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Soul Brasileiro

Autor de disco emblemático lançado em 1975, Di Melo fala sobre parcerias, composições inéditas e de como a sensibilidade dá suporte à sua música


“Me pergunte tudo.” É assim que começa a entrevista com Di Melo, que em 1975 lançou o disco homônimo – com participações especiais de Hermeto Pascoal e Heraldo do Monte – e assim entrou para a história da música brasileira como um dos representantes da música soul, do samba-rock brasileiro.
Pernambucano, veio para São Paulo pela primeira vez nos anos 70, quando era adolescente, e ainda mora na cidade com a filha, Gabi, e a esposa, Jô Abade. “As coisas estão fluindo e confluindo, creio eu, no meu melhor momento, porque antes, com a história da juventude, a gente não está nem aí para nada... E eu era meio estabanado. Hoje não. Depois do nascimento da minha filha, passei a ser um cara mais centrado”, confessa.


Imorrível e independente

O documentário alavancou a minha história [Di Melo, o Imorrível, 2011, conta a vida e a trajetória de Di Melo, que, tendo gravado um único disco em 1975 e sumido, reaparece depois de mais de trinta anos para declarar-se “Imorrível”]. A partir de 2009, voltei à ativa e então passamos a elaborar o documentário porque corria a história de que “o homem morreu”. E pensei: pronto, morri e esqueceram de me avisar. [Di Melo refere-se ao boato de que havia morrido em um acidente de carro e deixado apenas um disco gravado].

Normalmente, a vida de um documentário é curta, mas esse ainda gera comentários. Nessa onda, os DJs do mundo todo aderiram ao meu som. Tanto que em viagens ao exterior, andando na rua, cheguei a ouvir meu disco tocar, o que é maravilhoso.

Tenho discos gravados e vendidos de forma independente, 100 músicas gravadas e cerca de 400 composições. Entre elas, 12 inéditas com Geraldo Vandré, feitas durante a década de 1980. Tenho músicas inéditas com Baden Powell, Wando e Jair Rodrigues e um CD gravado com a banda de Belchior. Também fiz parcerias com [os rappers] Emicida e Rashid. Levo os discos aos meus shows, camisetas, vinil – virou uma banquinha mercadológica na qual as pessoas levam o que compram já com um autógrafo. Quando faço a música não penso só em termos momentâneos. A minha música é pensada, é palavra por palavra.
 

Uma pequena ajuda dos amigos

Tive a satisfação de conhecer dentro do Sesc um grande amigo que me disse para fazer um trabalho diferente, ele se chama Ricardo Tacioli [assistente técnico na Gerência de Ação Cultural do Sesc-SP], gente fina, e me falou: vá, sim, à luta e consiga fazer um trabalho que dê suporte à sua carreira. E foi isso que fiz.

É importante ouvir as ideias das pessoas que te cercam e que te querem bem, e nós percebemos quem nos quer bem, pois existem aquelas que abrem um sorriso de visita e depois nos apunhalam pelas costas. Mas, com a tarimba, é possível perceber quem são as pessoas reais, porque amizade sincera você contabiliza nos dedos, assim como coisas que levam e te elevam. Por exemplo, ouvir música, assistir a um filme que nos faz voltar no tempo, um texto, uma fotografia são coisas que mexem com a sensibilidade e conseguem fazer com que a gente tenha um campo de visão. E a música nada mais é que uma questão de sensibilidade.

As coisas estão fluindo e confluindo, creio eu, no meu melhor momento, porque antes, com a história da juventude, a gente não está nem aí para nada... E eu era meio estabanado. Hoje não. Depois do nascimento da minha filha [Gabi, uma menina de 9 anos de idade], passei a ser um cara mais centrado, buscando ferramentas para melhor desempenhar o que sei e faço com carinho e com prazer, que é compor, cantar.
 

Sem arte não dá!

Em time que está ganhando não se mexe, então está tudo confluindo. Hoje eu não conseguiria viver sem arte. De tudo faço arte. Minha casa é um celeiro de arte, como se fosse uma galeria. Olho em volta e em tudo há cores, luzes, sabores. É uma festa eterna, é o que eu quero para mim, é o que escolhi. Sou um ser sensitivo, crio e recrio. É uma glória.

 

Assista o documentário O Imorrível