez anos que os televisores passaram a compartilhar a popularidade com tablets e celulares. Hoje, num contexto de restrição ao ambiente doméstico para contenção do novo coronavírus, tanto a TV quanto outras telas aumentam o alcance a conteúdos produzidos no Brasil e no mundo, modificando hábitos e ampliando escolhas.

Diretora, produtora e roteirista, Laís Bodanzky passou por diferentes estágios da história da televisão até chegar ao atual contexto de exibição de conteúdo por streaming (forma de distribuição digital de dados pela internet) on demand (por demanda), pelas mais diversas plataformas e por assinatura. “Observo mudanças na forma como consumimos conteúdo audiovisual. Por exemplo, na minha infância, eu assistia a um programa da TV ou a um filme uma única vez. A reprise não era tão comum. Assistir à mesma obra 500 vezes como as crianças fazem hoje, isso não existia”, analisa.

Além disso, Bodanzky acredita que o olhar do público se tornou mais apurado. “Entendemos mais de linguagem audiovisual. Mesmo aquele que diz que não é um especialista. Isso porque ele consome no celular, no computador, na TV, no cinema, nas mil plataformas que existem. Nos tornamos especialistas. Somos uma sociedade audiovisual”, complementa.

Diversidade de conteúdo

A possibilidade de navegar por diversas plataformas de conteúdo audiovisual também levou à difusão de um número maior de produções de todo o mundo. Séries espanholas e israelenses, longas-metragens coreanos e finlandeses conquistaram uma audiência brasileira. O resultado? Passamos a ter mais contato com outras realidades e formas de contar uma história. Diretor e roteirista, Esmir Filho, que trabalha no segmento do audiovisual desde 2004, realizando filmes e séries, também observa uma maior diversidade de temas nesta cena.

“No que diz respeito a séries, existe um lugar interessante: estão se abrindo mais possibilidades de conteúdo. Antigamente você não falava tão abertamente sobre questões como sexualidade, política e preconceito em uma rede com tanto acesso às pessoas. Então, em termos de conteúdo, vejo uma diversidade”, constata.

Uma das consequências, segundo o cineasta, é que começamos a compreender, discutir ou questionar uma cultura específica de determinada região – seja porque há um apreço pela língua ou pela forma como aqueles personagens se comportam diante de uma situação. No entanto, a série, dentro desse contexto, ainda responde a uma linguagem universal de séries que está sendo estudada, feita e produzida. “Eu gosto muito e não demonizo a tecnologia e tudo que possa fazer a gente se encontrar, inclusive agora a gente está vendo o quanto isso é importante em tempos de pandemia”, pondera.

Você escolhe?

Com tantas ofertas de conteúdo, será que aprendemos a escolher? A partir de 1990, a TV por assinatura ampliou o repertório de canais e segmentos de interesse. Desse momento em diante, o público ganhou a possibilidade de zapear até encontrar um canal entre tantos oferecidos por um variado cardápio. O formato streaming on demand ampliou esse leque e ainda trouxe a possibilidade de assistirmos a novelas, séries, animações e filmes em qualquer lugar e hora, num equipamento leve e portátil como o celular.

No entanto, segundo o professor emérito da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Ismail Xavier, cada geração terá a preferência por uma tela e por determinado tipo de conteúdo. “Antes das TVs por assinatura, você tinha uma escolha restrita, e a maioria dos telespectadores tendiam a ver um certo tipo de programa. Agora, com esse aumento brutal de opções, potencialmente estamos mais livres”, analisa. “Só que grande parte das pessoas vai procurar repetir aquilo que já está assentado no seu gosto. Você não é encorajado a pesquisar.” 

Para que esse novo espectador aproveite, de fato, esse ambiente diverso de conteúdo, é necessário que ele aprenda a escolher. “A ampliação de repertório vai depender da educação básica, do ensino médio. Da formação em universidades, em cineclubes, instituições culturais. É na educação que vejo a força para a criação de critérios de escolha e uma postura crítica diante da atual difusão audiovisual”, completa Xavier.

