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Além do conto de fadas

Produções culturais para crianças deixam para trás o conteúdo simplificado e visam estimular a capacidade de interpretação do público infantil


Foi-se o tempo em que histórias infantis eram necessariamente associadas a princesas, cavaleiros, fadas, bruxas, dragões e outros seres fantásticos. Hoje, personagens históricos, artistas, clássicos da literatura e até mesmo conceitos sociopolíticos têm surgido cada vez mais em livros, peças de teatro, atividades de contação de histórias e outras produções culturais infantis. Em comum, está a ideia de enxergar as crianças como elas são: seres inteligentes, com grande capacidade de interpretação e aprendizado.

Os exemplos são variados. Na música, por exemplo, o espetáculo Pequenos Sambistas, de Cristiano Gouveia, apresenta grandes nomes do samba brasileiro ao público infantil; na literatura, há obras que tratam de clássicos literários, personagens históricos e até mesmo política, como os recém-lançados A Ditadura É Assim e A Democracia Pode Ser Assim (Boitempo, 2015); na contação de histórias, ciclos que se inspiram nos autores Guimarães Rosa, Ariano Suassuna e Graciliano Ramos, como na atividade Baú do Sertão, que esteve em janeiro no Sesc Santana.

No teatro, um exemplo é o conjunto de espetáculos da Cia. Vagalum Tum Tum, que desde 2007 adapta as tragédias de Shakespeare. Segundo o diretor Angelo Brandini, há particularidades ao levar um autor complexo como Shakespeare para as crianças, mas a maior batalha é não subestimar o público infantil: “A parte mais difícil é manter a essência do texto original. O grande desejo é fazer a criança experimentar o teatro, com uma linguagem que não é tão diferente da adulta, afinal, os clássicos tratam de coisas que dizem respeito à natureza humana, independentemente da idade que você tem”.

A escritora e pedagoga Margareth Brandini Park lembra que as capacidades interpretativas das crianças são imensas. “Acredito que as subestimamos absurdamente”, afirma. “Como pesquisadora, cansei de ver abordagens equivocadas por crenças ultrapassadas, como pessoas que pediam à criança que desenhasse algo, pois achavam que ela não teria competência para falar com propriedade sobre determinado assunto.”

A professora do Programa de Mestrado em Educação do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), Renata Sieiro Fernandes, observa que atualmente se tem dado mais credibilidade ao olhar infantil. “As crianças simbolizam o mundo a partir de suas percepções, que se tornam pensamento e, portanto, qualquer produto da cultura a que tenham acesso é material de aprendizado e ressignificação, pois elas não são sujeitos passivos e, sim, ativos”, analisa.

As histórias ouvidas, lidas e contadas podem ser pensadas como modos de a criança conhecer a si mesma, ao outro e ao mundo, acrescenta Renata. “As histórias nos fundam e elas curam nossas dúvidas, traumas, desenganos e desencantos, ao mesmo tempo em que alimentam o sonho, o desejo, a esperança, a crença”, avalia. “Por nos ajudarem a construir o que somos, as histórias nos formam como sujeitos e, portanto, ajudam a construir um cidadão crítico, ativo e participativo.”


Para o público mais exigente

Espetáculos levam a pequenos espectadores a obra de grandes escritores, músicos e artistas


Entre as Artes
Sesc Interlagos

Como parte da programação da semana Entre as Artes, que ocorre de 14 a 21/2, três espetáculos infantis tratam de grandes artistas brasileiros: O Trenzinho Villa-Lobos (14/2, às 15h), da Cia Articularte Teatro de Bonecos, encena a descoberta musical do maestro e compositor Heitor Villa-Lobos; Vila Tarsila (21/2, às 15h), da Cia Druw, conta o trajeto de Tarsila do Amaral desde as suas primeiras percepções artísticas na infância; Mário e as Marias (28/2 e 13/3, às 15h), da Cia Lúdicos de Teatro Popular, traz uma história lúdica inspirada na vida e obra de Mário de Andrade.

 

Simbad, o navegante
Sesc Santo André

14, 21 e 28/2, às 12h
Inspirado em um dos contos do livro As Mil e Uma Noites, o espetáculo da Cia Circo Mínimo põe em cena dois palhaços para contar a história de Simbad, o Navegante, utilizando técnicas circenses e uma carroça de bambu.

 

 

Bruxas da Escócia
Sesc Santana

14, 21 e 28/2, às 14h
Livremente inspirado no espetáculo homônimo de William Shakespeare, apresenta a história de um nobre valoroso escocês que, após vencer uma batalha, é surpreendido por três bruxas que fazem previsões sobre seu futuro, sendo a mais incrível de todas a que diz que ele, em breve, será rei, despertando a ambição de sua esposa Lady Macbeth.

 

Pequenos Sambistas
Sesc Osasco

13, 20 e 27/2, às 14h
Histórias contadas e cantadas por Cristiano Gouveia, inspiradas nas canções e na vida de grandes nomes do samba: Adoniran Barbosa, Cartola, Chiquinha Gonzaga e Clementina de Jesus.