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Saúde
Vida positiva

Esse dado reserva à epidemia causada pelo HIV um diagnóstico conhecido, mas com um aspecto peculiar: como em toda epidemia, a incidência de contaminação está diretamente vinculada às condições socioeconômicas, no entanto, nessas duas décadas, a Aids não poupou ninguém. Ricos e pobres, países de 1o e 3o mundo sucumbiram à voracidade do HIV. "O vírus está em todas as classes sociais, no mundo todo. Mas, atualmente, temos uma situação ambígua: enquanto na África a epidemia assume proporções avassaladoras, capazes de dizimar populações, nos Estados Unidos e na Europa a Aids está se tornando uma doença crônica", analisa Claudio Pereira, presidente do Grupo de Incentivo à Vida (GIV), grupo de ajuda mútua voltado aos portadores de HIV. E o Brasil? "A América Latina está entre os dois quadros. Não se assemelha à Europa, mas também não é tão dramática quanto na África. Podemos dizer que o Brasil está mais próximo do quadro europeu e americano", completa Claudio.
O panorama brasileiro, de fato, reserva boas surpresas. Desde 1996, o Governo distribui gratuitamente, através da rede pública de saúde, o medicamento à base de anti-retrovirais. O Brasil é o único país em desenvolvimento a adotar esse procedimento. Este fator foi determinante para que o índice de mortalidade em decorrência da Aids tenha caído aproximadamente 50% em 1998, segundo estimativas do Ministério da Saúde. "Num quadro caótico de saúde pública, o portador de HIV, realmente, consegue ter um atendimento melhor, mas ainda existem falhas", alerta o jornalista Mário Scheffer, um dos fundadores do Grupo pela Vidda. As falhas detectadas por Mário se referem à deficiência de acesso, na rede pública de saúde, aos exames de rotina que portadores de HIV precisam fazer. "Esses exames são tão importantes no tratamento quanto a medicação. É fundamental, para a expectativa de vida do paciente, que o médico acompanhe sua carga viral e a taxa de CD4 (células responsáveis pela defesa do organismo). Sem esses exames, o médico fica à mercê dos diagnósticos clínicos, ou seja, só toma alguma atitude quando o portador já está com uma doença oportunista", explica.
Ainda no que se refere ao tratamento do Governo brasileiro em relação ao HIV/Aids, outro fator fundamental para o controle da epidemia deixa muito a desejar: a qualidade das campanhas. Segundo Mário e Claudio, além de só existirem campanhas de prevenção ineficazes, nenhuma delas vislumbra os portadores do vírus: "As campanhas não atendem as diferentes populações e não se preocupam com a vida do portador. É muito importante que o infectado saiba que não está isento do uso da camisinha, mesmo quando o parceiro também é soropositivo. O contato com outra carga viral ou com outra doença venérea pode ser fatal. O grande problema das campanhas que estão por aí é que são massificadas", observa Claudio Pereira, do GIV. "Algumas populações são completamente esquecidas, não recebem atenção no que se refere à prevenção, nem à assistência. É o caso, por exemplo, da população de baixa renda. É muito difícil lidar com esse problema. Há uma população favelada e de rua infectada que não sabemos como trabalhar. Algumas medicações têm de ser acompanhadas de uma dieta hipercalórica. Mas como fazer um paciente sem casa e comida aderir a um tratamento desse? Como trabalhar a prevenção junto aos presidiários? Aproximadamente 23% estão infectados e não existe nenhuma campanha de prevenção para eles. O quadro fica ainda mais grave se considerarmos que se trata de uma população sazonal, que entra e sai toda hora e que recebe visitas íntimas. E os profissionais do sexo? Não há quase trabalho de prevenção para eles", completa Mário. É nesse momento que um caótico quadro social contribui para o agravamento da epidemia. Por exemplo, segundo dados do Ministério da Saúde, 21% dos portadores de HIV se infectaram através de drogas injetáveis. Não por acaso, no momento em que foi realizada a pesquisa, 82% estavam desempregados e 1/3 não tinha moradia.
