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Do teatro ao vôlei, passando pela fotografia e pela cerâmica, alunos dos cursos permanentes do Sesc apresentam ao público o que aprenderam

As unidades do Sesc promovem ao longo do ano cursos permanentes que visam despertar talentos, aguçar habilidades e oferecer um lazer criativo para adultos, crianças e terceira idade.

São atividades para todos os gostos. Aos atletas, cursos e clínicas de iniciação esportiva com a presença de técnicos especializados, que privilegiam o caráter sociabilizador do esporte. Já para os artistas adormecidos, ansiosos por uma oportunidade para dar vazão a impulsos criativos, as oficinas de arte são ideais. Nelas são introduzidos os princípios da cerâmica, tapeçaria, argila, artes plásticas, fotografia, entre outras. Os pés de valsa podem botar os esqueletos para remexer com as aulas de dança de salão, danças típicas ou do ventre. Além do prazer que essa atividade propicia, os alunos ainda descobrem seus benefícios físicos, e a história e cultura por trás de cada ritmo.

Seja qual for a área, a filosofia do Sesc é promover a educação informal e levar informação, cultura e lazer de qualidade ao público. Como resultado de tanto trabalho, ao final de cada ano, as unidades abrem seus espaços de apresentação, como teatros, auditórios e áreas de convivência, para os alunos mostrarem tudo o que aprenderam, por meio de espetáculos, pequenos campeonatos ou exposições.

Em cada curso, uma história

Sabrina Mendonça Rossetti, freqüentadora do curso de dança afro do Sesc Pompéia, confessa que se expor é realmente muito difícil, mas acredita que a descontração das aulas aliada à seriedade com que a proposta é conduzida pelos técnicos e professores trazem resultados positivos. "O Sesc consegue formar ou, ao menos, despertar o ser pensante e crítico em cada um."

Esse pensamento parece ser compartilhado pela maioria dos alunos da unidade. No dia 30 de novembro, o Teatro do Sesc Pompéia estava com a lotação máxima. Eram amigos e parentes curiosos e com os olhos fixos no palco. Qual o motivo de tanto alvoroço? A última peça do dramaturgo Antunes Filho? Uma apresentação de balé profissional? Nada disso. Em cima do tablado, estavam a mãe, o pai, o avô e o filhão mandando ver nas apresentações de tai chi chuan, dança de salão, jazz, dança afro e dança do ventre.

Após enfrentar a platéia em polvorosa, Sabrina comenta a visão de quem estava no tablado: "É emocionante. É o momento de tentar lidar com o medo do ridículo, com a timidez bloqueadora, com o verdadeiro EU dentro do peito".

Ainda segundo a dançarina, o Sesc também proporcionou a ela o contato com culturas que não conhecia. "Eu faço dança afro e isso me possibilitou conhecer a cultura negra, que é maravilhosa. Cada passo dá origem a uma história", conclui.

Tempo e dedicação

O entusiasmo ultrapassa até mesmo o sorriso de satisfação estampado no rosto dos artistas ao receber os aplausos do público. Tem a ver com todo o trabalho realizado até aquele momento.

Alguns alunos, principalmente os da terceira idade, dedicam grande parte do tempo a esses cursos, chegando a comparecer diariamente nas unidades. É o caso de dona Dorothy Miçalli e seu marido Orlando. "Nós fazemos teatro, canto e dança", explica. "Mas é claro que sempre há um curso ou outro que também nos interessa."

Para o casal, o principal motivo que os levou ao Sesc Carmo, há 17 anos, foi a busca por uma "vida melhor" depois da aposentadoria de seu Orlando. "Eu fiquei muito preocupada. Tive medo dele ficar deprimido com a falta do que fazer." Foi quando, por meio de um anúncio de tevê, dona Dorothy descobriu o Sesc.

Das apresentações de final de ano, o casal participou da encenação da peça O Boi e o Burro no Caminho de Belém, um musical natalino, dirigido por Terezinha Bertolinni, outra freqüentadora do Sesc.

Depois da montagem realizada na unidade, a peça seguiu uma verdadeira turnê por vários espaços da cidade. Foi apresentada num asilo, no Tremembé, na igreja de Sta. Terezinha, no Bosque da Saúde e na capela Maria Imaculada, na Saúde, paróquia de dona Dorothy, fato que a deixou profundamente orgulhosa. "Essa foi uma apresentação muito especial para mim. Afinal, foi a chance de mostrar para as pessoas da minha comunidade tudo o que eu aprendi no Sesc."

