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De tom em tom
Componente essencial da pintura, entre outras manifestações, a cor ajuda a desvendar as transformações da arte através dos tempos
Tão significativas em nosso cotidiano, as cores se manifestam em nuances ao mesmo tempo silenciosas e impactantes. Associada ao sentido da visão, a cor pode ser definida, segundo o dicionário Aulete, como “a aparência dos corpos segundo o modo pelo qual refletem ou absorvem a luz, cuja radiação se apresenta numa determinada frequência”. Ou seja: se a luz recebida pelos nossos olhos é o estímulo, a sensação produzida é a cor. Está justamente aí, no campo do que pode provocar sua relevância ímpar para as artes visuais.
No caso da arte moderna, um bom exemplo dessa relação é o expressionismo, movimento surgido no início do século 20, que durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) se difundiu pela cultura metropolitana alemã. A arte produzida nessa estética pode ser identificada pela distorção da imagem e a forma subjetiva pela qual a cor é empregada nas obras.
Avançando algumas décadas na história dos movimentos artísticos, a arte pop destacou-se nos anos 1960 apostando em uma nova sensibilidade, optando por tonalidades fortes de azul, vermelho e amarelo, alternando o espaço da tela com símbolos da comunicação de massa e colagens.
No entanto, a íntima ligação da cor com a arte acompanha a evolução do ser humano, desde suas primeiras manifestações. É o que explica o pintor Israel Pedrosa, que publicou no ano de 1977 o livro Da Cor à Cor Inexistente (Editora Senac, 2009), um tratado sobre a história da teoria das cores. “Desde as pinturas das grutas de Lascaux (França) e de Altamira (Espanha), das artes egípcia e gótica, a humanidade foi preparando o advento do renascimento italiano, quando a consciência científica começa a coadjuvar a busca empírica da explicação da beleza do colorido artístico”, afirma. “A partir daí surgem os elementos científicos e estéticos dos pintores Leonardo da Vinci (1452-1519), Vincent van Gogh (1853-1890) e do crítico de arte John Ruskin (1819-1900) – para citar alguns nomes –, abrindo caminho até o surgimento do impressionismo.”
A cor à luz da ciência
Segundo Pedrosa, a única maneira de esclarecer questões teóricas sobre a cor e seu entendimento como parte inerente do cotidiano é a explicação científica de que ela não tem existência material. “É tão somente a sensação provocada pela ação da luz sobre nosso órgão visual”, diz.
O estudo da luz pela Física levou a profundas mudanças no entendimento e significado das cores. No século 19, ocorreram descobertas nessa área do conhecimento que levariam a arte, a ciência e a tecnologia à criação da fotografia – e mais tarde do cinema, da TV e aos avanços da computação gráfica. Hoje, é impossível pensar esses meios de expressão sem associá-los à cor.
Sensibilidade aguçada
Exposição cenográfica convida visitantes a explorar por meios diversos o fenômeno da cor
A entrada é, literalmente, livre. Não há portas de acesso para conferir de perto a exposição O Nome da Cor, parte da programação do Sesc Santana até o dia 13 de outubro.
O que separa o público do espaço expositivo é uma espécie de cortina, feita de filetes nos tons azul, vermelho e amarelo. Daí em diante, é se deixar provocar pelas curiosidades espalhadas em painéis e telas interativas. Coordenador geral da exposição, Fernando Marineli é um dos idealizadores da atividade – que foi desenvolvida em conjunto pelo corpo técnico da unidade e pelo cenógrafo Renato Theobaldo – explica melhor o conceito da mostra. “Trata-se de uma exposição cenográfica e não artística, para explorar de meios diversos o fenômeno da cor”, diz. O objetivo, segundo Marineli, é atender, sobretudo, o público escolar, dispondo de um caráter educativo. “Porém, o tratamento é lúdico, com elementos interativos e riqueza sensorial”, complementa.
O percurso de visitação apresenta uma variedade de olhares sobre o tema, sendo possível mergulhar no universo temático de cada interação. Uma das instalações é composta de um painel com todas as cores do espectro visível; outra promove um encontro com a atriz Marilyn Monroe, no qual os participantes montam o sorriso da diva, ao unirem folhas de acrílico nas cores pigmento primárias: ciano, magenta e amarelo.
“Abordar a cor em uma exposição é algo complexo, porque a cor faz parte do nosso cotidiano, está presente em tudo, mas há pouca reflexão sobre o tema”, pontua Marineli. “Sensibilizar as pessoas em torno desse assunto, que é visto como um dado natural, foi a dificuldade maior. Para concretizar o objetivo, convidamos o cenógrafo Renato Theobaldo, responsável pela concepção da mostra.”
A exposição desmembrou-se em um catálogo, cujo objetivo é levar aos visitantes as principais questões relativas à cor. “Ainda que exista uma relação da cor com objetos e sentimentos, não há determinação concreta sobre composição e sensações despertadas”, conclui Marineli.