Três caras
No Brasil, o Ministério da Saúde traçou três fases da epidemia: a primeira foi caracterizada pela infecção preponderante de homossexuais e bissexuais, geralmente com alto grau de escolaridade. A segunda atingiu os usuários de drogas injetáveis e, conseqüentemente, contaminou os heterossexuais. Atualmente, acentua-se a disseminação do HIV/Aids entre os heterossexuais, principalmente as mulheres. As pesquisas apontam também para o aumento da contaminação entre a população com baixo nível de escolaridade. No frigir dos ovos, constata-se que a mudança do quadro foi radical: a epidemia traçou novos rumos, o perfil do portador não existe mais e o HIV/Aids ganhou novos tratamentos.
O desenvolvimento dos anti-retrovirais, por exemplo, determinou grandes mudanças na vida do soropositivo: mais eficazes contra doenças oportunistas, esses remédios não só prolongaram a expectativa de vida, como também contribuíram para sua melhoria, ainda que seus efeitos colaterais sejam pesados e uma parcela dos infectados enfrente dificuldades em seguir com o tratamento. Hoje, é possível viver com o HIV, melhor e mais tempo do que se vivia antes. No Grupo pela Vidda, por exemplo, há dois anos não morre ninguém. Além disso, o maior nível de informação sobre as formas de contágio permite que o preconceito diminua, aspecto determinante para que o soropositivo tenha uma vida normal.
A epidemia do HIV também revelou o poder de mobilização da sociedade em busca de saídas para um problema ao qual todos estão expostos: "Foi graças a tantos esforços coletivos que conseguimos a distribuição gratuita dos anti-retrovirais. A mobilização em torno da Aids é, na minha opinião, inédita", analisa Mário Scheffer.
Um dia na luta contra a Aids
Instituído pela Organização Mundial de Saúde em 1987 como Dia Mundial de Luta Contra a Aids, primeiro de dezembro foi a data escolhida para lembrar que a Aids é um problema que afeta todos, ricos e pobres.
Desde então, a cada ano é sugerido um tema para marcar a data. Este ano, o tema proposto pela Unaids, Programa de Aids da Organização das Nações Unidas (ONU), foi Escute, Aprenda e Viva. No Brasil, esse slogan foi adaptado para A Prevenção Começa com o Diálogo. Converse, Aprenda e Viva Sem Aids.
Com esse lema, pessoas de todo o país foram lembradas que a prevenção é o único caminho de combate ao HIV. Não há outro. Mas no Dia Mundial de Luta Contra a Aids, outro aspecto foi lembrado: tão importante quanto prevenir para não contrair o vírus é garantir qualidade de vida ao portador do HIV.
Em São Paulo, as comemorações duraram o dia inteiro. Pela manhã, ONG’s como o GIV (Grupo de Incentivo à Vida) e o Grupo pela Vidda reuniram centenas de participantes no vão livre do Masp na luta contra a doença. À tarde, os Sescs Pompéia, Consolação e Interlagos promoveram atividades reunindo pessoas de todas as idades, que receberam informações valiosas sobre o combate e a prevenção à Aids.
Crianças que vivem com HIV
No Sesc Pompéia, as comemorações começaram já no dia 30 de novembro, com o lançamento do livro Daniel e Letícia, da psicóloga infantil Elizabete Franco, em parceria com Sônia Maria Rodrigues, Marcelo Krokoscz e Nair Soares de Brito.
Os autores são voluntários do GIV, e, na ocasião, lançaram pela primeira vez no mercado um material educativo que põe em discussão a qualidade de vida da criança soropositiva.
A obra foi escrita visando, além das crianças portadoras do HIV, também aquelas que não possuem o vírus. "A idéia surgiu do diagnóstico de uma necessidade. Precisamos abrir essa discussão para aprender a lidar com as crianças portadoras. Não adianta fingir que nada está acontecendo. Numa escola, por exemplo, é claro que os colegas percebem algo de especial, pois a criança portadora toma muitos remédios. Mas, também não se pode discriminar a criança portadora do HIV, pois ela pode viver normalmente. Precisamos enfrentar essa questão de maneira limpa", explica Elizabete.
