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Voluntariado nas escolas
Porque eu quero

No Ano Internacional do Voluntariado, escolas de São Paulo abrem espaço para o trabalho abnegado dos seus alunos

"O voluntário é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social ou outros campos." São nesses termos que a Organização das Nações Unidas (ONU) define o trabalho voluntário. Para incentivar essa prática, a entidade instituiu 2001 como o Ano Internacional do Voluntariado. Tal deliberação garante ao serviço abnegado um caráter ecumênico importante na difusão dos seus princípios, afinal, o voluntariado ganha uma aura abrangente, sem permanecer ligado a nenhuma cartilha religiosa.

E mais importante é a incorporação desses valores pelos jovens, por meio da instituição de ensino à qual eles estão filiados. Incorporada e incentivada pelas escolas como parte da grade curricular, as práticas ligadas ao voluntariado ganham importância, pois passam a constar da rotina acadêmica do jovem. Por isso, muitas escolas da rede pública e particular de São Paulo promovem trabalhos voluntários nos quais os alunos se envolvem diretamente com os problemas da comunidade, participando de seu dia-a-dia, muitas vezes penoso, e auxiliando nas possíveis soluções.

Um exemplo desse movimento crescente é o Colégio Futuro, localizado na Vila Ré, bairro da Zona Leste de São Paulo. Há cerca de três anos, a diretoria passou a colocar os jovens em contato com uma realidade totalmente diferente da deles. "Na verdade, nosso objetivo principal é tirar o aluno do mundinho, muitas vezes muito restrito, em que ele vive", explica Eliana Ferreira Lima, professora de Geografia.
Devido ao êxito inicial, a escola desenvolveu um projeto mais abrangente que visava à integração da instituição, do aluno e da comunidade. Assim, em 1999, foi criado um programa multidisciplinar para que os estudantes do ensino básico ao médio desenvolvessem trabalhos sobre o tema Violência. No ano passado, o assunto abordado foi Cidadania. "Houve um intercâmbio muito grande com a comunidade", explica Taísa Julio Vicente Soares, professora de História. "Os alunos tornaram-se multiplicadores daquilo que aprendiam no colégio e, depois, repassavam para os interessados noções de reaproveitamento de alimentos e reciclagem."

Este ano, a direção do colégio decidiu criar a disciplina Ética e Cidadania, em que são discutidos assuntos como inclusão social, injustiça, preconceito, discriminação da mulher e sexualidade. Segundo a professora Taísa, responsável pelas aulas, o interesse dos jovens é surpreendente. "É impressionante como todos querem colaborar e participar das atividades", diz.
Vai ao encontro das expectativas da professora a consciência desenvolvida por Thaty Moraes Silva, aluna do 3o ano do ensino médio do Colégio Futuro: "Eu busco praticar cidadania com o meu trabalho voluntário. Além disso, tento levar a consciência da necessidade de ajudar para outras pessoas".

De acordo com pesquisas recentes, somente 7% dos jovens brasileiros são voluntários, contra 62% nos Estados Unidos. Se depender dos jovens do Colégio Santa Cruz, esses números vão mudar. A escola possui um projeto solidário, o Ação Comunitária, que envolve a participação dos alunos da 5a série até o 3o ano do ensino médio. A proposta consiste em levar os estudantes em cortiços e asilos e nesses locais desenvolver uma série de atividades de cunho pedagógico e social, sempre com o objetivo de inserir os alunos em um ambiente no qual eles não estão habituados.

Em consonância com o Ação Comunitária, o colégio inaugurou, ano passado, a disciplina Ética e Cidadania para os alunos do 2o ano do ensino médio. "Nosso objetivo é que o aluno lance um novo olhar para a sociedade", explica Malu Montoro, coordenadora do ensino médio do Colégio Santa Cruz. "Além de assistir aulas teóricas que explicam as origens da desigualdade social no país, os alunos atendem uma determinada carga horária como estagiários em instituições do terceiro setor, a exemplo do Laramara, para portadores de deficiência visual e assim por diante."

Joana Rossi Barbosa, de 14 anos, aluna da 8a série, participa do Ação Comunitária faz três anos. Ela conta que no trabalho realizado nos cortiços do bairro Morro Continental, os alunos do Santa Cruz fazem as vezes de professores e ministram várias atividades, desde alfabetização e reforço escolar até atividades recreativas alternativas, como relaxamento. "Eu encaro esse trabalho voluntário como uma troca de experiências: nós passamos algo para as crianças, mas recebemos muitas coisas em troca", ressalta Caio Braga, 14 anos, colega de Joana.

Ambos os adolescentes, ao tomar contato com uma realidade totalmente oposta à que estavam acostumados, demonstram um sentimento de revolta. "Tínhamos uma idéia artificial da desigualdade social, passada de forma totalmente estereotipada pela televisão. Mantendo contato com os cortiços, percebemos que as crianças têm muita vontade de aprender, só que não têm nenhuma oportunidade. Existe muito preconceito, mesmo dentro de nós, e a cada vez que voltamos lá ele diminui um pouquinho", conta Joana.


Desafio Escolar
Encontro de escolas abordará o voluntariado

"Perceber o jovem como produtor, e não apenas como receptor de cultura", essa é uma das características do modelo de educação proposto pelo Desafio Escolar, projeto de caráter institucional que integra o Sesc, o jornal O Estado de S. Paulo e as escolas participantes.

Isento de caráter competitivo, o projeto valoriza o colégio, ao identificá-lo como o espaço privilegiado de aprendizagem na sociedade moderna. Ele é a bandeira a ser defendida e o grande vencedor do Desafio. Dessa forma, torna-se possível o convívio harmonioso, sem distinção, entre escolas públicas e particulares, centrais e de periferia, da capital e do interior, professores das mais variadas formações acadêmicas, com iguais oportunidades de acesso à informação e bens culturais.
As atividades desenvolvidas nos núcleos de participação vão desde manifestações artísticas, esportes, jogos cooperativos, até a elaboração de um jornal que cobre o evento. É uma atividade que engloba divertimento, descompromisso (não é obrigatório) e desenvolvimento do indivíduo. Este ano, o tema proposto às escolas pelo Desafio é o Trabalho Voluntário.