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Caê Rolfsen chega ao Sesc Araraquara com "A Nave de Odé"
Depois do primeiro disco “Estação Sé” (2012), que lhe rendeu dois prêmios nacionais, figurando como revelação do ano na música, o multi-instrumentista araraquarense Caê Rolfsen lança agora,“em casa”, no palco do Sesc Araraquara, seu segundo álbum “A Nave de Odé”.
A EOnline bateu um papo com o cantor que contou um pouco sobre sua história, sua carreira e seu novo trabalho.
EOnline: Além de cantor e multi-instrumentista você também é compositor, certo? O que despertou o seuinteresse pelo universo da música?
Caê Rolfsen: Minha mãe conta que o primeiro brinquedo que eu pedi pra ela, ainda pequeno, foi um repique. Depois, lá pelos 12 anos de idade, veio o gosto pelo violão e com ele compus as minhas primeiras canções, com 13 anos. Logo depois veio a guitarra e as bandas de garagem: rock, trash metal e reggae; depois as rodas de samba, a música brasileira e a vontade de todo dia compor uma nova canção e daí eu não parei mais.
EOnline: Araraquara é sua cidade natal, mas você vive em São Paulo há 10 anos. Você acompanha a cena musical da cidade? O que acha da cultura local e que dicas daria para os músicos e artistas daqui?
Caê Rolfsen: Vim para São Paulo em 2001 mas, mesmo morando fora durante esse tempo, sempre acompanhei e também fui colaborador em algumas produções da cena musical de Araraquara. A cultura local sempre me inspirou muito, assim como a paisagem; o roxo da terra seca e o verde dos canaviais. Desde a minha adolescência vejo uma cena musical intensa e diversa na cidade, de músicos, compositores e intérpretes, que têm aparecido cada vez mais no cenário nacional. Novos circuitos de festivais e casas de show vêm fortalecendo a cena independente e colocando a nossa região como um importante eixo da produção cultural contemporânea do estado. Aprendi no meu caminho de músico independente que nunca podemos deixar de fazer aquilo que acreditamos por não termos as condições ideais pra realizar. A maioria dos nossos resultados criativos surgem como alternativas às adversidades que encontramos no caminho. Então, temos que criar, produzir, tocar nos palcos, ocupar as casas de show e as praças, colaborando com outros artistas e produtores para fortalecermos não só a cena musical mas também o mercado local e o todo negócio que a música gera.
EOnline: Você já acompanhou Elza Soares e Paulinho da Viola. Como foi subir ao palco com nomes como estes?
Caê Rolfsen: Uma grande satisfação; tipo sonho, mesmo. Eles são ídolos. São faróis, não apenas para os meus olhos, mas para toda a música que se produziu depois deles.
EOnline: O primeiro álbum “Estação Sé” lhe rendeu 2 prêmios nacionais. Você esperava por isso? Qual é a sensação de ser a revelação do ano?
Caê Rolfsen: É sempre gratificante quando nosso trabalho sensibiliza as pessoas e recebemos este reconhecimento positivo de volta. Nos dá energia pra seguirmos produzindo cada vez mais.
EOnline: Vemos em seu novo disco “A Nave de Odé” elementos da música brasileira, jamaicana e uma relação bastante próxima com a cultura africana e os orixás. Qual a sua relação com as religiões afro-brasileiras? Serena Assumpção deixou registrado em seu último disco as canções dos orixás cantadas em terreiros de candomblé. Você acha que no momento atual da música está havendo um resgate dessa cultura? Qual a importância disso?
Caê Rolfsen: Minha identificação com as religiões afro-brasileiras se deu através da música. Desde menino a maioria dos meus ídolos eram todos pretos: Michael Jackson, Bob Marley, Dona Ivone Lara. Apesar de toda a violência material e psicológica causada pela colonização européia, a África se manteve como vanguarda no mundo quando o assunto é música, dança, beleza e arte em geral. A África é o berço do mundo e do ser humano e não apenas do negro. Por isso, o legado da África para o Brasil é imenso e os terreiros tiveram uma importância fundamental de manutenção desse legado musical e cultural através da oralidade e do sincretismo religioso.