Durante toda a tarde do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, dezenas de crianças ocuparam a Área de Convivência do Sesc Pompéia e se divertiram enquanto aprendiam sobre HIV/Aids. As atividades tiveram início com uma peça baseada no livro Daniel e Letícia, encenada pelo grupo Gang de Palco. O espetáculo trouxe ao público a história dos personagens Daniel e de sua amiga Letícia. Daniel é soropositivo e Letícia é sua colega de classe. Por meio dessa amizade, os dois aprendem sobre o HIV ao mesmo tempo em que descobrem que a convivência com um soropositivo pode ser absolutamente normal.
No decorrer do espetáculo, os atores passaram mensagens a respeito do preconceito, da ignorância e contra a discriminação. Em seguida, todas as crianças participaram de brincadeiras que, de alguma maneira, remetiam ao tema do livro. Na Área de Convivência foi montado um tabuleiro gigante (o mesmo que se encontra anexo ao livro), sendo que o grande barato era o arremesso de um imenso dado feito de espuma. Como parte das atividades do dia houve, também, uma gincana cultural, a pintura de um grande painel e a presença dos bonecos animados de Daniel e Letícia, que conversavam com as crianças sobre todos os aspectos do HIV/Aids.
Vida saudável com yoga
No Sesc Consolação, as comemorações do Dia Mundial de Luta Contra a Aids também foram intensas. Às 6h da tarde, as atividades começaram com a aula aberta de yoga oferecida pelo professor Sandro Bosco. Durante quase duas horas, os participantes acompanharam o professor numa série de exercícios, desenvolvida por ele especialmente para portadores de HIV. "Temos conseguido bons resultados com esses exercícios. Os médicos de alguns alunos portadores notaram uma significativa melhora no bem-estar deles e os aconselham a não deixar o yoga", relata o professor. Após a aula, as atividades continuaram na Área de Convivência com o lançamento do vídeo Yoga e Saúde – Aids, Imunodeficiência e Dependência Química, que traz a série de exercícios especiais, devidamente orientada por Sandro.
Esses exercícios nasceram da idéia de oferecer ao soropositivo uma alternativa de melhoria da qualidade de vida, pois, apesar dos avanços científicos e da eficiência dos medicamentos, eles são submetidos a uma rotina de remédios e de cuidados, muitas vezes estressantes. Segundo o professor, os exercícios propostos são de fácil realização e, por trabalhar harmoniosamente com a respiração, a meditação, a concentração e o alongamento, têm a capacidade de melhorar e fortalecer o sistema imunológico, sendo útil tanto para os portadores de HIV como para pessoas que estão em qualquer outro tipo de tratamento.
HIV com vida
No Sesc Interlagos, a luta contra a Aids começou no dia 17 de novembro e se estendeu até o dia 12 de dezembro com o projeto HIVida. Todos esses dias foram dedicados a acabar com as dúvidas e conscientizar a população não somente sobre a importância de se proteger do HIV, mas também dos cuidados ligados às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).
Melhoria da qualidade de vida, diminuição do preconceito em relação a quem possui DST e aproximação das pessoas para a observação desse trabalho foram os outros objetivos do evento, uma parceria do Sesc Interlagos com a Secretaria Municipal de Saúde. O HIVida funciona através de vivências pessoais entre os freqüentadores da unidade e os monitores, que esclareceram sobre os métodos de prevenção. "A mudança de comportamento não é imediata. É preciso insistir", explica Rute Ramos, uma das coordenadoras do projeto desde o início, em 1993. "O HIVida vem mudando a cada ano de acordo com as necessidades que percebemos. Em 1993, por exemplo, o evento se resumia a palestras. Atualmente, realizamos atividades como bate-papos educativos, videodebates e oficinas monitoradas por funcionários da Secretaria Municipal de Saúde. Além disso, distribuímos folhetos e preservativos. A única coisa que não mudou nesses anos foi a presença preponderante dos jovens", continua Rute. n
•Quem deseja adquirir o vídeo, deve ligar para os fones: (0_ _11) 3875-1079 / 864-7534 (fax); e-mail: infoyoga@uol.com.br.