 

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COMO A DIFUSÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL VEM MUDANDO AO LONGO DO TEMPO

1950 - O primeiro televisor

No Brasil, a primeira transmissão televisiva foi realizada em São Paulo, dia 18 setembro de 1950, pela primeira emissora brasileira de televisão: a TV Tupi, do jornalista Assis Chateaubriand. Os primeiros televisores foram importados e espalhados em diferentes espaços da cidade. Ter uma TV era como ter um artigo de luxo em casa. O sinal para transmissão dos programas era amplificado por torres, que se tornaram pontos turísticos nas capitais brasileiras. A exemplo da Torre de TV, projeto de Lúcio Costa, em Brasília. Outra novidade criada nessa década foi o controle remoto, que até meados da década de 1970 tinha pouquíssimos botões.

1960 - O videotape

Com o advento do videotape, as emissoras passaram a gravar em fitas magnéticas shows de música e partidas de futebol a serem transmitidos para emissoras afiliadas de outros estados. Essa foi uma revolução, por exemplo, para a música brasileira. No final dos anos 1960, programas como O Fino da Bossa (1965-1967), apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues, na TV Record, eram realizados em São Paulo, gravados em videotape e, então, enviados para transmissão em emissoras afiliadas.

1970 - Televisão em cores  

A Copa do Mundo no México foi o primeiro evento esportivo assistido simultaneamente pelo Brasil e outros países. Também em meados da década de 1970, as emissoras passaram a transmitir programas em cores. A primeira novela colorida brasileira foi O Bem Amado, de Dias Gomes, com o ator Paulo Gracindo (1911-1995) no papel do político Odorico Paraguaçu, um homem que, apesar do caráter duvidoso, era querido pela população da cidade fictícia de Sucupira.

1980 - O videocassete

No começo da década de 1980, foram fabricados os primeiros aparelhos de videocassete no país. A novidade criou uma geração que passou a assistir a conteúdos que eram exibidos previamente nas salas de cinema, diretamente de casa. Alugar fitas em locadoras, assistir e “rebobinar” antes de devolver se tornaram um hábito.

1990 - TV a cabo

Outra tendência chega ao Brasil: a TV a cabo, ou por assinatura. Com essa novidade que passava a oferecer mais canais e uma variedade de programação, diferentemente das atrações oferecidas pelos canais tradicionais da TV aberta, os espectadores ganharam o poder de escolha quanto ao tipo de canal e programa que mais lhes interessam assistir. Outra mudança, estabelecida pelo advento da TV a cabo foi a difusão de televisores com controles remotos que apresentavam cada vez mais botões.

2005 - YouTube

Com o advento da internet banda larga, e maior velocidade da transmissão de dados, o YouTube, lançado em 2005, começou a enterrar o velho hábito de ter hora marcada para consumir conteúdo audiovisual. Nele, era possível o internauta acessar quando quisesse a diversos tipos de vídeos. Começava aí o conceito de on demand (em português, “por demanda”).

2006 - SescTV

O SescTV se consolida como um canal cultural com programação linear transmitida por TVs a cabo, a exemplo da OiTV (canal 128). A partir de 2013, também passa a ter transmissão digital no portal do Sesc São Paulo e estreia sua plataforma de streaming on demand, reunindo um acervo de produções audiovisuais brasileiras e estrangeiras: longas e curtas-metragens, documentários, séries, entrevistas e debates. Conteúdos de acesso gratuito, focados na cultura e que prezam a diversidade.

2011 - TV Digital e Netflix

Desembarca no país a TV Digital, que melhorou a qualidade do sinal e liberou mais banda para os celulares – somente dois anos depois entramos na era 4G. O principal benefício que a internet mais rápida trouxe foi um ecossistema propício ao streaming: música, games, vídeos. Foi também nesse ano que a plataforma de streaming Netflix chegou ao Brasil.

