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Desce pra ver o Jozz

Foto: Fabíola Larissa
Foto: Fabíola Larissa

Para quem passa pela rua, o painel de ilustrações na fachada do Sesc São Caetano apresenta artistas convidados e uma mostra de seus trabalhos. Olhando de perto, detalhes são revelados e provocam novas percepções, uma aproximação a quem Desce pra ver! Nesta edição, a proposta traz ilustrações do artista Jorge Otávio Zugliani. Jozz, como é conhecido, nasceu em Jaú, em 1983 e cursou desenho e ilustração na Quanta Academia de Artes em São Paulo, graduou-se em Design Gráfico pela Universidade Mackenzie e concluiu a pós-graduação em design editorial pelo Senac. Em 2008, ganhou o Troféu HQMIX na categoria Desenhista Revelação e iniciou seus trabalhos com vários estúdios, editoras e produtoras de cinema de animação.
A Eonline bateu um papo com artista, pra você conhecer um pouco mais dele e de seu trabalho.

EOnline: É a primeira vez que recebe um convite do Sesc? Quais os outros trabalhos que já produziu?
Jozz: Não é a primeira vez, ao contrário, trabalho com o Sesc há tempos. Já produzi ilustrações para cenografia de exposição no Sesc Ipiranga; fiz uma História em Quadrinho gigante nas janelas da Internet Livre do Sesc Vila Mariana; um trabalho no Sesc Araraquara que envolvia desenhos de esboço e observação em três cidades da região, transformado em exposição e cartão postal; marcadores de livros pra sala de leitura do Sesc Santo Amaro; fora as oficinas de criatividade no Sesc Pompeia.

EOnline: Já te disseram que você tem um traço bem marcante? Desde quando você desenha? Como começou a sua história com as ilustrações?
Jozz: Já disseram sim! Fico feliz! Mesmo que eu faça regularmente variações de técnicas e suportes pro trabalho não ficar repetitivo, sempre dizem ver a linha que liga um trabalho ao outro. Eu sempre desenhei, sempre. Desde muito novo. E quando chegou a hora de escolher o vestibular, optei por Design Gráfico. Durante todo o curso, achei que deveria mesmo ter feito artes plásticas. Mas depois entendi que, a minha ligação com a arte existiria e cresceria independentemente do curso, bastava eu me dedicar a isso. E ainda por cima, a formação em design me deu as ferramentas para ser um ilustrador, que é bem diferente de ser apenas desenhista.  Ainda na faculdade cursei, em paralelo, a Quanta Academia de Artes, que abriu bem mais meus horizontes e quando fui me formar em Design, produzi um livro de quadrinhos, todo autoral, que rapidamente saiu da minha mesa e foi publicado e bem recebido. Quando menos percebi estava com bastante trabalho dentro da área que sempre sonhei.

EOnline: Em 2008 você recebeu o Troféu HQ Mix de Desenhista Revelação. Foi um reconhecimento do seu trabalho?
Jozz: Sim! Vejo como um reconhecimento por aquele início, o primeiro livro e os fanzines que eu já havia lançado nos anos anteriores. Me motivou muito a continuar, pois não é um segmento de trabalho fácil!

EOnline: Atualmente você tem seu Atelier Garabato em Jaú. Além de ministrar cursos como faz para conciliar com outros trabalhos?
Jozz: Gosto de pensar no meu trabalho com desenho e arte como uma mandala: um dia estou ilustrando para editora, no outro fazendo quadrinhos autoral ou encomenda, no outro estou dando aula prática no atelier, no outro estou em cima de um andaime pintando um mural, e em outra ainda, estou lecionando história da arte para o colegial. Algumas pessoas falam para eu fazer menos, reduzir o leque, mas, acredite, recuso bastante coisa! O problema é que quando aceito trabalho ou me dedico a um, não penso por seguimento de área, penso no prazer de fazer e que legado estou gerando, seja uma ilustra pra um livro, uma imagem gigante na parede ou um conteúdo passado a um aluno. Assim, acabo fazendo muitas coisas dentro da área desenho. E se fosse diferente, não seria eu. Acho. Então, como eu faço? Não sei, mas tenho que fazer... rs.