•GIV (Grupo de Incentivo à Vida): (0_ _11) 5084-0255; e-mail: giv@mandic.com.br.
•Grupo pela Vidda: (0__11) 258-7729.
•Ministério da Saúde: www.aids.gov.br.
Números da Aids
•Desde o início da epidemia, em 1980, são 170.073 casos confirmados até agosto de 1999, numa proporção de 117,6 para cada 100 mil habitantes. Estima-se que existam 530 mil adultos infectadas. •Em 1984, havia 24 homens infectados para cada mulher, atualmente são 2 homens para 1 mulher, sendo que na faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos, a proporção já é de 1 para 1. •Dos 170.073 infectados, 22,4% têm de 30 a 34 anos; 20,8% têm de 25 a 29 anos; 10,7% têm de 20 a 24 anos, e 10,06% têm de 40 a 44 anos. •O uso de drogas injetáveis é o responsável direto por 21,4% do contágio por HIV. •Cerca de 36% dos casos de Aids em mulheres acontecem ou porque usavam drogas injetáveis ou porque seus parceiros eram usuários de drogas injetáveis. •O sexo é uma via para conseguir drogas. Dos entrevistados que mantêm práticas homossexuais, 50% conseguem a droga em troca de sexo. (todos os dados publicados nesta matéria são do Ministério da Saúde) |
Sexo
• Jovens entre 16 e 25 anos são os maiores usuários de camisinhas em suas relações sexuais. Nessa faixa etária, o uso é maior entre homens (53%) do que entre mulheres (35%). • Cerca de 20% dos homens mantêm relações estáveis e eventuais ao mesmo tempo. Entre as mulheres, esse índice cai para 4%. • Entre as pessoas que possuem relações estáveis e eventuais, 34% não utilizam camisinha na relação estável, mas utilizam na eventual; enquanto 32% não usam camisinha nem na relação estável, nem na eventual. • Doze e meio por cento afirmam possuir, além do parceiro fixo, parceiros eventuais. • O grupo que menos usa camisinha são as mulheres com relação estável (79%). (Pesquisa feita entre pessoas de 16 a 65 anos, moradoras de áreas urbanas de todo o país, sob a coordenação da professora Elza Berqó, numa parceria do Ministério da Saúde com o Cebrap.) |
O brasileiro conhece o HIV/Aids?
Segundo pesquisa coordenada pela professora Elza Berqó, estamos bem informados. •69% das pessoas sabem que o preservativo protege contra o HIV. •79% sabem que o HIV pode ser contraído através de sexo oral. •60% sabem que o uso compartilhado de seringas e agulhas pode transmitir HIV. •Mais de 80% sabem que o vírus não é transmitido pelo toque. •95% reconhecem como de alto risco relações sexuais com vários parceiros. |
Vida melhor para as gestantes e seus bebês
A transmissão do HIV (transmissão vertical) de mãe para filho tem se transformado numa potente via de contágio. No entanto, boas notícias vindas do Ministério da Saúde prometem contribuir para a diminuição desse tipo de transmissão do vírus. Desde o início do ano já está disponível, segundo o Governo, medicação suficiente para dez mil gestantes portadoras do HIV. O tratamento, considerado uma "vacina" contra o HIV para o recém-nascido, consiste na administração do AZT oral à gestante a partir da 14a semana de gravidez, uma dose injetável durante o parto e solução oral para o bebê até a 6a semana de vida. Esse tratamento é considerado o mais eficaz na prevenção do desenvolvimento da Aids em recém-nascidos, com até 70% de sucesso. Entre 1997 e 1998, por exemplo, a aplicação das doses de AZT em mães e em seus bebês evitou o contágio de 500 bebês. No entanto, para que o tratamento seja cada vez mais eficiente, é fundamental que os médicos orientem todas as gestantes a realizar o teste anti-HIV. Se a adesão dos médicos e das pacientes for total, o Ministério da Saúde estima que poderão ser evitadas 1.300 contaminações por transmissão vertical. |
Vias de contágio