2019 - Era do streaming

Em junho de 2019, a Netflix contabilizou 27 milhões de usuários no Brasil, isto é, pessoas que acessaram a plataforma ao menos uma vez por mês. No entanto, este número é ainda maior, uma vez que muitas pessoas compartilham assinaturas. Além da Netflix, outras plataformas, como HBO, Amazon e Disney proporcionam ao espectador novos e exclusivos conteúdos no formato on demand. Com essa nova concorrência, a TV por assinatura vem perdendo espaço, deixando dúvidas acerca do futuro tanto da TV a cabo quanto da TV aberta.

 

Canal cultural

NO FORMATO LINEAR E ON DEMAND, O SESCTV PROMOVE A FRUIÇÃO DE DIVERSAS PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS E FOMENTA REFLEXÕES SOBRE A SOCIEDADE

Mesmo que neste momento estejamos restritos ao nosso ambiente doméstico para contenção do novo coronavírus, isso não significa uma distância da fruição cultural. Por isso, no ambiente digital, o Sesc faz um convite: com ou sem pipoca, é possível assistir da televisão, do tablet ou do smartphone a uma programação de filmes, documentários, espetáculos de música e de dança, entrevistas e debates dos mais variados temas pelo SescTV.

“Sobretudo nos tempos atuais de isolamento físico, os conteúdos oferecidos a todos pelo SescTV possuem o potencial de estimular o diálogo reflexivo do público, por meio de uma programação variada que alia apreciação de espetáculos e promoção de debates. De certa forma, o SescTV leva um pouco da diversidade da programação do Sesc para tablets, celulares, computadores pessoais ou aparelhos de televisão”, contextualiza Gilberto Paschoal, gerente do Sesc Digital.

Canal criado e mantido pelo Sesc desde 2006, o SescTV está disponível em operadoras de TV por assinatura de todo o Brasil, a exemplo da OiTV (canal 128). Também é possível acessar a programação pela internet, com uma grade linear de 24 horas, ou assistir pela plataforma de streaming on demand. Este último formato foi lançado em 2017 e hoje soma um acervo de aproximadamente 1.000 produções audiovisuais culturais e gratuitas, que prezam a diversidade.

“A partir da disponibilização de seu conteúdo on demand, de forma totalmente gratuita, o SescTV permite que mais interessados tenham acesso ao acervo do canal. É um excelente meio de democratização de conteúdos que abordam temas ligados à cultura, linguagens artísticas, arquitetura e urbanismo, educação, direitos humanos, entre outros aspectos fundamentais para a reflexão e para o conhecimento”, complementa Paschoal.

Confira alguns destaques na grade linear de programação do canal SescTV ou assista aos conteúdos pela plataforma streaming on demand: sesctv.org.br.

Cena Inquieta

Série documental

Nesta série dedicada ao teatro, mostra-se o processo criativo de grupos teatrais e de artistas da cena nacional que realizam trabalhos relevantes de experimentação de linguagem, ligados às questões de gênero, ao teatro negro e ao teatro de viés político e social. No primeiro episódio, a escritora e dramaturga Cidinha Silva contextualiza os conceitos e a trajetórias do Grupo Clariô de Teatro e Capulanas Cia. de Arte Negra, bem como suas contribuições e como está se desenvolvendo o teatro negro. (A série estará disponível on demand a partir de 20/5).

Capulanas Cia de Arte Negra / Foto: Camila Abad

 

Volta à Terra

Documentário. Portugal, 2015

Nas montanhas do norte de Portugal, um pequeno vilarejo chamado UZ, com 49 moradores, sobrevive devido à imigração. O documentário, dirigido por João Pedro Plácido, acompanha esses habitantes durante as quatro estações do ano. Dentre eles, o jovem pastor Daniel, que ao entardecer sonha com os amores da vida. (A série estará disponível on demand a partir de 8/5).

Divulgação

 

Envelhecer

Série documental

Dirigida por Claudia Erthal e Paulo Markun, esta série de quatro episódios traz depoimentos que refletem sobre diversos âmbitos do processo de envelhecimento no século 21. O primeiro episódio aborda questões relacionadas aos apelos midiáticos referentes à velhice e aos problemas econômicos e desafios do enfrentamento dessa realidade. (A série estará disponível on demand a partir de 29/4).

Divulgação

 

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