EOnline: Sabemos que já realizou vários trabalhos, entre eles criações para o cinema de animação. Como entrar nesse universo de cinema e curtas com ‘O Garoto Cósmico’ e o ‘O Menino e o Mundo’? O que você desenvolveu e como foi trabalhar com Alê Abreu?
Jozz: Costumo dizer que tive três grandes escolas: A faculdade de design (personificada na figura do prof. Luiz Gê, um dos maiores autores de quadrinhos do Brasil), a Quanta Academia de Arte com seu grande elenco de mestres, e o estúdio do Alê Abreu. Comecei a trabalhar com a equipe do Alê quando eu ainda estava extremamente cru no desenho e na vida, mesmo já cursando Design. Digo isso, pois eu não sabia nada de animação quando entrei e ele buscava os colaboradores pelo traço e justamente pela ausência de vícios nesse ramo. Conheci ali artistas com os quais mantenho grande amizade e seguem me inspirando. Mas o grande ponto auto de trabalhar com o Alê, mais do que as verdadeiras aulas de arte e animação, era a hora do café: as conversas! O Alê sempre foi um cara muito vivo, ligado no que está acontecendo, politizado e crítico com propriedade. Ao mesmo tempo que puxões de orelha me faziam treinar duro, foi a minha identificação com a sua preocupação social e questão latino americana que me fizeram acordar pro meu trabalho, me informar mais, afinar meu discurso.  Acho que se não fosse a minha passagem pelo estúdio do Alê eu poderia vir a ser um profissional eficiente um dia. Mas nunca chegaria ser um humano que busca/almeja produzir artes com lucidez. Vejo o Alê dessa forma. Trabalhei com ele no primeiro longa, Garoto Cósmico, como assistente de intervalação de animação. Depois, fui assistente de direção no curta metragem. Passo, e também ajudei na produção de um animatic chamado Canto Latino. Nesse período, e desse projeto, vi sair traços dele, nos cadernos, que dariam origem ao filme seguinte, O Menino e o Mundo. Nesse eu também fui assistente, montava personagens e cenários com elementos previamente desenhados por ele, animei algumas coisas como os soldados, mas na maioria eu deixava as coisas prontas para ele e outra equipe animarem em After Effets, por exemplo.

EOnline: Dentre os trabalhos que já desenvolveu, qual sua obra preferida ou mais marcante?
Jozz: Gosto muito do meu primeiro livro, O Circo de Lucca, e também do meu livro imagem América Dibujada, uma interpretação gráfica de As Veias Abertas da América Latina, do Eduardo Galeano. Esta obra é artesanal e feita sob encomenda.

EOnline: Você tem uma pesquisa sobre o contexto sociocultural da América do Sul. Também é o tema da sua ilustração na fachada do Sesc. Como despertou esse interesse? Pode nos contar um pouco?
Jozz: Não sei ao certo onde começou, acredito que foi uma mistura de interesses paralelos que um dia se encontraram. Sempre gostei de desenhar índios ou personagens nativos de regiões inóspita. A cultura pré-colombiana em geral sempre foi prato cheio pra isso. Ao mesmo tempo q meu gosto em conhecer bandas novas me levou a conhecer músicos que cantam espanhol... bem no período em que o Alê me apresentou Vitor Jara e Violeta Parra. Em paralelo, eu havia ido a Argentina em 2007, para um evento de design e comprei muitos quadrinhos do continente. Comecei a fazer curso de espanhol só pra ler e ouvir e absorver tudo isso...rs. E notei: todo o continente já se tocou. Os povos de praticamente todos os países já despertaram. Eles já sabem o que deve ser feito para este continente ser verdadeiramente independente da neo colonização que dura até hoje. Só não conseguem se levantar por que falta o único país que não despertou, o Brasil. Senti que eu poderia produzir coisas que fizessem as pessoas pensarem nisso. A sensação é de que nós aqui estamos olhando pro lado errado. Estávamos pertos. Estávamos chegando. Demoramos. Agora, toda a América Latina está caindo novamente na obscuridade. País a país. O trabalho lúcido se faz ainda mais urgente agora.

EOnline: Como foi produzir um trabalho para o projeto Desce pra ver?
Jozz: Foi uma enorme honra pra mim! Foi o maior mural que já fiz! Estou muito grato pela confiança e contente de ver que o Sesc consegue manter em todas as suas unidades profissionais super atualizados. Esse projeto do Sesc São Caetano tem tudo pra crescer, se mesclar a outras atividades da unidade e trazer conteúdos e referencias de vários artistas, que aquele publico específico dificilmente teria contato. Gostei da ideia de focar em ilustradores, gerando uma alternativa tão rica quanto ao repertório do graffiti.

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