Atualmente, 49% das contaminações ocorrem por via sexual. •Em 1986, homossexuais e bissexuais representavam 71% dos casos. •Em 1997, homossexuais e bissexuais representavam 21% dos casos. •Em 1986, os heterossexuais representavam 3% dos infectados. •Em 1998, os heterossexuais representavam 40% dos infectados. •Em 1989, 2% dos infectados eram hemofílicos. De lá para cá, esse número caiu consideravelmente e, segundo os cálculos do Ministério da Saúde, de 1980 a 1997, os hemofílicos representaram 0,7% dos infectados. |
A vacina que o mundo quer
Em 2000, a epidemia da Aids, causada pelo vírus HIV, completa vinte anos e, segundo projeções do Governo norte-americano, a tão sonhada vacina ainda demorará dez anos para ser desenvolvida. No entanto, apesar dos passos lentos e do relativo conhecimento que a ciência tem sobre esse vírus, as descobertas feitas até agora já possibilitam antever um futuro promissor. O desenvolvimento de uma vacina contra o HIV vem sendo apoiado pelas mais ricas nações e conta também com vultosos investimentos do Banco Mundial. Esse empenho é fundamental para que, futuramente, possamos controlar de maneira mais eficaz a epidemia que, atualmente, afeta aproximadamente 38 milhões de pessoas no mundo. No entanto, nesse processo é importante que cada passo seja dado com cautela e, principalmente, com responsabilidade para que não haja sensacionalismo da mídia ou desrespeito por parte do patrocinador da pesquisa às normas de segurança a que devem estar sujeitos os voluntários do teste. Atualmente, a elaboração de uma vacina entrou na Fase III (etapa em que após ser testada a segurança do produto e sua imunogeneicidade, verifica-se sua eficácia). Apesar da boa notícia, alguns membros da comunidade científica não enxergaram com bons olhos a notícia. Uma publicação lançada no final de 1998 pela Agence National de Recherches sur le Sida, instituto nacional francês que desenvolve estudos sobre o HIV, declarou: "No estágio atual de conhecimento científico, os ensaios da Fase III são inúteis e potencialmente perigosos". O virologista José Esparza, coordenador do Programa de Vacinas Uniaids (Programa de Aids das Nações Unidas), aponta para a importância de se manter o trabalho de prevenção, mesmo que uma vacina venha a ser encontrada: "As primeiras vacinas contra o HIV provavelmente terão pouca eficácia e não serão capazes de substituir outras estratégias de prevenção. Mesmo que se desenvolva uma substância eficiente, ela poderá até revitalizar nossas atividades de controle, mas será administrada como parte de um pacote preventivo complexo, que incluirá intervenções comportamentais". |
Boas notícias
Menos pessoas estão morrendo por causa da Aids no Brasil. Segundo os dados do Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM), órgão do Ministério da Saúde, a mortalidade em decorrência da Aids caiu 38%. Essa notícia merece ser comemorada, tendo em vista que de 1990 a 1995 o índice de mortalidade aumentou vertiginosamente. Em 1990, houve, no Brasil, 5.472 óbitos por Aids. Esse número significa um coeficiente de 3,73 mortes por cem mil habitantes. Em 1995, esse coeficiente atingiu 9,79. Desde então, as cifras começaram a cair atingindo o coeficiente de 7,26 óbitos por Aids a cada cem mil habitantes em 1997. Esse foi o último ano em que foram levantados esses dados, mas a projeção é que em 1998 a mortalidade tenha caído em 50%. Essa queda coincide com a adoção da terapia tríplice com anti-retrovirais, o chamado "coquetel", através da distribuição gratuita feita pelo Ministério da Saúde. O Brasil é o único país em desenvolvimento que distribui o medicamento e isso não apenas beneficia a população como também significa economia para o Governo. Apesar da medicação ser caríssima (por mês, o paciente teria que desembolsar de R$1.500,00 a R$ 3 mil se tivesse que pagar do próprio bolso), o Brasil economizou (segundo dados da Fipe), entre 1997 e 1998, R$196 milhões depois que passou a distribuí-la. Isso porque o tratamento deixa os pacientes mais resistentes em relação às doenças oportunistas, como a pneumonia, o que resultou numa significativa redução no número de internações. |