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Olhar sobre a Mulher
Como é ser mulher hoje? Quais as melhores e piores coisas de pertencer ao sexo feminino? Esses e outros questionamentos fazem parte da pesquisa de opinião pública Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado, realizada pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Sesc, durante o mês de agosto de 2010.
Foram entrevistadas 2.365 mulheres em todo o Brasil, em idades entre 15 e 60 anos ou mais, residentes em 176 municípios de 25 unidades federativas, das regiões norte, nordeste, sudeste, sul e centro-?-oeste. A diversidade do cenário também foi garantida pela cobertura das áreas urbana e rural.
Segunda edição de um estudo empreendido em 2001, ficam patentes ainda hoje questões como a existência de discriminação de gênero. “Levantar e mensurar como se expressa essa discriminação é fazer com que a discussão ocorra”, esclarece o professor de sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) Gustavo Venturi, que esteve à frente de ambos os estudos.
A edição atual traz algumas novidades com relação à de 2001. Uma delas é a participação dos homens no levantamento. A amostragem de entrevistados foi de 1.181, em 104 municípios brasileiros. Excetuando algumas adaptações, os representantes do sexo masculino responderam ao mesmo questionário dirigido às mulheres.
“Nessa última década aumentou muito o reconhecimento da importância de que, para debater a temática de gênero, deve-se conhecer não só as mulheres e seus anseios, mas também entender a posição dos homens nesse contexto”, acrescenta Venturi.
Entre os temas abordados, está a percepção de ser mulher, item em que se discute o machismo e o feminismo na sociedade atual. Além disso, o estudo trata da divisão sexual do trabalho e tempo livre; de corpo, sexualidade e mulher na mídia; de saúde reprodutiva e aborto; de violência doméstica e violência de gênero; e de democracia, mulher e política.
O Sesc participou ativamente da elaboração da pesquisa, que mesclou tópicos retomados do estudo anterior com novos assuntos, e convidou entidades e associações interessadas em debatê-los. “O nosso interesse é institucional, de conhecer a realidade feminina e contribuir por meio da programação, de nossas políticas de recursos humanos e de divulgação”, afirma o gerente do Departamento de Estudos e Pesquisas do Sesc Nacional Mauro Lopez Rego.
Detalhes da pesquisa
Os dados mostram que, de 2001 a 2010, aumentou de 58% para 68% o contingente de brasileiras que acreditam existir mais coisas boas do que ruins em ser mulher. Já os homens, em sua maioria, 68% do total, também consideram que há mais prós do que contras em ser homem.
A capacidade ou possibilidade de concepção está entre as melhores características de ser mulher para 50% das entrevistadas. Já entre as piores estão a subordinação aos homens em decorrência do machismo (19%) e desigualdades de gênero no mercado de trabalho (16%), assim como a violência de gênero, apontada por 14% das mulheres.
De acordo com Venturi, a situação da mulher está melhor agora do que quando foi realizada a primeira pesquisa, embora continue ruim. “A análise geral mostra um quadro difícil para a mulher em termos de dupla jornada, violência conjugal, trabalho”, diz.
O estudo também mensura casos de mulheres que sofreram violência na hora do parto. Foram relatados diferentes tipos de agressões na rede pública de saúde, desde exame de toque doloroso e negativa de alívio para dor, até gritos de profissionais, xingamentos e humilhações. Ainda no campo da concepção, Venturi chama a atenção para o fato de não ter havido avanço na discussão sobre o aborto na última década. Pelo contrário.
“Na verdade, aumentou o conservadorismo com relação a esse assunto. Alguns indicadores mostram que diminuiu o apoio, que já não era grande, para a questão da autonomia da mulher decidir sobre o tema do aborto”, alerta.
Desvendar os anseios femininos
A investigação detalhada levou à conclusão de que a mulher brasileira possui vários perfis. “Ela é múltipla, e essa diversidade é explicada por questões regionais, culturais e socioeconômicas”, explica Venturi. “E desejam maior autonomia social, independência e liberdade, seja no sentido amplo, seja no sentido econômico.”
Os resultados desse diagnóstico revelam que ainda há um longo caminho a trilhar para a plena cidadania desse grupo social. “Esta pesquisa traz uma contribuição para o conhecimento da realidade e para a reflexão sobre como a mulher enxerga sua posição e suas perspectivas de vida na sociedade brasileira”, observa Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo.
Ele complementa dizendo que “é fundamental solidificar os caminhos das políticas públicas com dados abrangentes e, sob a ótica institucional, promover ações socioculturais e educativas que colaborem para integrar a mulher cada vez mais à sociedade e às próprias ações do Sesc”, observa Miranda. “Para o Sesc São Paulo, a mulher é um segmento de público que se busca trazer à participação em atividades socioculturais e esportivas, não só pelos benefícios individuais, mas, sobretudo, pelo potencial transformador que ela pode operar na melhoria da qualidade de vida das pessoas ao seu redor, especialmente em sua família”, conclui o diretor.
Atividades transformadoras
Promover atividades que levam à transformação é uma das diretrizes institucionais do Sesc. Para dar suporte a esse ideal, dentro da Gerência de Programas Socioeducativos (GPSE) do Sesc, há uma área responsável por tratar especialmente do tema da diversidade cultural. “Um dos nossos princípios é o respeito a todas as expressões e a todos os grupos humanos”, conta a técnica da GPSE, Marina Herrero.
Para que isso ocorra, a instituição estimula o convívio social, intergeracional e cultural, buscando atividades com o máximo de interação entre crianças, jovens, idosos, homens e mulheres. Segundo a gerente da GPSE, Maria Alice Oieno de Oliveira Nassif, à medida que se dá a participação na ação cultural proposta, independentemente de gênero, a transformação dos participantes ao final de cada atividade é facilmente percebida. “Nosso intuito é o de provocar o convívio, a autoexperimentação, as vivências”, ressalta a gerente. “Desse modo, os participantes estão instrumentalizados para conviver melhor na sociedade.”