Além do teatro, a outra menina dos olhos de dona Dorothy é a técnica de amarração de lençóis que ela aprendeu há alguns anos. Trata-se da confecção de vestidos sem uma única costura. A técnica prevê a dobradura minuciosa dos tecidos e a aplicação de alfinetes de segurança. "Nós desenvolvemos essas aulas em vários lugares, mas o Sesc nos deu o maior apoio, e nos dá até hoje."

Incansável, dona Dorothy ainda coordena o Grupo de Convivência Carlos Malatesta, uma turma de 26 pessoas que usa o espaço do Sesc Carmo para discussões, palestras e demais atividades. O resultado de tudo isso é uma agenda lotadíssima de compromissos na qual a família tem apenas um dia reservado. "Estava com a família num chá de confraternização no Sesc Carmo, realizado no dia 3 de dezembro, mas nem pude ficar muito, tinha um outro compromisso." Dona Dorothy se classifica como muito ocupada: "Vivo ligada em tudo o que acontece e não é sempre que eu tenho tempo", justifica.

Não tão atribulado assim, Élcio Pizotti, de 64 anos, freqüenta o Sesc Vila Mariana há um ano, mas já sentiu as mudanças. "Na verdade, meu filho se matriculou lá e me colocou como dependente", explica. "Mas já pude comprovar como os professores são competentes e como a infra-estrutura é de primeiro mundo." Élcio pratica várias modalidades esportivas e ainda faz curso de natação, exercícios que deixou de lado desde os vinte anos. "Foi um pouco difícil voltar à ativa, mas valeu a pena. Hoje, estou de bem com a vida."

Convidado a participar dos torneios de fim de ano, ele topou na hora. "Quando me aposentei, há dez anos, só não fui parar num boteco porque não fazia mesmo meu estilo, graças a Deus eu achei o Sesc, onde eu faço vários amigos e me sinto vivo."

A exemplo de seu Élcio, existem pessoas que procuram o Sesc para aumentar seu repertório de informação. Mário Russo, um aficionado por fotografia ("Só não durmo com minha câmera porque minha mulher reclamaria"), freqüenta a unidade Pompéia desde agosto. Em qual curso? Fotografia, é claro. Mário se interessa pela atividade desde garoto e, depois de adulto, passou a se dividir entre a profissão de engenheiro e seu hobby, mas ainda não estava satisfeito. "O que mais me fazia falta era a qualidade das revelações que recebia dos laboratórios. Eu me preocupava com as poses, com a luz etc., mas a revelação e a ampliação deixavam a desejar."

Curioso, resolveu ele mesmo revelar seus filmes e ampliar suas fotos.

"Os cursos para profissionais ainda são muito caros e o Sesc me ofereceu a oportunidade a preços mais acessíveis e nem por isso com técnicos menos competentes. Lá eu consigo dicas de enquadramento, dos melhores ângulos e de como ampliar minhas fotos para obter o resultado que quero."

Desde então, Mário é o fotógrafo da turma. Todos "encomendam" seu trabalho. "As garotas que fazem aula de karatê comigo vivem me pedindo para eu tirar fotos delas para a mãe, o namorado ou até para conseguir emprego", diverte-se. Mário ainda comenta que o Sesc Pompéia é o grande centro cultural do bairro. "Na verdade, o único", corrige. "Tirando o Parque Antártica, é o único lugar legal para ir." O fiel torcedor do Palmeiras, sua terceira paixão, acha o bairro muito "apagado", por isso o agito da unidade (sua famosa choperia, área de convivência, teatro, quadras etc.) salva seu dia-a-dia.

Entre os que descobriram no Sesc uma maneira de dar vazão a antigos sonhos, encontramos dona Elfrida Varins Feldman e sua filha, Karen. Ambas freqüentam o Centro Experimental de Música (CEM) do Sesc Consolação há dois anos e perceberam que a música as aproximou mais. "Já éramos ligadas", faz questão de salientar dona Elfrida. "Mas, quando nos vimos unidas aprendendo a mesma coisa, foi muito importante para nós." O CEM funciona como um difusor informal de aprendizado em música, o que também ocorre no Núcleo de Música do Sesc Vila Mariana. Lá, mãe e filha puderam tomar contato com o aprendizado do violino, tarefa antes proibida para dona Elfrida. "Meu pai era muito conservador", conta. "Dizia que violino era coisa para homens. Hoje, anos depois, eu vejo que a música é para todos e o Sesc me ajudou nisso."

Todos os cursos realizados pelas unidades do Sesc misturam idades e gostos. Além de desenvolver as habilidades de cada um, oferecerem oportunidades de encontrar pessoas e trocar idéias. Qualquer um pode ser a estrela no palco e nas exposições das mostras de resultados. São dezenas de oficinas disponíveis ao longo de todo o ano. A seção Em Cartaz desta revista traz os dias e horários. Confira no Roteiro.