EOnline: O que deseja transmitir ao público com “A Nave de Odé"?
Caê Rolfsen: Meus discos querem transmitir a minha música, meu amor, minha pequena voz no mundo, meus ideais e criar um mundo imaginário e fantástico que nos faça refletir sobre nós mesmos e a nossa humanidade.
EOnline: Músicos como Juçara Marçal e Thiago França fazem parte deste novo trabalho. Como se deu esta parceria?
Caê Rolfsen: Conheci o Thiago em 2009. A gente se encontrava em rodas de samba no Ó do Borogodó. Logo depois, em 2010, ele produziu um disco da Dona Inah e me convidou pra escrever um arranjo. Em 2012 gravamos “É só o que falta”, canção do meu primeiro disco. E a Juçara acho que eu conheci na casa do Ney Mesquita, um grande amigo e cantor já falecido, há uns 10 anos e a partir daí virei fã dela.
EOnline: Como é ser arranjador, produtor, vocalista e instrumentista, tudo ao mesmo tempo, e alcançar um resultado tão “afinado” como este trabalho?
Caê Rolfsen: Esse foi um processo inédito para mim. Ainda porque, pela primeira vez, fui também um dos engenheiros de som do disco, gravando-o todo no meu estúdio. Tenho prazer em realizar todas essas funções: amo compor, arranjar, produzir, tocar, cantar, gravar. São pensamentos que se complementam e ambos me realizam, musicalmente falando. Mas confesso que exercer essas funções simultaneamente numa mesma produção traz momentos excessivos de trabalho. Agora, a beleza da música está na coletividade, então foi fundamental ter a colaboração e parceria dos músicos que tocaram no disco comigo, compartilhando a música e a criatividade.
EOnline: A Nave de Odé foi contemplado pelo PROAC. Nas atuais circunstâncias do cenário brasileiro, qual sua opinião sobre o melhor caminho a ser seguido pelos jovens artistas?
Caê Rolfsen: Desde a crise da indústria fonográfica nos anos 2000 estamos vivendo um cenário inédito na indústria da música, e isso muda a cada ano. Neste momento ainda instável de reinvenção e substituição dos antigos modelos de produção e comercialização de músicas e discos, os editais de apoio à produção musical e as leis de incentivo à cultura, e agora mais recentemente também as plataformas de croundfounding, têm sido importantes ferramentas para a produção de discos no cenário brasileiro e consequentemente para todo o negócio que a música gera. Caso contrário, a nossa produção musical se reduziria a alguns poucos lançamento de discos de artistas comerciais de gravadoraspor ano.
EOnline: O que você tem escutado ultimamente? Quais suas principais referências?
Caê Rolfsen: Esses dias tenho ouvido bastante o disco do Bad, Bad, not good com o Ghostface Killah, também Rei Vadi”, disco de Romulo Fróes em homenagem a Nelson Cavaquinho e o novo do Negro Leo, Água Batizada. As minhas referências são muitas; escuto de tudo. Dona Ivone Lara, Bob Marley e Itamar Assumpção são algumas delas.
EOnline: E agora conta pra gente, qual sua expectativa em relação ao show no Sesc Araraquara no dia 20 de agosto? E os fãs, o que podem esperar deste show?
Caê Rolfsen: É uma felicidade ver na plateia meus pais e amigos de longa data. Isso me emociona. Além disso, o Sesc Araraquara é um lugar especial pra mim por ter sido um dos centros culturais responsáveis pela minha formação musical como ouvinte. Assisti muitos shows que foram marcantespra mim. Pro show do dia 20, vamos tocar o repertório do disco novo na íntegra, alguma coisa do primeiro disco e teremos uma participação especial de Liniker cantando com a gente.